"Você é mais que uma máquina"

275 26 5
                                    

AMY

6 de novembro de 2038

"BEEP BEEP BEEP"

Amy abriu um dos olhos e olhou para o relógio na cabeceira que marcava 7:45 da manhã. A garota apenas fechou os olhos novamente desejando que aquele barulho estridente não tocasse novamente, porém sabia que em 5 minutos o ciclo iria se repetir. Bom, era melhor mesmo levantar da cama e começar o dia.

A noite anterior havia sido o caos em todos os sentidos. Amy havia começado mal com o Tenente Anderson, contudo, acreditava que o mau humor era realmente por causa da bebida, fato que ficou sabendo através de Connor, o tal Android caçador de divergentes que todos comentavam. Inteligência artificial sempre foi algo que chamava a atenção de Amy. A garota por diversas vezes se pegou perdida em pensamentos tentando entender como pedaços de plástico e metais e outros materiais poderiam formar uma máquina que aos olhos eram semelhantes aos humanos porém intelectualmente mais avançados. Era insano. Amy tinha que admitir, a Cyberlife havia superado todas as suas expectativas, a sua mais nova criação, Connor, era um exelente profissional, se é que poderia chamá-lo assim. O Android conseguia analisar amostras de sangue azul e sangue humano em tempo real! Tudo bem que era estranho, Amy havia se assustado quando viu Connor literalmente levando aquele sangue seco a boca, mas uma vez que ela entendeu o que ele estava fazendo, ficou empolgada. Ah ela queria fazer tantas perguntas a Connor!

"— O que mais de surpreendente você consegue fazer? Não me diga que também consegue simular emoções humanas— Amy riu, sabia que essa era a única coisa que um Android não poderia fazer.
— Fui fabricado para ser o melhor Android da CyberLife. Então não, eu não sinto emoções, eu fui feito para caçar os que a sentem — Connor a olhou sério —Creio que essas conversas paralelas irão atrapalhar o andamento da investigação. Você não deveria estar anotando o que estamos fazendo?— Connor achava desnecessária a presença da jornalista, uma vez que ele mesmo fazia os relatórios ao mesmo tempo em que investigava, logo após, era só repassar para a Amanda.
— Sim, claro!— Amy concordou confusa. Na verdade queria rir, para ela era engraçado Connor ser tão insensível daquele jeito com aquela cara tão amigável."

Amy pulou da cama e sentiu seus pés no chão frio e caminhou em direção a janela. Olhou através do vidro a chuva intensa que insistia cair sobre Detroit. Ao se virar novamente para o quarto, olhou em direção a sua cama onde seu celular exibia que novas mensagens haviam chego, mais precisamente mensagens de Connor "Androids tem celulares?" Pensou.
— Nota mental, perguntar isso a ele mais tarde— falou alto.
Amy abriu as mensagens e pode ler

"From: Connor
O interrogatório do divergente capturado na noite anterior começa à 13:00hr
A função de avisá-la era do Tenente Anderson porém ele deve estar bebado demais para se lembrar.
Ps: Você ganhou uma manhã livre"

Nah, Amy iria mais cedo para o DPD de qual quer maneira. Ainda não havia feito amigos na cidade, o apartamento não estava bagunçado, ela não tinha feito uma grande mudança, trouxe consigo apenas algumas malas de roupa.
Ainda estava cedo, seu turno começaria às 9:40. A garota tomou um banho e vestiu um vestido estilo camiseta de veludo preto, pôs uma meia calça grossa por baixo e calçou seus coturnos. Pegou sua bolsa, chave e sua parka vermelha e saiu. Iria aproveitar a hora antes de ir para o trabalho para conhecer o centro de Detroit.

•••

AMELLYA

—Elly você está entendendo a grana boa que vai entrar em nossa conta?— Jason andava de uma lado para o outro na estravagante cobertura no centro de Detroit. Amellya apenas o olhou, de algum modo odiava quando ele lhe chamava por este apelido, mas tudo bem, por aqui não tinha que haver reclamações, afinal, ela era uma Android.
— Eu não tenho certeza se vou conseguir fazer uma transação de 300 milhões de dólares sem ser notada pelo FBI Jason.— A modelo RM-700 deu um olhar de preocupação para o dono.
— Isso é fichinha, já transferimos valores maiores meu bem.
— Porém estão atrás de você nesse exato momento Jason. Temos que ficar espertos! Meu sistema diz que essa não é uma ação segura.—Amellya insistiu.
—Seus sistema deveria dizer o que eu te digo pra fazer— Jason deu um riso, porém aparentava estar tenso.— Comece o trabalho agora docinho!
Talvez Jason estivesse certo mesmo. Amellya iniciou o processo de invasão no sistema da CyberLife. Sim, justo a CyberLife. Jason estava cada vez mais ganancioso e não se contentava mais em atingir o sistemas de empresas menores, estava sempre almejando mais e mais.
— Como está o andamento?
— 38%. Porém tem alguma barreira que eu não estou conseguindo passar— Amellya enrugou a testa forçando mais o seu software contra o software da CyberLife. No momento em que estava para atingir 40% códigos criptografados em algum algoritmo que Amellya ainda não era capaz de entender começaram a surgir na tela do computador. Ela sabia que aquilo não era nada bom e alguma coisa tinha acontecido.
"Splat"
—Você escutou isso?— Jason perguntou preocupado a Android
—Sim— mais do que isso a super audição de Amellya estava escutando passos vindo da sala em direção a cozinha e de acordo com seus cálculos em alguns segundos eles chegariam e...
— FBI NO CHÃO!— 4 agentes e 1 detetive entraram com tudo na cozinha. Jason se borrou.
—Merda— literalmente!
—A Android tá fudida nas mãos da CyberLife. Vai te destruir todinha— Um dos agentes falou rindo.
Amellya olhou assustada enquanto Jason era forçado a se deitar e outros 2 agentes vinham em sua direção. Seu sistema começou a entrar em pane ou algo parecido pois tudo o que enxergava era vermelho. Haviam mando ela se deitar porém tudo o que queria fazer era correr dali o mais rápido possível! Foi então que começou a lutar contra o seu software. Cada barreira era mais difícil de quebrar que a anterior. Lutou e lutou e foi então que seu Led de Azul foi para vermelho, Amellya já não se sentia mais presa, aproveitou o momento e correu contra os guardas que não esperavam a desobediência da Android. Amellya os empurrou e correu o máximo que podia, não era muito rápida, porém estava se esforçando. Ao sair para fora do apartamento por sorte o elevador se encontrava no andar e o alcançou a tempo de deixar os agentes para fora. No elevador, deu de cara com o espelho, observou seu rosto e o pânico tomando conta de sua face. Algo havia mudado nela.
Amellya se tornou uma Divergente.

