No Momento Errado, No Lugar Errado

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 Capítulo VII

No momento errado, no lugar errado

-"Está melhor hoje?"- Perguntava Elois com a mão nas costas de Judie Lester

-"Na medida do possível..."-

Elois passara uma noite bem triste lembrando-se de Judie, a garota que perdera o seu pai para um ceifador. Ou melhor... Não sabiam ainda qual seria o estado e o paradeiro do pai. Mesmo assim Judie chegara no outro dia com a cara mais fechada que Elois já havia presenciado. Ela foi a primeira a correr para a carteira da garota loira e perguntar sobre seu ânimo.

-"Quer conversar no intervalo?"-

-"Pode ser..."- Respondia a menina de uma forma levemente fria.

Elois não teve escolha senão voltar para sua cadeira no meio da sala e esperar para conversar melhor com a garota. Pelo menos ela não tinha perdido sua amiga. Após muito refletir, percebeu que ainda queria ter alguém para conversar. Se bem que, com Judie o clima não estava muito bom, mas era sua única escolha. Já estava falando com mais tranquilidade, sem timidez, isso era bom, porém estranho...

Era hora da aula de estudo econômico. O professor Octavio entrava pontualmente pela porta e demonstrava sua insatisfação ao notar que não tinham chegado todos os alunos. Conforme os atrasados entravam ele retirava décimos da pontuação qualitativa, era um professor bem rigoroso. Contudo, Elois gostava de sua matéria, era muito boa com cálculos, e via bastante seus pais checarem o rendimento da colheita quando era criança.

Finalmente hora do intervalo, o sinal toca. Judie estava sentada sozinha em uma mesa do pátio comendo um sanduíche que trouxera de casa. Estranhamente, ao se aproximar, a vergonha bateu em Elois, mas agora já não podia voltar atrás:

-"P-posso sentar aqui?"-

-"Claro."-

Elois se sentou a um palmo da garota e não sabia como puxar assunto. Começou a estalar os dedos debaixo da mesa.

-"A polícia é uma inútil"- sussurrou Judie. -"Não deram nenhuma satisfação para nossa família, só disseram que ele pode estar vivo ou morto. Só isso!"-

-"A polícia anda enfrentando muitos casos ultimamente, né?"-

-"Eu não me importo! É obrigação deles encontrarem meu pai, onde quer que ele esteja."-

-"Se acalma... Olha, quanto mais pessoas forem capturadas, mais pistas haverão, e descobriremos para onde essas aves estão levando toso mundo."-

-"Sim, mas até lá... Meu já vai ter se transformado em fezes de ceifador, e ter seus restos em decomposição."-

-"Deuses! Não diga isso."-

-"É só no que eu acredito cada vez mais"-

Elois ficou sem reação pela tristeza da garota. Resolveu outra técnica, iria esperar um tempo e mudar de assunto para remover a tensão do momento.

-"Você não conseguiu me ensinar a ver o horário do eclipse ontem..."- Falou ela rindo.

-"Verdade, desculpa, aconteceu tanta coisa que..."-

-"Não, não se desculpe, tudo bem."-

Judie olhou para cima e observou o eclipse. O pátio tinha uma parte á céu aberto, logo a frente ficava o prédio da escola, nas laterais, grandes muros com algumas árvores surgindo de trás.

-"Vamos lá, vou te mostrar como funciona."- Era o primeiro sorriso esboçado pela menina no dia inteiro, por isso Elois resolveu não interromper.

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