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Inicio a minha evidente apresentação colocando a minha venerada base que por vezes juro fazer-me milagres, avançando com um rímel de clássico preto e dando um tom avermelhado aos meus finos lábios, terminando com aceleradas escovadelas aos meus cabelos longos e castanhos.

- Mais que isto não faço. – murmuro para o espelho como se alguém permanece-se do outro lado, admirando-me atentamente a cada mínimo movimento cometido, tentando evitar ao máximo os gritos ofensivos que suplicam para abandonar a minha boca ao preparar-me mentalmente para este cenário que chamam de ''jantar''.

- Floral, por favor diz-me que não vais levar isso! – as primeiras palavras que a minha mãe profere ao invadir o meu quarto expressam o seu ódio contra as Vans que ainda nem terminei de calçar e que eu pensava combinarem perfeitamente com o vestido cinzento que visto.

-O que queres que leve, então?! – questiono para o seu agrado.

- Tudo menos sapatilhas! – e sem me oferecer as explicações que ambiciono adquirir em relação à sua ponderação com este jantar, deixa-me a disputar com o único par de sapatos que contenho.

Ok, Floral, é só um jantar. Tu consegues. Dito mentalmente o tão esgotado discurso que repito sempre antes de descer as gloriosas escadas e participar em mais um, relembrando-me que este poderá ser o último, que deixa o meu sorriso ser parcialmente mais verídico.

Finalmente, avisto os homens de meia-idade vestidos rigorosamente com os seus tradicionais fatos a preto e branco, cumprimentando-se com um habitual aperto de mão, como se não se conhecessem há anos, levando-me a um estado irritado fazendo-me quebrar a promessa de que ele não iria surgir hoje.   

- Floral! Há tanto tempo! – o senhor Collins repete. Sim, sim. Viste-me o último mês, por amor de Deus. Deixa-te disso! Não me vejo incapaz de escusar os duros pensamentos cobridos por uma gargalhada.

- Floral, onde pensas que vais?- o meu pai reclama, vendo-me a aproximar-me da cozinha, numa tentativa de ajudar as estressadas mãos da minha querida mãe. – vai já para a mesa!

Respondo à sua revolta com um revirar de olhos, mesmo sabendo o quanto eles o odeia, e vejo-me contida ao ato de seguir as suas palavras, aguentando com os olhares ousados o suficiente para admirar a minha cara sem humor ao engolir as batatas assadas.

Uma reconhecível e irritante música entremete-se pelas conversas que os homens continuam, fazendo-nos atentar à cara constrangida que o meu pai absorveu, oferecendo-me pensamentos de gozo.

- Harry – uau, segundo assistente em três meses; recorde! – por favor, atende o telefonema por mim. – e ao este retirar-se educadamente, choquei pela segunda vez contra os olhos do jovem que me ajudou no supermercado, serem necessárias apenas estas para já os adorar.

Finalizei em duas garfadas o saboroso bolo, apenas para seguir os cabelos ondulados do rapaz que eu tanto admirava. Numa saída apressada, repeti os seus passos até ao que me parecia ser a cozinha, ainda o vendo com a bandeja na mão. Esta foi pousada no balcão, porém, ele desapareceu do meu campo de vista.

- Olá. – uma voz sussurra ameaçadoramente na minha orelha, fazendo-me aceitar por meros segundos que a minha vida terminaria agora; contudo, salto e grito como uma maluca na mesma.

- Queres-me matar de susto?! – quase que grito, sentindo-me insultada pelas gargalhadas do moreno que aparentam não ter fim. – não estou a ver a piada! – falo em ironia, deliciando-me com o único adorável som nesta divisão.

- Assustas-te demasiado facilmente. – fornece-me informação como se fosse alguma vez pedida, e reconheço que se viesse de outros olhares, irritar-me-ia até aos órgãos mais escondidos.

- Não me tentes assustar, então! – tento camuflar o sorriso que se quer revelar, moldando discretamente o vestido ao meu corpo, numa tentativa estúpida de parecer melhor em frente do rapaz. Mas que pessoa é esta?!

- Nem estava a tentar! – convida-me indiretamente a uma curta sessão de gargalhadas que nem tento recusar – sou o Harry.

- Floral. – aperto a sua mão, não questionando o seu gesto.

- Mas vens de uma floresta ou…? – ele tenta esquivar-se da palmada que lhe dou no braço, fazendo-nos rir como amigos de data prolongada.

- Não digas isso! – movimento-me até ao frigorifico, causando cada um de nós ficar debruçado nos lados opostos do balcão de madeira – mas, olha lá, tu não és o rapaz que me ajudou no supermercado?

- Sou, sim senhora. – responde com um sorriso orgulhoso, deixando o silêncio cair sobre nós.

- Harry… - o meu pai avassala a divisão, argumentando visualmente as nossas posições – está na hora de ir embora.

- Sim, já vou. – responde educadamente e após a companhia do meu pai se cessar, aproxima-se de mim. – vejo-te por aí, Floral. – abandona-me com um sorriso malicioso, e tentada nele, deixei-me ficar no silêncio, encantada pelos seus olhares.

- Gostaste do jantar, querida? – a minha mãe questiona, enquanto juntas lavamos os pratos restantes.

- Sim, por acaso, até nem desprezei este completamente!

- Floral Angel! – ouço os saltos irritados que o meu pai causa a descer as escadas; a minha mãe olhando-me preocupada. – porque estavas a falar com o meu assistente?

- Isso é uma pergunta que se faça?! Que raio, pai?! – surpreendida pela sua estupidez, subi para o meu quarto, escapando de mais palavras desnecessárias a alimentar o meu ódio por si.

Livrei-me daquele odioso vestido, trocando-o pelo meu confortável fato de treino e enfiei-me debaixo do lençol, esperando impacientemente para que o meu portátil ligue.  

Uma vez este ligado, retornei à rotina da qual não tenho desistido, procurando desesperadamente por voos que eu consiga pagar, levando-me de volta ao lugar onde pertenço: Greenwood.

Odeio Nova Iorque. Sim, odeio Nova Iorque. É tão atarefado, não há sossego. E eu gosto de sossego. Sossego é uma das fundamentais causas por querer voltar para Greenwood, as outras sendo escapar do inferno que esta casa é, e, retornar aos braços dos meus amigos que a cada dia que cessa, sinto mais a sua falta, mesmo apesar das conversas sem fim.

Voo para Greenwood, 28/08/2014, 185$.

Perfeito! Só mais três semanas neste inferno, e olá Greenwood, estou de volta!

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Bem, olá olá! Daqui fala a Canadianazinha aka @Vans_and_Fans

Espero que estejam a perceber a constituição dos capítulos que eu e a Alaskazinha porca escolhemos; mas basicamente, ela escreve um capítulo, e eu o seguinte, e assim sucessivamente.

Espero que estejam a gostar da história até agora, mesmo que este seja o 2º capítulo, maaaaaaaas... amor aos primeiros capítulos! Tipo amor à primeira vista.

Ok Parei

FONIX que nota de autora tão grande

Juro que vão diminuir a partir de agora

Love you, dear Alaska!

- Canadiana xx

Floral ➸ h.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora