Cada passo em direcção ao supermercado parece mais cansativo que o anterior; as minhas pernas aparentando encolher significativamente todos os metros caminhados. Oh, doce miséria a minha!
Porque teimo em disponibilizar-me para ajudar a minha mãe nas lidas domésticas? Se tivesse ficado calada e sossegada naquele sofá confortável, saboreando o amargo gosto da solidão, não teria que me sujeitar a tamanhas dores de cabeça.
Ao som dos meus próprios praguejes silenciosos, executo o trajecto até ao edifício comercial mais próximo, passando os olhos pela folha amachucada que seguro na mão vezes sem conta.
Batatas fritas congeladas
Ervilhas
Marisco congelado
Água
Vinho
Óleo de GirassolReviro os olhos ao ver que a lista continua. E continua. E continua. E parece não ter fim. Algo que me faz revirar os olhos, de novo.
Componho a alça da mala castanha, - que já me caia pelo ombro – afastando gentilmente algumas mexas de cabelo que se me atravessam na frente dos olhos, perturbando-me a visão.
Vejo-me forçada a desviar-me inúmeras vezes nas ruas largas para evitar ser atirada ao chão sem dó nem piedade; os empresários intimidadores e mulheres ocupadas mostrando-se demasiado importantes para alterar um único milímetro no seu trajecto.
Perdida dentro da própria cabeça, exausta pela abundância de pensamentos, dou por mim a ser acolhida pelas portas automáticas do primeiro supermercado que avistara, logo o ar fresco alojado no seu interior aliviando a agonia que o calor me causava.
Bem, bem, bem! Por onde começar?
Caminho de cabeça baixa até à secção dos congelados, desejando quietamente não me deparar com uma multidão sufocante de adultos stressados, correndo para aqui e para acolá no intuito de chegar a casa a tempo do jantar.
- Onde é que estão as malditas batatas fritas? - interrogo aos céus, já arreliada perante a procura inútil do pacote avermelhado. - Oh, vá lá! Não tenho o dia todo! - refilo, exasperada.
- Precisa de ajuda, Miss? - vejo-me forçada a concluir (ou, pelo menos, pausar indefinidamente) as reclamações aborrecidas quando uma voz masculina soa por detrás de mim, assustando-me.
- Por amor de Deus! Não faça isso! - suplico, pousando uma mão no peito e suspirando sobressaltada.
- Peço desculpa. Não tencionava perturbá-la. - defende-se o rapaz.
E, finalmente, segundos depois dos repreendimentos oferecidos ao moreno de caracóis, dou por mim examinando-o pormenorizadamente, lutando comigo mesma na intenção de conter a análise intensa, mas terminando rendida à beleza invulgar.
- Precisa de ajuda? - repete, nitidamente divertido com toda a situação.
Transmitir uma impressão positiva no primeiro contacto é sempre importante, Floral. Sempre!
- Ah, é só que…mm… - Compõe-te, o meu subconsciente grita. - Não estou a conseguir encontrar as batatas fritas congeladas. - retruco, envergonhada.
- Oh. - profere simplesmente, seguidamente estendendo os braços por cima da minha cabeça, em direcção à penúltima prateleira, e puxando desta uma embalagem plastificada, que assumo como sendo o que estive à procura nos últimos cinco minutos.
- Oh. - é a minha vez de dizer. - Obrigado. - agradeço, pegando o pacote.
- Pode olhar-me nos olhos. Sabe disso, certo? Não sou a Medusa. - e, com tais provocações, encontro-me obrigada a erguer o queixo.
Oh, meu Deus! É sequer possível ter-se olhos assim tão ávidos e...verdes?
- Ah, desculpe. - limito-me a murmurar, notando um sorriso discreto curvar os lábios delicados do rapaz. - E obrigado. - acrescento, atrapalhada.
- De nada. - assente, girando nos calcanhares e desaparecendo no longo corredor.
Liberto um suspiro que não sabia estar a segurar quando dou por mim sozinha, sentido as bochechas aquecer em embaraço pelo sucedido.
Nunca mais o vais ver na vida, Floral! Tento tranquilizar-me, calmamente. Com muita pena, no entanto. Era giro…
Percebo que estou a gargalhar abafadamente quando a observação de uma idosa nos vegetais cai sobre mim, olhando-me como se tivesse perdido toda a sanidade mental. E, mais uma vez, deparo-me com as maçãs do rosto tão vermelhas quanto os tomates expostos nas bancas atrás de mim. Só que, desta vez, estou demasiado afundada nuns olhos verdes que jamais poderei reaver para me importar.
***
- Mãe? - grito ao atravessar a porta principal, retirando o casaco e pendurando-o no bengaleiro escuro, junto à entrada. “Cheguei!” Informo, no mesmo tom.
- Estou na cozinha. - a senhora declara, espreitando por entre a frecha da porta encostada e sorrindo-me abertamente. - Encontraste tudo? - interroga, voltando a concentrar-se na confecção do jantar.
- Yap. - replico apenas, tombando-me numa das cadeiras altas, pousando a cabeça nas mãos e observando Marie atentamente.
- Muito bem. Obrigado, Flora. - fala, sorrindo. - Agora, vai vestir algo bonito, pois os convidados do pai chegarão não tarda nada. - por muito que tente conter-me, não consigo evitar revirar os olhos, bufando impaciente perante a ordem da minha mãe.
- Outra vez convidados do pai? Mas esse homem não se cansa? - refilo, arreliada.
- Floral! Olha a linguagem! - repreende, largando a faca que usava para cortar as batatas para me fixar ameaçadoramente. - Quer queiras quer não, ele é teu pai e terás que lhe obedecer!
- Oh, por favor! Como se ele desse uma merda por nós! - riposto, exaltada.
- Floral, não te aviso mais vez nenhum. - múrmura, cerrando os olhos em exaustão. - Vai-te arranjar. - comanda. - Já!
E, mesmo contrariada, sou obrigada a sumir da divisão em direcção ao meu quarto, preparando-me para mais um jantar patético. Afinal, sou apenas uma marioneta na gigante máquina que é a família Angel. A estupidamente feliz família Angel.
-
oLÁ
tá d+ uma nova história
então basicamente vou explicar a essência disto tudo
eu (@HarryDontLickAnythin aka Alaska) escrevi este primeiro capítulo
e a maravilhosa @Vans_and_Fans escreverá o seguinte
e assim sucessivamente tão a entender
ok
ya é isso
espero que gostem
i love you, dear Canadiana!
- alaska xx
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Floral ➸ h.s.
FanfictionNo intuito de fugir, surgiu uma razão para permanecer. [ © Copyright - All Rights Reserved]