O camponês e a lenda viva

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O motivo pelo qual a senhorita Sprung havia se compadecido de Rose, era que em sua infância foi criada por uma família de negros cheia de amor, carinho e atenção, contudo, o rei ordenou que os matassem pois era inadmissível que uma criança branca fosse criada por negros, e então Carmen foi adotada por Elias e preparada para ser útil à Helsken; todos os dias lia dezenas de livros até que alcançou um conhecimento superior ao de qualquer outra pessoa do reino, e assim ganhando o reconhecimento do rei, por quem guardava um rancor secretamente em seu coração.
   Carmen contava para Rose sobre seu passado, quando ouviu passos e vozes vindo em sua direção, mandou que Rose ficasse calada e cuidadosamente espionou por trás de uma moita e viu que se tratava dos soldados de Instanck, a doutora ficou atemorizada, porém tentou calmar-se, pois sabia que dali em diante coisas ruins aconteceriam. Mesmo sendo cautelosa, Carmen foi notada pelos inimigos e antes que os tarimbeiros chegassem até o local onde estava, a cientista escondeu Rose atrás de uma grande pedra para que não viesse lhe ocorrer algum mau; os soldados puxaram Carmen pelos cabelos e interrogaram-na sobre assuntos secretos do reino, mas a mesma negou-se a responder, por conta disso foi cruelmente assassinada e Rose acompanhou tudo. Um infeliz fim para uma grande mulher e mais uma triste cena para a pobre menina que pensou que ali seria o fim de sua dor.
   Rose aguardou até que os militares sumissem de sua vista para que pudesse encontrar seus pais e lhes informar sobre o ataque inimigo, Rose correu o mais rápido que pôde, mas ainda assim chegou tarde demais, e o que presenciou ao chegar em sua casa foi a última coisa que desejaria ver em sua vida: um cenário triste, perturbador, doloroso... Não posso nem mesmo ditá-lo em palavras; o que Rose presenciou naquele momento foi a morte de seus pais. Aquele acontecimento a deixou perplexa, sem se importar com a figura de dois soldados que estavam ali, os mesmos que tiraram a vida de seus pais, e impiedosamente riam do sofrimento de Rose que tomada pela fúria, pôs em prova sua força sobre humana proporcionada pelo chip instalado em seu cérebro, e inconscientemente trucidou os homens.
   Enquanto isso, Filipe juntamente com seu pai e seu irmão jantavam sem saber do que ocorria fora do palácio. Filipe estava aflito por causa dos gritos de Rose que ouviu anteriormente, e tomou coragem para perguntar ao pai.
- Pai, o que aconteceu com a prisioneira? - Filipe perguntou hesitando.
- Ela morreu. - respondeu o rei com frieza nas palavras.
- Morreu? Como assim, morreu? Como o senhor pôde fazer isso? Foi apenas uma joia! - Filipe dizia revoltado enquanto batia com as mãos sobre a mesa, e seu pai apenas o observava.
- Filipe, essa foi a sua escolha, você a entregou por uma coisa que não fez, você não deveria se comportar assim. Não se preocupe, seu ato foi nobre. - disse Elias
- Você... Sabia? - naquele momento Filipe absorveu um sentimento de decepção, mágoa e rancor não de seu pai, mas de si mesmo, e com lágrimas nos olhos retirou-se da sala e foi para seus aposentos.
   Os exércitos de Instanck invadiram o reino de Helsken, mataram inocentes e colocaram fogo nas casas. Rose decidiu fugir do reino; pegou duas espadas, as mesmas usadas pelos solados para tirar a vida de seus pais, as colocou nas costas e partiu. Já na divisa do reino, Rose encontrou um cavalo belo e robusto, que simpatizou com a presença da garota; após uma cerimônia para conhecer e amigar-se com o animal, Rose montou em suas costas e cavalgou sem rumo, para qualquer lugar onde poderia estar a salvo.
   Rose agora já havia perdido toda sua inocência, tinha total conhecimento de como realmente era a vida, seus sonhos foram destruídos, sua pureza foi roubada, e em seu olhar: um forte desejo de vingança, Rose tinha em mente um novo objetivo de vida, e dessa vez, não haveria ninguém que pudesse interrompê-lo.
   O ataque ao reino obteve um resultado merencório para Helsken. A chegada das novas armas naquele momento foi inútil, já que os armíferos não tiveram tempo suficiente para aprender a usá-las corretamente; isso atribuiu a morte do rei e Instanck venceu a guerra de forma gloriosa.
   O invento de Carmen proporcionou inúmeras vantagens para Rose, mas que vieram acompanhadas de um grave defeito: toda vez que estivesse exausta, Rose faleceria por 5 minutos, e após isso voltaria a vida; isto dificultaria seus novos projetos, porém não os interveriam. Mais tarde, já exausta da longa viagem que havia percorrido, a menina chegou ao seu limite, e ficou por ali, em meio ao deserto, e seu cavalo, muito esperto a guardava para que ninguém chegasse perto.
