Postale

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Em uma hora, há 60 minutos.

Em um dia, há 24 horas, o que equivale a 1.440 minutos por dia.

Em um mês, há cerca de 30 dias, o que equivale a 720 horas por mês e 43.200 minutos por mês.

Se fossem levadas em conta todas as variáveis e todas as horas que passam voando quando se maratona uma série e te fazem esquecer-se dos efeitos relativos do Tempo durante seu dia, isso significaria que Pidge esperaria mais ou menos sessenta dias, ou mil quatrocentos e quarenta horas, ou oitenta e seis mil e quatrocentos minutos até que recebesse o resultado de sua prova de admissão na Garrison.

Normalmente, agiria de acordo com a forma que foi programado pela Força Maior que se chamava Vida e já teria ataques de pânico com boa antecedência. No entanto, não era sua situação naquele momento.

Na verdade, por mais improvável que parecesse, havia levado seus dias e minutos e segundos tão tranquilamente que mal apercebera-se do quão próximo estava da data até ela chegar.

E o que, afinal, o tranquilizara tanto ao ponto de mantê-lo longe de sua paranoia durante dois meses inteiros?

A resposta tinha quatro letras e quase cem quilos de puro carinho: Hunk.

O mais velho havia sido seu tutor designado no dia em que fizera a prova, mas mantiveram contato após o evento e terminaram por desenvolver uma relação tão próxima que Pidge podia até categorizá-lo como um bom amigo.

Hunk checava seu estado diariamente, perguntava como estava, como ia a vida, se já havia conseguido desenvolver por completo o Malware auto destrutivo que estava em processo desde o começo do ano.

Ao contrário da forma que agia e brincava com situações sérias, que o faziam parecer não querer nada com uma vida profissional, Hunk era muito inteligente. Não, ele era absurdamente inteligente. Pidge por vezes se via surpreso com sua rapidez em resolver algorítimos que para ele mesmo pareciam ser impossíveis de decifrar – e o trunfo da idade não poderia ser usado nessa situação, uma vez que Pidge não era apenas um auto-proclamado gênio mirim, como também havia sido provado pela psicologia que tinha um raciocínio anormalmente veloz para sua faixa etária.

Hunk e Pidge combinavam mais do que era aparente aos olhos. Sua conexão talvez não tenha sido imediata, mas com certeza foi profunda: mais do que parceiros de trabalho, tornaram-se logo colegas, amigos e confidentes.

Além de que Hunk mostrara-se um excelente companheiro de RPG.

O ruivo encontrava-se justamente trocando mensagens com o mais velho quando ouviu a campainha tocar, e chamou pela mãe, não vendo necessidade de se levantar do sofá ou sequer erguer os olhos do aparelho em suas mãos para ver o que havia.

-Mãe! -chamou, ao que a campainha voltou a tocar, insistente- Tem alguém na porta!

-Aya! -surgiu a mãe da porta da cozinha, a vassoura na mão direita e a outra na cintura, o sotaque italiano forte em sua interjeição- Por que não se levanta um pouco desse sofá e atende você mesma? Deve ser il postino, com a carta de admissão que você esperava tanto até um tempo atrás.

O coração de Pidge Holt de repente disparou.

Deixou o celular de lado e levantou-se em um pulo do sofá, ajeitando os óculos redondos no rosto e atrapalhando-se para calçar os chinelos, internamente arrependendo-se de não ter se vestido um pouco melhor naquela manhã.

Puxou o ferrolho e destrancou a porta, abrindo uma fresta antes mesmo de checar o rosto do visitante pelo olho-mágico.

O carteiro lhe recebeu com um sorriso morno, estendendo uma lista de entrega com espaços em branco e um envelope escrito em letras de máquina douradas.

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