Fuga, Fim da Linha

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  Capítulo III

Fuga, fim da linha

O moto-bonde estava prestes a chegar ao seu destino. O único passageiro, ex-inspetor Ellio Bath passara noites em claro, ou com muitos pesadelos. A terrível imagem dos corpos dilacerados no chão era perturbadora.

Na mesma semana do ocorrido, Bath renunciara de seu cargo de inspetor. Foi seu último caso, logo ele que tinha a fé de que iria conseguir alcançar o final do caso. Ele que era destemido, analista, entrou fundo nas investigações, sabia que havia alguma inteligência que envolvia os ceifadores. Quem sabe se Bath continuasse como inspetor, tivesse descoberto coisas maiores, coisas que ninguém imaginava. O fazendeiro desaparecido, o livro de criptografias encontrado no rancho... Estava coletando pistas mais concretas dessa vez.

Contudo não iria mais chegar ao final daquele caso. O ocorrido no rancho mexeu com suas ideias. Ele não estava em condições de ouvir a palavra "ceifador" novamente. Os pesadelos lhe perturbavam de uma forma inacreditável. Sair do cargo não era só o que ele achava que devia fazer. Sair da cidade era o seu plano. Aqueles perigos mencionados sobre os ceifadores nos paredões simplesmente sumiram da sua cabeça. Estava planejando aquilo há duas semanas. Debruçado na janela do bonde ele levava uma mochila com o necessário para a fuga. Alguns mantimentos como salsichas em lata, biscoitos salgados e chocolates. Se iria sair da cidade não adiantaria de nada levar dinheiro, pois com certeza a sua moeda não seria aceita fora de Khanfar. Levou então alguns objetos de ouro que tinha, provavelmente poderia trocá-los em outra cidade por dinheiro local. Bath também estava levando seus instrumentos ilegais de fuga: Gadanhas Cliff. Dentro daquelas duas semanas Bath procurara especialistas de escalada clandestinos. Após os ataques ceifadores, a polícia teve que proibir práticas de escalada na cidade. Assim ninguém mais tentaria fugir. Os técnicos clandestinos ainda conseguiam um bom dinheiro instruindo escalada para aqueles que queriam fugir a todo custo.

Fora os cinco mil Hancios pelo curso, Bath pagou mais dois mil por cada Gadanha Cliff. Eram duas, uma para cada braço. Sua estrutura era parecida com uma arma CharpaTaurus. Eram anéis grandes onde o escalador passava seus antebraços e segurava um punho vertical resistente. Na ponta, ao invés de um cano por onde saíam tiros, havia uma ponta afiada de titânio que perfurava e se prendia nas pedras para auxiliar a escalada. As Gadanhas Cliff pareciam duas foices pequenas acopladas aos braços do escalador.

Estes materiais eram proibidos na cidade, por isso cuidou de embrulhá-las bem e escondê-las em um compartimento secreto na mochila.

-"Estamos quase chegando na estação Leste, tudo bem senhor?"- Avisou o motorista do moto-bonde.

-"Ok, obrigado..."-

Bath ia para o leste. De acordo com os livros de geomorfologia, o paredão de menor altura de toda Khanfar ficava ali. Era a GoyenBohs. Um paredão predominantemente rochoso, e com muita vegetação. Estava realmente disposto a atravessar todos aqueles duzentos e cinquenta metros de altura para escapar das ameaças que afligiam a cidade. Durante a viagem para leste Bath se lembrava de todas as teorias que ouvira sobre o lado de fora da cratera. Haveria um grande deserto, haveria mais ceifadores, haveria uma civilização futurista, haveria o inferno? Bom, Bath não se importava, havia conhecido o inferno á duas semanas atrás.

Eram quatro horas da tarde, o eclipse ainda estava alto no céu, e bem visível. Ellio lembrou-se de outra coisa. Os cientistas afirmavam que as sombras do período de véu aconteciam naquela frequência só dentro de Khanfar, então se saísse dali, talvez visse o sol por mais tempo. Bath não se importava muito com o véu, mas preferia muito mais dias claros. Até porque todos os ataques ceifadores aconteciam durante os prolongados eclipses e isso lhe fez sentir um pouco de aversão ao véu.

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