Quem de nós sonhou?

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Capítulo treze


Jaebum ajustou o foco da câmera secretamente desejando que o garoto a sua frente não se movesse. Os cliques abafados soaram lentamente, um após o outro, capturando uma das cenas mais bonitas que um fotógrafo como o Im poderia ter. Com os olhos fechados, serenamente ressonando como se dormisse em uma das melhores camas do mundo, Youngjae parecia ainda mais angelical do que os olhos inocentes demonstravam — mesmo que o Im desacreditasse dessa inocência. Os fios negros caíam suavemente sobre a pele leitosa, a penumbra formada por eles marcando quase que serenamente a extensão clara. Os lábios naturalmente avermelhados estavam entreabertos, um sopro fraco saía sobre eles de tempos em tempos, o peito coberto pelo moletom grande subia e descia de forma ritmada. As bochechas impressionantemente ainda mantinham o tom avermelhado de mais cedo, apenas um pouco menos acentuado do que antes. Jaebum ainda tinha dúvidas sobre os comportamentos repentinos de Youngjae, mas não iria atrapalhar o sono dele para perguntar nada — não enquanto estava conseguindo fotos tão bonitas e puras.

O Im ainda não entendia muito bem o que era Youngjae e porque ele era assim, mas se apegava sutilmente porque não conseguia deixar de perceber o quão parecido o mais novo era consigo. Desde os próprios demônios silenciosos até a estranha obsessão pelo silêncio e tranquilidade, ambos possuíam características únicas que acabaram por se moldar em situações diferentes e formar algo novo que compartilhavam secretamente. Youngjae obviamente ainda era diferente de Jaebum em alguns pontos, mas certamente compreendia que havia algo entre os dois, uma conexão estranhamente agradável, que os unia de forma sutil. E ambos acabam por gostar dela, mesmo que sem dizer isso em voz alta, porque as almas solitárias precisavam disso de dias em dias. Jaebum nunca fora exatamente a pessoa mais comunicativa do mundo, repudiava a ideia de ter que começar um diálogo por ter um jeito esquisito de conversar, entretanto quando o mais novo era o receptor de suas palavras tudo parecia ser muito mais fácil. Como se fosse Youngjae fosse uma melodia serena apenas esperando pelas letras significantes que eram Jaebum.

Finalizou as fotos em silêncio, guardando a câmera em sua carteira e aproximando uma das mesas da sala da de Youngjae, deitando-se sobre ela e observando a serenidade e calma do garoto. Mal percebeu quando fechou os próprios olhos, se embriagando no cheiro adocicado do Choi, adormecendo lentamente conforme o vento frio entrava pela janela aberta da sala. O perfume do mais novo se misturando com o cheiro úmido de terra molhada, o som das árvores escuras balançando, a tranquilidade com que a neblina cobria as montanhas e vegetação. O tímido cantarolar dos pássaros somados ao gracioso som de vozes ao fundo, conversando calmamente sobre o clima gostoso. Jaebum se aprofundou em todos os sentidos, relaxando completamente sobre a mesa e sem intenção alguma se aproximando mais ainda de Youngjae, misturando seus próprios fios negros aos dele, as respirações calmas se misturando conforme os segundos passavam. Ambos dormiam, ressonavam angelicalmente. Mark entrou segundos depois, observando a cena com um sorriso fraco no rosto.

O americano pegou a própria câmera de Jaebum — que ainda estava sobre a mesa deste — e fotografou ambos algumas vezes de forma despreocupada, como se quisesse manter a essência caseira em cada foto que tirava. Quando terminou tudo, voltou a câmera ao seu lugar, aproximando-se da janela aberta e observando como a paisagem natural e sem filtros parecia modificar todos os presentes. Até mesmo o estrangeiro, que estava nervoso por conta de seu passado, conseguiu respirar fundo ao ver a neblina cruzando a imensidão verde e gélida. E ao observar melhor todos os detalhes, de dentro da sala de aula para fora, o Tuan não pode deixar de se sentir solitário. Sentia falta de Yugyeom, mas talvez fosse só inveja da relação calma e aconchegante que Jaebum e Youngjae estavam formando sutilmente enquanto adormeciam lado a lado.

Absorto em vocêWhere stories live. Discover now