O avião desceu e suas rodas atingiram o chão em um forte barulho de impacto. A janela ao meu lado, embaçada pela chuva de minutos atrás, agora reluzia a luz do entardecer anunciando com um belisco na minha bochecha esquerda que tinhamos chegado ao nosso destino. Uma das aeromoças apareceu sinalizando para que saíssemos um atrás do outro em uma fila indiana.
Por estar sentada próxima da saída eu fui uma das primeiras pessoas a sentir a brisa de boas vindas do solo inglês. A ventania era fria como certamente deveria ser o ano todo.
Afinal o Reino Unido era conhecido por sua "melancólia" temporal anual. Por sorte somente a brisa era fria e as nuvens cinzentas não denunciavam qualquer indicio de chuva ou tempestade como eu temia ao pisar no solo depois de horas sentada em um aeroplano. A sensação nauseante do voo ainda girava em meu estômago deixando resquícios de enjoos anteriores.
Odiava aviões e ainda mais ônibus, eles chacoalhavam como copos de coquetel sendo batidos pelo barman antes de serem servidos, as vezes não se sentia o chão e isso causava náuseas depois enjoos e por fim tonturas. O gosto amargo dos remédios subia pela bile e se infiltrava na saliva sambando no meu paladar. Zonza esperei minha mala dar sinal de existência para que eu conseguisse pegar um táxi a tempo — se me restasse algum.
Minha mala desceu atrás de duas bolsas e caiu na esteira. Com pressa nem esperei que chegasse até mim corri até ela enfiado o braço no meio dos alheios e a puxando com força para o meu peito. O impacto doeu mas a adrenalina falou mais alto o que me fez acelerar os passos até a saída trombando com um ou outro viajante.
— Ei táxi espera! — gritei para o taxista cortando o homem que tentou passar na minha frente.
— Ah, entra ai, moça. — disse o taxista abrindo a porta para mim.
— Desculpa. — falei ao homem que deu de ombros. Entrei no carro jogando a mala encima do banco. — Me leva para o Plaza.
— Oh, pode deixar. E Canadense?
— Sou como sabe?
— O sotaque.
— Hum.
— Veio fazer o que no Reino Unido? — Curioso.
— Vou visitar o Stonehenge. — Ele me olhou atentamente pelo retrovisor interno e abriu um sorriso.
— Que novidade, né? — brincou.
Bem típico, pensei. Os ingleses sempre foram muito condescendentes e agradáveis, alem de educados. Este deveria ter uma mistura de Mexicano com Brasileiro. A conversa era boa e o sotaque forte.
— E você da onde é?
— Porto Alegre, Brasil.
— Ah, que legal.
— Já esteve lá?
— Não. Eu nunca saio muito da Europa. Desde que nos mudamos do Canada eu fico mais por aqui.
— Ham. Mas deveria visitar e um lugar muito bonito. Cheio de gente boa.
— Imagino.
Uma coisa típica dos brasileiros: conversa. Ele começou a falar da família que ficou na America e depois me mostrou fotos dos filhos com muito orgulho. A pele bronzeada denunciava que diferente dali seu pais contava com um calor muito agradável. Era um pais tropical, afinal.
— Chegamos, moça. Se precisar de uma carona pode me ligar que eu levo a senhora pra onde quiser.
— Obrigada, Luis.
— Ãh, seja bem vinda.
Sorri educadamente saindo do carro após pegar seu numero e pagar a corrida.
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Traveler - Destinados a se encontrar
RomansaO que você faria se de uma festa de noivado no ano de 2012, você fosse parar em 1939 no início da Segunda Guerra Mundial? Kirsty até então uma residente de medicina muito focada no trabalho e adoradora de bons livros, vê seu mundo transformado e jog...