A Ameaça Retorna

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     Capítulo I

A ameaça retorna

Já eram quatro dias desde o início do véu. Como de praxe o número de transeuntes na cidade havia diminuído, não havia o que comprar, nem o que vender, os khanfarianos pegaram o costume de estocar alimentos nessa época. Sem a luz do sol era muito difícil conseguir verduras ou grãos nas vendas.

Apenas um lugar continuava igual, a orla oeste de Khanfar. Além da sombra lunar, o lugar vivia sob a sombra da grande rocha Lados. Era um escuro interminável. Acontece que o escuro não causava medo em ninguém ali.

Os poucos moradores da orla oeste não tinham tido sequer notícias sobre o ataque de ceifadores. As gráficas se concentravam no centro, e os jornaleiros ambulantes circulavam apenas pelas vilas. Por conseguinte, os locais mais inóspitos ficavam completamente desinformados do que acontecia ao redor.

Era madrugada de terça feira, mas era difícil saber o horário aproximado sem olhar um relógio, afinal, o céu era igual seja noite ou dia. Sendo nublado fica mais difícil ainda distinguir. Mas no momento era realmente noite, uma brisa estranha chacoalhava a copa das árvores. Era uma brisa fria que assobiava por dentre as matas densas. Aquelas árvores... era possível notar algum vulto ou outro passando, apesar do escuro infernal, os moradores tinham olhos bem regulados.

Aquelas árvores retorcendo com o vento... Eram árvores adaptadas, conseguiam viver com pouquíssima luz por muito tempo. Formavam conjuntos de matas altas, principalmente ali no oeste. Nathan o velho fazendeiro, olhava para elas com mais atenção, nunca ouvira tantos ruídos ali. Como se uma dúzia de bois tivesse escapado (duvidava que existisse uma dúzia de bois na área.)

Não exatamente velho, mas experiente. Olhar sábio e sério. Nathan tinha quarenta e dois anos cabelos pretos, algumas marcas de expressão e uma barbicha que lhe dava mais alguns anos aparentes. Vivia há muito tempo na orla oeste cultivando duas vacas algumas galinhas e carneiros. As vacas lhe davam leite, as galinhas lhe davam ovos e os carneiros lhe davam carne. Tudo para subsistência ali. A sebe do seu rancho era branca e comprida. Branca em parte, pois era gasta com o tempo. Uma das vacas dormia e a outra ainda analisava o pasto. Na janela do casebre Nathan estava há algumas horas sem sono, sentado na cadeira ao contrário, apoiando o queixo e braços no encosto. O seu olhar estava paralisado naquelas árvores distantes. Tentava encontrar aquele vulto passando novamente, assim como uma criança olha para o céu esperando uma estrela cadente passar. Ficava cada minuto mais paranoico. Esfregou os olhos por um momento, pois a brisa havia secado sua vista sem que ele percebesse. Eram as mesmas árvores com a copa balançante, não havia vulto nenhum por um bom tempo. Deveria esquecer tudo e tentar dormir novamente, ou passaria a madrugada admirando um grande nada? Preferiu achar que não era nada, poderia deitar agora e acordar no outro dia com o céu ainda preto. Foi o que fez.

Nathan Brent se esforçava para fechar os olhos de uma vez apoiado no travesseiro de palha, mas não conseguia. A imagem do vulto imenso se arrastando pelo fundo da mata e mirando seus olhos brilhantes para ele... Não saía da mente. Virou para todos os lados que existiam na cama, mas não iria conseguir. Voltou para a mesma janela que cuidara de trancar antes, e abriu. A mesma cena. Imaginou que o tal bicho (se fosse um animal) estaria preparado para atacar suas galinhas ou algo assim. Apesar da decadência em que vivia, Nathan tinha muito apego aos bens materiais.

Acendeu o candeeiro, vestiu seus trapos que usava antes do pijama e por fim, um chapéu que ainda mantinha em bom estado. Achou que estava pronto para sair mas esqueceu sua precaução.Foi até uma das gavetas da cômoda e retirou uma pistola. Não... Não seria necessário. Cá entre nós Nathan achou que estivesse indo longe demais com essa ideia. Guardou a arma novamente e levou apenas uma foice.

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