We and Our Ghosts

É assim que eu vivo - 1º Capítulo

"Chega-mos menina Rosie. Tenha um resto de bom dia." Despediu-se o taxista enquanto eu ia saindo do táxi.

Como todos os dias depois da escola, o mesmo taxista, sempre no mesmo táxi, vem-me buscar pois eu não tenho uma vida como todos os adolescentes da minha idade. Tenho um pai que a sua vida é mais passada fora de casa, fora do país, fora da minha vida... Nunca esteve presente numa peça de teatro em que eu interpretava o papel principal, nunca esteve nas horas em que foi declarada finalista, NUNCA vez parte de nada na minha vida. Acho que a única coisa que ele fez mesmo parte foi na hora de me fazer e de me ver nascer porque de resto... Tenho uma mãe que viver com ela em casa ou sem seria a mesma coisa. O tempo dela é praticamente todo ocupado por montes de papéis, telefonemas, e-mails... Como me custa todos os dias passar por esta porta e saber que tudo vai ser igual a todos os dias.

"Olá pestinhas!"

"Cuidado Jonh! Olá mana!" Ele cumprimenta-me em correria.

"Olá maninha! Volta aqui Phil!"

Estes dois, só estes dois para fazerem o ambiente desta casa tornar-se mais alegre, mais normal. Quem me dera a voltar a ter a idade deles. A idade em que não tinha esta preocupação toda, em que vivia a vida sem pensar nas consequências que podiam acontecer. Ao menos nessa altura tinha uns pais mais presentes.

"Olá filha." Ouvi a voz dela vinda da sala que, onde sempre, se encontrava em frente a um ecrã de computador rodeada de montes de papéis.

"Olá..."

"Como correu o teu dia?" Ela continuava a falar para mim sem tirar os olhos daquele maldito ecrã.

"Como todos os dias... Como todos os meses.... Como todos os anos...."

"Ah, que bom então!"

Simplesmente aquela conversa não ia dar a lado nenhum. Eu só queria chegar ao meu quarto, esse é o único sitio onde encontro pessoas que me ouvem de verdade. Subi aquela enorme escadaria que sempre parecia nunca ter um fim próximo, mas quando chego ao topo, parece que num pulo conseguiria descer aquilo tudo. Agora chegou a altura onde vocês irão conhecer cinco pessoas muitos especiais. Vamos entrar? Ah! Mas antes eu tenho que vos dar algo e só dou esta oportunidade a quem eu quero e a quem eu acho que merece terminar com esta ignorância de não conhecer o que vai para além do que nós vemos ... O poder de puder ver o mundo como eu vejo... Pronto. Vamos entrar.

A Christine coloca a sua suave e clara mão sobre a maçaneta e num suave movimento, a porta se destranca e uma ligeira brisa é soprada por entre os seus cabelos.

-Olá rapaziada!

-Chris! Voltas-te finalmente!

Aqui estão elas! Cinco únicas e especiais pessoas que vivem comigo desde os meus quatro anos de idade. Nunca soube de onde elas apareceram ou até quem são, mas também são coisas que não me interessam nem um bocadinho! A única coisa que sei é que desde que elas entraram na minha vida tudo mudou! Começei a ver o mundo de uma outra perspetiva, comecei a aprender coisas que crianças da minha idade nunca souberam e nem nunca vão saber mesmo tendo a idade que têm. E digo-vos que são muitos especiais por isso e porque há uma particularidade nelas: apenas EU as consigo ver! Sim, falei bem. Ver! Para além de ver, também ouvir e sentir, mas isso... Para quem ainda não percebeu, estas cinco pessoas fazem parte aquele tipo de coisas que nós, pessoas comuns, lhes atribui-mos nomes como "espiritos" ou "fantasmas", mas eu gosto mais de lhes atribuir o nomes de "guadiões" porque eu sinto que eles me têm protegido ao longo dos anos. Mas há alguém que não gosta da ideia de eu falar com "coisas que não existem" e eu sei bem quem é...