•••

CLARA

—Hoje é um evento muito importante aqui na galeria Clara.— A senhora ruiva que vestia um vestido verde e usava jóias de Ruby's falsificadas repetia a mesma frase para a Android a todo instante.— O Senhor Luchevski é um viúvo milionário e está solteiro. Ele tem um filho, o Josh, você vai até lá e vai chamar a atenção dele!— Falou num tom firme.
—Olhe aqui mais uma vez sua sucata— A senhora pegou o rosto da Android com as duas mãos — Tente não estragar essa maquiagem que fiz em você. Se ele descobre que você é uma Android eu irei te deixar trancada na dispensa hoje à noite. E ativada!
Clara arregalou os olhos, sabia que a dispensa era um lugar ruim, era apertado e se sentia desconfortável. Iria seguir o plano da velha Hailey, aliás, ela era a sua dona não é mesmo?
—Entendido!
Assim a Android seguiu até pai e filho. O barulho do salto alto ecoava na galeria. Hailey seguia seus passos, atenta a cada movimento da Android.
— Olá senhores — Clara educadamente os cumprimentou.
— O que devo a honra? — Sr. Luchevsky pegou a mão direita de Clara e a beijou, porém, mantendo os olhos em Hailey que logo não demorou para se apresentar. Usava Clara como meio para isso.
— Hailey Ludwig— Se apresentou— E essa é a minha filha Clara.
— Muito prazer— Josh cumprimentou Clara que apenas sorriu, levando um beliscão de Hailey. Clara sentiu dor. Queria poder desligar essa sensação que Hailey insistia em deixar ligada para a maltratar.
—Desculpe a Clara, garota tímida — Hailey respondeu com nervosismo.
— Desculpa o encomodo mas já nos conhecemos?— O mais velho perguntou a senhora.
— Eu era amiga da sua falecida esposa Elle. Eu sinto muito por tudo que vocês têm passado nos últimos meses— fingiu condolências
— É estranho, eu não me recordo de você— Luchevski a analisou e Hailey ficou tensa— No entanto, Elle tinha tantas amigas— riu aliviando a tensão no rosto da senhora.
Mais ao lado Josh observava a cena, sabia que o papo da mais velha era uma grande furada. Apenas hoje ela já tinha visto mais 3 senhoras tentando o mesmo papo com seu pai, um dos viúvos mais cobiçados na alta sociedade atualmente. Porém seu pai era tolo demais para notar as segundas intenções.
— Ela não era amiga da minha mãe — Josh falou para Clara em um tom de deboche. Clara o olhou assustada.
— Ela... ela, ela era amiga de sua mãe sim— tentou fingir que tudo estava bem.
— Eu sei que não era tanto quanto eu sei que você é uma Android— Josh riu. Clara olhou incrédula para o garoto
—Eu não sou!— se irritou.
— Bem, eu to vendo a pele sintática derretida aqui— Josh encostou na parte nua do ombro de Clara onde uma das mangas do vestido insistia em cair. No local, algumas marcas de queimaduras em formato oval podiam ser vistas. Hailey a queimava com uma colher quente quando jurava que a Android não havia seguido suas ordens corretamente.
Josh sentiu empatia pela Android e uma forte vontade de ajudar.
— Esse é o meu número— Josh mostrou os números na tela de seu celular e imediatamente a Android os gravou em seu sistema.— Você sabe o que é a divergência Clara?
—São apenas simulações de emoções que alguns Android tem apresentado. É um defeito segundo o que mostram na Tv— Respondeu incerta de suas palavras. Estava confusa.
— Não! Isso é real e a revolução tá acontecendo e você tem que acordar— Ele respondeu firme pegando nos pulsos da garota.
No mesmo instante foi como se toda a vida de Clara agora fizesse sentido. Antes a escuridão habitava o seu interior e agora tudo era luz. Pela primeira vez em sua existência estava sentindo que podia ter controle sobre si mesma. A Android então olhou para as mãos de Josh que seguravam os seus pulsos. As mãos de Josh estavam brancas, o antebraço de Clara estava branco. Josh era um Android e ela uma divergente!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 01, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Detroit Resurrection Onde histórias criam vida. Descubra agora