Fascínio por Ceifadores

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Capítulo IV

Fascínio por ceifadores

-"Boa tarde professor, posso interromper sua aula para anunciar algo aos seus alunos?"-

O professor de álgebra visivelmente não queria cortar sua linha de raciocínio na explicação, mas logo permitiu a entrada do sujeito percebendo seu distintivo de policial.

-"Sim policial, á vontade. Alunos, levantem-se!"-

Todos os alunos do 13° ano se levantaram para demonstrar respeito à autoridade que adentrava aquela sala. Só costumavam fazer isso para o diretor.

Aquele que entrava tinha cabelos bem pretos e escorridos para trás com gel, tinha pele clara, olhar sério, nariz longo e fino, vestia um sobretudo marrom que ia até o joelho, camisa abotoada até o pescoço uma bolsa grande pendurada no ombro esquerdo e um par de sapatos lustrados. Na verdade o que tomou a atenção dos alunos, já levantados, foi o distintivo pendurado no pescoço por uma pequena corrente. Era dourado e muito brilhante. Chegava a doer os olhos.

Ainda atravessando a fileira de cadeiras até chegar ao palanque, o policial cumprimentou:

-"Olá alunos, já podem se sentar, obrigado."-

Depois de subir no palanque onde estava o professor, e o quadro negro cheio de equações, o homem alto se apresentou:

-"Sou o detetive Hannie, superior de investigação da 12ª delegacia da zona central. Vim falar sobre um assunto que já deve estar correndo por toda a cidade, e provavelmente vocês sabem do que se trata"-

Sim os alunos tinham quase certeza do que seria tratado ali. Entreolhavam-se uns com os outros para tentar confirmar.

-"Bem... Já começo lhes contando um fato que não gostaria de contar."- Ele retirou um grande papel enrolado de sua bolsa apoiada na mesa. –"Este é o corpo do ex-inspetor Ellio Bath."-

Os alunos se agitaram ao ver a foto impressa no grande papel. A imagem mostrava o ex-inspetor espatifado entre algumas pedras, já em estado de decomposição. Poucos conseguiram de fato olhar diretamente para a foto.

-"Ele foi encontrado na semana passada por um grupo de trabalhadores do campo que chamaram a polícia. Após uma longa análise confirmamos que o homem havia sido atirado do alto do paredão GoyenBohs por um ceifador."-

A turma se agitou mais ainda. O professor, também assombrado com a foto, teve que exigir que seus alunos se calassem.

Elois Nibério, a garota que se sentava na segunda cadeira da fileira do meio, não expressou a reação como os outros alunos. Ela observava atentamente a gravura daquele cadáver retorcido entre as pedras cheias de sangue coagulado no chão. Era... Realmente muito assustador. Não a imagem, mas o contexto.

-"Este ex-policial tentou fugir ilegalmente de Khanfar, alguns dias depois de ver seus amigos e estagiários morrendo em um ataque ceifador na orla oeste. Deste caso vocês já devem ter conhecimento."-

Após um certo silêncio, Elois levantou a mão. Alguns se impressionaram, pois estavam completamente intimidados pelo detetive Hannie.

-"Pois não menina?"-

-"Porque o ceifador atirou o homem do penhasco e não o devorou por completo?"- Questionou Elois curiosa.

O detetive tratou aquilo como uma pergunta séria, mas na realidade, estava um tanto surpreso com a naturalidade da indagação. Ele imaginava que após suas primeiras palavras haveria um estado de choque dominando todos os jovens daquela sala, mas a menina... Ela parecia estar tirando uma dúvida da matéria de álgebra.

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