Intimidade e intimação

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Ficaram sentados durante horas.

A conversa se estendeu tarde adentro e lá pelas tantas, Lance decidiu que não aguentava mais ficar parado.

Se ergueu em um pulo, consequentemente dando fim aos toques discretos e carinhosos que trocavam apenas com as mãos, roçando dedos e palmas e eventualmente trocando carinhos, que eram disfarçados com rubor e desconversa. Keith ficou um pouco decepcionado, mas, se apoiando na rocha, se levantou também, curioso para saber aonde iriam.

Lance aspirou fundo o ar salgado e olhou em volta, com ar de explorador. Keith deixou tombar a cabeça para o lado, esperando uma conclusão.

O pedrgulho em que se apoiavam subia em uma encosta coberta de areia e grama, se parecia com que a que haviam visitado da última vez, mas bem mais baixa. Se estendia mar adentro e impedia que as ondas naquela região quebrassem com muita força na praia. Era como uma "piscina" natural daquela área.

-Por que não subimos a pedra? -Lance apontou- Tá vendo? É plano, dá pra ficar lá em cima.

Encolhendo os ombros, o coreano acatou. Começaram a escalar, primeiro a passos largos, e depois as pedras ficavam um pouco mais íngremes e escorregadias e era preciso apoiar-se com as mãos. Intimamente, Keith admitiria para si mesmo que tinha medo de escorregar e cair. Mas, por fora, se confortava com a presença de Lance, que percebia seu esforço e oferecia a mão como suporte.

Ao alcançarem a parte plana, deram alguns passos mais próximos do mar, aproveitando a areia que não os permitia escorregar e cair diretamente entre as pedras.

Em ponto nenhum a conversa parou – parecia impossível ficarem sem assunto. Trocavam tanto do mesmo que Keith já nem se lembrava mais qual fora o primeiro tópico da discussão.

-...Então, astronomia, huh? -perguntou, disfarçando a respiração descompassada pelo esforço da subida. Agradeceu aos céus quando Lance o chamou com um gesto para que se sentassem juntos, um pouco antes do ponto onde as ondas quebravam.

-Pois é -tinha um sorriso no rosto, adorava falar sobre seus interesses. E Keith adorava ouvir- Estrelas, buracos-negros, quântica, relatividade...eu amo tudo sobre o espaço. Toda a ciência chata e até os números complexos.

Lance riu e Keith lhe devolveu um sorriso. Jamais se cansaria do tinido daquela risada.

-E a vastidão toda não...sabe...te assusta?

-Não mesmo! -abraçou os joelhos, apoiando a cabeça neles, o rosto virado para Keith- Pode ter certeza...a única coisa que eu odeio sobre o espaço é esse entre a minha boca e a sua.

Deu uma piscadela, com um sorriso charmoso brincando nos lábios.

Keith corou até a raíz dos cabelos. Sem ter ideia de como responder de uma forma que não fosse "Meu Deus me possua neste momento" ou uma que mandasse a linguagem para o diabo que o carregue e causasse um tragédia com Keith simplesmente puxando Lance pela gola da camisa, acertou um soco em seu ombro. Um golpe certeiro, e, devido ao embaraço, talvez até forte demais.

Lance se limitou a rir alto, perdendo um pouco do equilíbrio e saindo de sua posição de casulo, agarrando o local atingido com sabor de brincadeira na voz.

-Tudo bem, tudo bem! Nada de flertes, entendi.

Keith nem sequer ouviu. Desviou o olhar, as orelhas queimando, fazendo o possível para puxar a franja comprida para que cobrisse o rosto. Mastigava o lábio inferior e sentia gosto de sangue, certeza que o nervosismo lhe fizera arrancar a pele sensível.

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