4º capítulo

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POV Helena

Nunca senti tanto nojo de mim como agora. Não fiz nada como ir para a cama com qualquer um dos empresários, mas eles apalparam-me e disseram coisas sobre mim, sobre o meu corpo. Só de me lembrar daquelas mãos fastiosas a tocarem-me. Porquê? Porque é que me calhou este destino a mim? Que mal é que fiz? Eu mereço isto?

Sinto-me completamente perdida neste momento. Passo freneticamente as mãos pelo meu cabelo e quando me apercebo estou a soluçar. Levo os meus dedos aos meus olhos e percebo que estou a chorar. Eu não quero mais isto, não eu não quero mais esta vida.

Sento-me no chão no meu camarim, e formo uma bola, no mesmo, com o meu frágil corpo. Quero tirar esta roupa de mim, quero tirar esta porcaria de cima do meu corpo. Num impulso puxo com força o corpete, ele sai, atiro-o para o chão. Depressa também tiro os boxers e atiro-os para junto da peça que atirei segundos antes.

Oiço baterem à porta.

- Helen? Estás aí? Posso entrar? – Pela voz percebo que é a Sophia.

- Eu não quero falar, nem ver, nem nada com ninguém. Deixem-me! – A minha voz soa desesperante.

- Ohhh Helena- Sophia entra-me de rompante no camarim, dirige-se a mim e abraça-me. Sabe tão bem sentir um pouco de conforto.

- Tu não pertences aqui, lamento muito – Diz-me, aperta-me ainda mais contra o seu peito e passa-me de leve as mãos pelas minhas costas. Choro ainda mais e soluço também.

- Conta-me, eles tentaram alguma coisa? – Ela questiona-me.

- Eles…eles tocaram-me e apalparam-me. Eu não sei o que a Gabi lhes disse que podiam fazer mas eles fizeram mais do que só ver-me dançar Soph- Digo-lhe, ela arregala os seus olhos para mim.

- Helena eu não sei porque ela te omiti-o informação, mas dentro daquela sala não se dança apenas- Diz-me.

- O quê? – Digo quase a gaguejar.

- Sim, aquela sala é feita para… tu sabes, dar um pouco mais aos clientes.

- Isso é legal? – Não pode ser.

- O marido da Gabriela é polícia, respondo à tua pergunta? – Eu sou uma puta?

- Vá helen, vai para casa, vai descansar – Aconselha-me e de seguida passa-me os dedos na parte inferior dos meus olhos para retirar os vestígios de lágrimas.

- Obrigada – Digo-lhe sinceramente.

- De nada querida, sabes que sempre que precisares estou aqui para ti – Ela diz-me. Gosto muito desta rapariga. Se um dia sair daqui, levo uma grande amizade.

Sorrio-lhe e assinto com a cabeça que sei que sim.

- Até amanhã – Deixa um beijo no topo da minha cabeça e sai do espaço em que estou.

Respiro fundo, estou melhor, estou mais calma. Levanto-me e visto o meu vestido laranja florido. Depois de vestida, sento-me numa cadeira em frente à bancada que contém um espelho e retiro a minha, sombria, maquilhagem.

Há uns anos atrás se me dissessem que com dezanove anos estaria num sítio destes a fazer o que faço, ria-me na cara dessas pessoas. Eu tinha uma vida tão maravilhosa, a minha mãe e o meu pai ganhavam bem. Era-mos uma família tão feliz, os meus pais eram totalmente apaixonados um pelo outro. De um momento para o outro tudo se foi, tudo o que eu acreditava se desvaneceu, tudo o que pensava ser verdadeiro afinal era falso, todos os meus valores foram postos em causa. De que serve achar que alguma coisa é para sempre? Nada é para sempre, não se enganem, não se iludam. Tudo acaba, tudo.

I can't make you love me - h.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora