Capítulo 14

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POV Roberto

Com o encerramento do semestre, foi fácil conseguir minhas férias. Porém os últimos dias foram muito corridos, nem houve tempo para ir à biblioteca. Decidi levar para casa o primeiro volume da saga do Império, mais para ter algo da AN5022 junto a mim do que para ler. Pois além de assumir a loja para meu pai, quero estar disponível para ajudar minha mãe e continuar a escrever meu livro. Como estou atolado de serviço, peço para meu colega Joaquim pegar o volume para mim, já que iria devolver um livro e não retiraria nenhum para si.

Me despeço do Artur, deixando diversas recomendações, como desligar a geladeira, retirar tudo que é perecível da cozinha, desligar as lâmpadas, pois este meu amigo é muito avoado e já tive surpresas desagradáveis antes.

Apenas quando chego em casa percebo haver um bilhete dentro do livro.

"Caro RO35

Esperei por dias você retirar este volume, mas ainda não o fez. Não sei se desistiu da leitura ou aconteceu alguma coisa.

Escrevi porque gostaria de manter o nosso contato. Aguardo uma resposta dentro do próximo livro.

Ana C."

Por que não vi o recado antes? Agora terei que esperar um mês, já que ela não colocou nada além de parte do seu nome e nosso meio de comunicação são os livros da biblioteca.

Ana C.! O que será o C? Claudia, Clara, Célia? Mas não importa, responderei e logo saberei mais sobre ela.

Penso na irmã da Isabela, Ana Clara. É uma possibilidade! Mas não sei qual curso ela faz e nunca mencionou livros. Poderia perguntar para o Artur, mas ele é muito afoito e indiscreto, iniciaria uma campanha com algum nome ridículo e não estou por perto para conter os danos. Terei que ser paciente e esperar mais algumas semanas.

Fico uns dias com meu pai na loja me inteirando dos negócios. Já trabalhei com ele na adolescência, mas faz uns anos que não o ajudo. Não mudou muito e sei que darei conta. Ele vende autopeças para reposição e também tem uma oficina. Ele começou pequeno, mas hoje atende toda a região.

- Confio em você, filho. Sempre se mostrou muito capaz em gerenciar a loja. Por isso insisti que cursasse administração ou economia. Leva jeito para negócios.

- Obrigado, pai. Bom perceber que está mais calmo e relaxado que o normal.

- Ficar preocupado não adianta, então estou buscando encontrar algo bom em toda essa situação. Sua mãe tem me ajudado muito. Preciso ouvi-la mais. Fiz planos para umas férias, tão logo o médico me libere.

- Mamãe ficará feliz e ela merece.

- Com certeza, ela é minha força.

- Mais alguma recomendação sobre a loja?

- Estou pensando em colocar o Jair de gerente. Observe-o enquanto estiver aqui e depois me diga se ele é a melhor opção.

Meu pai tem razão em sua escolha. O rapaz é esforçado e tem iniciativa. Faço algumas mudanças na rotina da loja e percebo sua aprovação.

- Roberto, mamãe ligou. A cirurgia foi um sucesso e ela já falou com o papai.

- Graças a Deus, por mais simples que o médico faça parecer, ainda estava preocupado.

- Ela disse que já foi para seu apartamento e que fará uma faxina geral.

- Tenho medo do que ela encontrará no quarto do Artur. Temos a faxineira, mas ele não consegue manter limpo e organizado.

Meu pai é liberado para viajar para casa uma semana após a cirurgia. O resultado da biópsia só ficará pronto em um mês, mas o médico acha que não haverá problemas.

Avancei muito no meu livro, e logo o terminarei. Já entrei em contato com um antigo professor e ele fará a revisão.

- Filho, ligação para você.

- Alô?

- Sr Roberto? Aqui é da New Editora. Estamos ligando para confirmar sua presença na última etapa de nosso processo seletivo, a ser realizada em nossa sede, em dois dias.

- Irei, com certeza.

- Ótimo, passarei todas as informações via e-mail.

Compareço à entrevista, e saio com uma vaga. Foram aceitos dois novos funcionários, em período de experiência de 3 meses e sou um deles. Começaremos a trabalhar tão logo sejamos liberados de nossos respectivos empregos. O bom é que não precisarei me mudar, pois meu posto será próximo a onde moro. Meu pai fica muito orgulhoso e me sinto bem em vê-lo tão feliz. Deixo meu notebook sobre a mesa e vou tomar um banho. Sairemos para jantar em comemoração.

Quando volto, encontro meu pai visivelmente emocionado.

- Papai? Algum problema?

- Abri seu notebook para procurar, na internet, o telefone daquele restaurante italiano que sua mãe gosta. Havia um arquivo aberto na tela e não me contive e li o conteúdo. É um livro, filho? Está escrevendo?

- Sim, pai. Por favor, não fique chateado. Amo escrever, é o que sonho fazer. Mas consegui o emprego, como o senhor queria. Não vou abandonar.

- Por que nunca me disse sobre seus projetos?

- Temi sua decepção. Sei o que planejou para mim e quanto lutou para se concretizar.

- Lutei pela sua felicidade, filho. É isso que busco!

- Mas sempre disse que livros de ficção eram bobagens...

- Só se não te levarem a lugar nenhum, mas estamos falando aqui de suas aspirações a uma profissão honrada.

- Me martirizei tanto tempo temendo não conseguir deixa-lo orgulhoso de mim.

- A culpa foi minha por cobrar tanto. Me perdoe, meu filho. Serei, daqui por diante, um pai sempre aberto a escutar e incentivar.

- Obrigado, pai. Não sabe a alegria que me dá.

- E quero ser um dos primeiros a ler este livro, hein? Meu filho, um escritor!

Sem saber, a AN5022, ou melhor, Ana C., devolveu meu pai, pois meu livro, esta conversa esclarecedora de hoje, são frutos de seus bilhetes. Ela foi minha inspiração. Como gostaria de partilhar este momento com ela. Com meu desligamento da universidade, é urgente que retomemos o contato e eu descubra quem ela é.



Deixem seus comentários e me ajudem a crescer como escritora. Obrigada

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