   Um camponês que por ali passava ficou curioso a respeito de Rose e chegou mais perto para observar, aparentemente era um defunto, o homem cobriu-se por um sentimento de pena e resolveu enterrá-la, mas foi impedido pelo animal que a acompanhava.
- Eia! Acalme-se amigo! - dizia o camponês erguendo os braços e se aproximando lentamente do cavalo. - Eu não a farei mal algum! - Continuava tentando conseguir a confiança do cavalo.
  Enquanto o jovem adulto lutava para conquistar a amizade do animal, Rose levantava de seu sono da morte causando pânico no rapaz.
- Mas o que está havendo? Jurei que você estava morta... - disse assustado o humilde camponês
- É, eu também achei, mas parece que não... - respondeu Rose - Quem é você? - perguntou desconfiada.
- Me chamo Andrew, e você? - responde estendendo as mãos na intenção de ajudar a garota a se reerguer do chão.
- Rose. - respondeu firme, porém ainda desconfiada.
   Ambos permaneceram calados, mas logo o silêncio foi interrompido por um ronco vindo do estômago de Rose que há dias não se alimentava; a garota ficou branca, tomada pela vergonha levando Andrew a gargalhadas.
- Venha comigo, minha cidade fica a poucos metros daqui, vou te dar de comer, traga seu cavalo também. - Andrew convidou-a educadamente, mas Rose recusou o convite, embora tivera muita fome. - Não precisa ter medo de mim, veja: não estou armado, nem nada. Sou de uma cidade pequena e simples, todos por lá te darão boas-vindas. - Continuou tentando ganhar a confiança de Rose, que inevitavelmente acabou por aceitar o tão generoso convite.
   Rose observava cada passo, cada gesto, cada olhar, casas e pessoas que passavam por ali, a cidade realmente era bem simples, porém muito limpa e pacífica; os cidadãos eram gentis e sorridentes e o lugar era aconchegante. Andrew a levou para uma cancha, e pediu que servissem sua acompanhante com o melhor da casa, e assim os serventes fizeram. A comida era simples, mas para a menina que antes saciava sua fome com o alimento dos porcos, aquilo mais parecia um banquete celestial. Mais tarde, após fazer sua refeição, Rose adormeceu num sono profundo, ali mesmo naquela mesa, Andrew a carregou pelos braços para sua casa, deitou-a na cama do quarto reserva, cobriu-a e deixou que descansasse em paz; a expressão fadigada, desconfiada e fria de Rose, trazia a certeza ao bom homem de que aquela pobre menina havia passado maus bocados, mas o que não lhe saía da cabeça era o fato da garota ter ressuscitado dos mortos.
   Mais tarde, Rose acorda confusa e perdida, e quando vê Andrew ao seu lado, impulsivamente acerta-lhe um soco arremessando-o ao chão, e o mesmo fica ainda mais assustado.
- Você tem muita força para uma menina. - disse Andrew apertando com as mãos o lugar onde foi golpeado.
- Ah, minha nossa! Me perdoe, eu fiquei assustada. - Rose já recobrava a consciência.
- Pois bem, dessa vez deixarei passar... agora você irá me contar tudo sobre você. De onde veio, por quê está aqui... - disse Andrew tentando aproximar-se de Rose.
- E isso vem ao caso agora? - perguntou Rose.
- É claro! Não é todo dia que eu vejo garotinhas mortas ressuscitando. - respondeu Andrew.
- Está bem! - Rose começou a contar sua história para Andrew desde o dia que conheceu o maldito príncipe, até o dia que decidiu exilar do reino. Enquanto isso a garota não sabia de nada que ocorria em Helsken.
   Após a morte de Elias, Erick, o irmão gêmeo de Filipe foi coroado para ser o novo rei do reino, estavam todos em festa, exceto Filipe que seguia inconformado a suposta morte de Rose.
   Andrew comoveu-se com a trajetória de vida de Rose, que descreveu todo o ocorrido para o camponês, como ele havia pedido.
- Essa morte temporária deve ser uma espécie de efeito colateral do chip que colocaram em meu cérebro. - disse Rose.
- Entendo, eu sinto muito... - disse Andrew tocado pela história que a menina havia narrado. - Mas e agora, o que você fará? Você ainda ama esse príncipe, certo?
- Minha vida não tem mais nada a ver com Filipe... A partir de hoje me dedicarei ao meu novo sonho, um sonho que ninguém irá me impedir de realizar. - disse Rose muito determinada.
- E que sonho é esse? - Andrew continuava fazendo perguntas afim de saber mais sobre a garota.
- Eu vou exterminar todos os reis que existem no mundo! Não importa quanto tempo leve, o que eu tenha que enfrentar, eu irei cumprir essa missão. Essa é a minha ambição na qual tornarei realidade. - afirmou Rose muito certa de suas palavras.
   Andrew calou-se perante o discurso de Rose, ficou surpreso com as palavras ditas por uma garota de apenas dezesseis anos de idade, e então disse em alto e bom som, com o coração cheio de esperanças:
-Ela existe! A lenda está viva!

Rose A Matadora De ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora