Luis parou no semáforo e eu avistei uma confeitaria com as paredes cheias de rameiras e trepadeiras de rosas gordas e abertas. Conseguia sentir o cheiro e seu perfume, a maciez das pétalas e as pontadas agudas dos espinhos.
A rosa era como o amor; belo e no entanto doloroso. Perfumado e ácido. As portas brancas de madeiras escancaradas me convidavam para entrar e me dar um tempo para pensar no que acabou de acontecer.
— Luis. — chamei dando batidinhas em seu ombro.
— Oi?
— Vou descer aqui mesmo. — Tirei uma nota de cem euros e ele trincou o maxilar estranhando. — Por ter ido me buscar naquele fim de mundo e porque eu to com pressa.
— Ah, Deus te abençoe, senhora.
— Igualmente.
Sai do carro passando entre os outros até chegar a calçada onde assim que pisei quase cai. Como um inseto eu me aproximei da luz que sai da confeitaria e ao entrar inalei o cheiro forte de açucar e chá. Sentindo-me em casa sentei na mesa perto do balcão e instantaneamente fui atendida por uma adolescente.
— Uma fatia de torta de maracujá e o chá da casa com leite.
— É pra já.
Ela anotou o pedido em rabiscos no caderninho preto e passou para a outa mesa. Aguardando minha torta apreciada saquei o celular da bolsa e enviei uma mensagem para Candy "Viva ainda!". Tendo absoluta certeza de que estaria ocupada com Kristine enviei outra sem intender o porque de tanta melação: " Amo-as e aconteça o que acontecer eu sempre estarei com vocês e vocês comigo. Tenham uma boa noite e jamais esqueça Kristine que a tia Kirsty te ama muito. Bjs xx. "
— Espero que goste. — Entregaram meu pedido em um prato de porcelana e uma xícara do mesmo material mas este decorado com desenhos que contavam estorias. Uma harmonia interessante quase como uma ressaca caiu sobre mim e eu soltei o ar que segurava bebericando um gole generoso do chá quentinho que desceu aquecendo meu corpo frio e trêmulo.
Na pequena tv ao canto passava o jornal da noite que não me chamava atenção no momento. Sinceramente o silencio me encantava, mas naquela noite escutar os murmurinhos dos outros clientes me distraiu e agradou. O zunido baixinho as risadas escandalosas seguidas do barulho da rua adentravam minha mente como um calmante começando a fazer efeito.
Calmamente vasculhei na bolsa uma das cartas que Declan escreveu para mim depois que "partir". Eu a encontrei ao lado da carteira. O papel era frágil e eu tive medo de que desmancha-se em minhas mãos por essa razão desfiz o laço de cetim verde cuidadosamente o amarrando no pulso para me sentir mais próxima de Declan. Abri o papel dobrado delicadamente e a letra formosa me fez sorri contaminada.
" For my dear time traveler
Não sou bom com cartas porque acredito que palavras escritas jamais conseguirão transmitir o que palavras ditas conseguem, mas por mais que deseje enlouquecidamente dizer-lhe tudo o que sinto pessoalmente já não posso realizar isso.
Kirsty, já não posso toca-la enquanto "falo" ou olhar em seus olhos e admirar as duas pedras de jade mais brilhantes e belas que vi na vida e estas que me roubaram o fôlego desde o primeiro instante em que nossos olhares se cruzaram. Ali tive certeza que o amor existia e que não é projetado mais plantado em nós desde que nascemos... pois somos escolhidos e encontrados por ele. Você me encontrou my Traveler e eu jamais poderia esquece-la ou deixar que se apague de meu coração porque a amo.
Amo como um camponês faminto almeja por um pouco de alimento; uma alma que só é completa quando está com você; um rio antes seco e agora cheio de esperança; uma flor que decidiu abrir na lama mesmo assim se tornou tão bela e delicada como se fosse uma estrela nascida na terra... eu a amo com o amor mais forte e puro que existe que nem a água do mar poderia ser tão pura e doce quanto ele é.
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Traveler - Destinados a se encontrar
RomanceO que você faria se de uma festa de noivado no ano de 2012, você fosse parar em 1939 no início da Segunda Guerra Mundial? Kirsty até então uma residente de medicina muito focada no trabalho e adoradora de bons livros, vê seu mundo transformado e jog...