-Melinda
Napoleão foi um grande conquistador, é claro que não o admiro ,pois com o bloqueio continental ele prejudicou a muitos; tivemos de ir para os EUA após isso, no ano de 1814.
Foi deveras desconfortável nossa migração ; o cheiro de peixe podre pairava no ar como uma penumbra invencível, ao longo do deck ,podíamos observar várias famílias algumas até abastadas.
Uma em especial me chamou a atenção, o belo e esbelto filho deles; eu continuei olhando para aquele par de ombros fortes sem sequer piscar, aquela figura parnasiana me enfeitiçou. Outrora era narciso sem narcisismo e então afeiçoou-se a medusa, pois me petrificou.
Logo suspendi o olhar, aquele cavalheiro olhou para mim como se algo tivesse sussurrado em seu ouvido que a moça de vestido azul claro não parava de olha-lo.
Corei, por Deus , ele curvou-se em sinal de cumprimento. Um jovem abastada, curvou-se para mim, uma simples garota sem títulos.
Resolvi dar uma volta pelo navio ,
Seriam duas longas semanas até pisarmos em solo americano .
Se tem algo que pude aprender com minha mãe é que temos que vigiar, ela é uma mulher intelectual, é tutora de moças; ela sempre citava Hobbes , para que eu não esquecesse que o homem é naturalmente mau. Durante minha volta pelo deck , estive tão distraída que mal pude perceber o grande marinheiro que me seguia desde a cabine , atravessei o deck e segui em direção aos corredores.
De repente sou agarrada por trás e arrastada pelos corredores em direção aos tanques de aguá quente; grito como uma desvairada e ninguém estava por perto, aquele enorme marinheiro me joga contra o chão e eu luto tentando me levantar, quando consigo me levantar, sou jogada com tanta força no chão que fico tonta devido a grande pancada em minha cabeça.
Meio delirante eu avisto meu Ulisses; o cavalheiro esbelto de grandes ombros me salva. Ao abrir os olhos, encontro-me em seus braços , ele me olha e sorri.
Foi tudo que consegui fazer também; eu o pedi para jurar que não contaria para ninguém, ele concordou, pedindo apenas um beijo em troca.
Pode parecer algo sem importância, mas eu tinha apenas 15 anos, eu nunca havia beijado; ele curvou sua fronte e tocou delicadamente seus doces lábios nos meus, senti um arrepio por todo meu corpo.
Vivemos essas duas semanas um amor verdadeiro; Henry e eu estávamos felizes, mas era bom demais para ser verdade. Na antepenúltima noite ele pediu que eu me entregasse a ele e colocou sua mão por dentro do meu vestido. Mas uma vez os ricos demonstram sua falta de carácter; o que era amor verdadeiro, virou ódio real , pois ele mesmo destruiu o que seria a lembrança mais bonita da minha vida.
Ao aportarmos nos EUA, ainda vi o sorriso de Henry brilhar 2 vezes para mim, eu Mirei bem aquele belo sorriso; guardando-o na minha memória até que 7 anos depois o veria novamente, finalmente em 1821, na seara dos meus 22 anos de Juventude.