5.

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Eu queria morrer ali mesmo quando ouvi aquela pergunta. Eu esperava qualquer coisa, até um tapa, mas não esperava que Bruce iria querer falar sobre o que aconteceu à 2 anos atrás, simplesmente aconteceu, e cada um seguiu em frente, nenhum pediu desculpa desde a última briga, que juramos que não iríamos nunca mais ser amigos e adivinha de quem foi a ideia, minha, e agora, que praticamente somos obrigados a trabalhar juntos, ele decide tocar nesse assunto? Eu não sei se estou pronta pra conversar sobre isso sem jogar algumas coisas na sua cara.

- Bruce, eu não...

- Eu sei que já se passaram dois anos, eu estava esperando que tudo voltasse ao normal meses depois, mas não voltou...- sua voz soava quase como um sussurro. Era visível que também estava incomodado com o assunto, mas que estava disposto a falar sobre aquilo.

- Você escolheu a ela.- abaixo a cabeça na tentativa dele não escutar, mas querendo que ele ouvisse.

- Eu era um garoto de 15 anos.- ele me olha como se aquela frase bastava para tirar sua culpa.

- E você continuou a escolhendo.- ergo a cabeça o encarando. Não adiantava nada que ele dissesse, ele tinha culpa sim, e eu não iria deixar ele achar que podia se safar com uma ideia de que era novo demais pra tal escolha.

- Me desculpa, Ely...- ele me encara, como se aquelas palavras fossem sua última saída, como se para tudo aquilo passar era só imitar o gato de botas e falar docemente fofo comigo. Talvez isso colasse comigo à alguns anos atrás, talvez até agora eu estivesse louca para cair em seus braços e fingir que nada aconteceu, mas ainda sim, eu estaria machucada, e me torturar a tal situação, me machucaria ainda mais.

- Eu era a sua melhor amiga, Bruce.- solto o meu lanche e o encaro, eu não queria saber que aquele podia não ser a melhor hora, ele não queria tocar no assunto?, então agora teria de me escutar. Ele me olha como se também estivesse sofrendo.- Sua cor favorita é vermelho, você sempre toma banho de chinelo porque acha que pode morrer se algum raio descer pelos fios do chuveiro, você dorme com um burro do ursinho pooh e você... - olho no fundo dos seus olhos procurando sua parte mais vulnerável, mas ela não estava no olhar.- Você sempre come primeiro o lanche e depois bebe todo o refrigerante de uma vez após comer...- digo desistindo de dizer tudo o que sabia sobre ele, porque aquilo me machucava, lembra dele, de nós, me machucava. Oh céus! eu só queria meu melhor amigo de volta. Ele continua a me olhar enquanto pauso um pouco para recuperar o fôlego.- E mesmo assim, você ainda escolheu ela.- sorrio ao final da frase mostrando a minha indignidade com tal ação passada.

Antes que ele pudesse responder algo, levanto-me pegando minha bolsa e a sacola com os papéis sujos do lanche. Bruce me olha, enquanto visto meus sapatos. Eu sei que ele se importava, e era isso que me matava, Bruce ainda se importava.

- Aonde você vai?- ele diz saindo de seu transe.

- Estou cansada, acho melhor começarmos amanhã.- levanto-me da cama. Era visível minha irritação.- Eu sei onde é a saída...- digo seco e saio andando, deixando-o sentada na cama.

Desço as escadas sentindo meu rosto pegar fogo, mas um minuto olhando para Bruce e eu choraria igual uma criança. Cherry pula em mim querendo brincar, mas logo parece entender que eu não estava afim de brincadeiras, não naquele momento.
Bruce era tudo pra mim, ele não tem noção do quanto me magoou, e eu sei, nada voltara ao normal. Ele talvez estivesse magoado também, por qual motivo, eu já não sei, mas sei que o Bruce que eu conheço, teria vindo falar comigo, se algo de errado naquele dia não tivesse acontecido.

♡♡♡

Dia seguinte...

Sabe, eu não sabia o que fazer com o que eu sentia por Bruce, talvez a palavra, amar, fosse forte demais, séria demais, talvez apenas uma atração, igual as meninas fala, um leve crush por ele, tipo, podia ser um nada, não é mesmo?, talvez fosse os olhos dele que hipnotizavam qualquer uma, ou o sorriso, ou a forma que ele fazia com que eu me sentisse importante, mas aquilo não importava mais, porque ele havia me magoado, ah! Isso ele havia feito com êxito.
Ouço a campainha tocar lá embaixo, provavelmente era ele. Faltei hoje nas aulas, não estava me sentindo muito bem, meu nariz doía tanto e eu espirrava muito, minha mãe nem sabia do ocorrido, e nem podia saber, iria armar o barraco na escola e de vergonha já não bastas as quais eu passo por conta própria, sei que o nariz não quebrou, mas doía muito e eu cheguei a vomitar a noite. Desço as escadas correndo e grito para minha mãe avisando que eu abriria a porta. Assim que abri a porta, avistei Bruce parado com as mãos no bolso de sua calça jeans. Só agora que reparei o quanto ele cresceu, ele provavelmente tinha seus 1.90, ele era realmente mais alto que eu. Ele estava com a cara de quem estava realmente constrangido por ontem.

- Oi.- ele diz sem graça.- Você não foi hoje...

- É, eu não estava muito bem. Entra.- encostei-me na porta, abrindo espaço para que ele adentra-se.

- Oi, querido!- minha mãe diz assim que adentra a sala segurando o telefone no ouvido. Ela tampa a parte na qual dá para a pessoa do outro lado te ouvir e se vira para Bruce.- Avisa sua mãe que comprei aquele massageador maravilhoso e que ela pode comprar que é ótimo.- sorri amigavelmente. Passo a mão no rosto como se pedisse para ela sair dali que eu já estava bem envergonhada e Bruce ria de suas palavras inesperadas.

- Sim, senhora.- ele diz ainda rindo.

Minha mãe joga um beijo no ar para Bruce e saí da sala, nos deixando à sós. Bruce ainda não parecia confortável, ele se vira para mim e então eu o olho e dou um sorriso como se dissesse "me perdoa por tal constragimento, quer um chá?", mas antes que eu pudesse dizer algo ou expressar mais alguma coisa, Bruce me interrompe.

- Olha, sobre ontem...- ele para um pouco, fazendo com que eu imagine que estava pensando nas suas próximas palavras.- Desculpa, Ely. Desculpa-me, não só por ontem, mas por tudo, eu não sei o que se passav...

- Bruce...- interrompo-o e balanço a cabeça negativamente.- não quero falar sobre isso, se você se importa.- corto-o percebendo que o deixei sem graça.

Talvez eu tivesse sido grossa com ele, ou talvez, bem feito para ele!, mas eu realmente, não estava afim de conversar. Não naquela hora.

Bruce&Ely Onde histórias criam vida. Descubra agora