- Lenda? Mas do que é que você está falando? – perguntou Rose intrigada.
- Quando eu era pequeno, meus pais costumavam me contar sobre uma história de que os deuses enviaram alguém, uma mulher extremamente forte que lutaria pelo nosso povo e nos livrariam das mãos dos homens maus, essa mulher teria um olhar frio e vingativo. – dizia Andrew esperançoso. – Quando você me falou seu nome, não pensei nisso, mas agora ao ver sua força sobre-humana e ouvir sobre seu passado, tenho a certeza de que é real!
- Você só pode estar de brincadeira! Eu não sou enviada de deus nenhum. Quem faz o meu destino sou eu mesma, esse é um desejo meu, e dessa vez ninguém vai interferir! – disse Rose muito otimista sobre seu plano e virando as costas em direção à porta, mas logo foi impedida por Andrew.
- Você quer ir assim? – perguntou Andrew
- Não só quero, como irei! – afirmou Rose
- Você vai morrer. Embora seja forte, está despreparada, não pense que simplesmente vai chegar, matar um rei e ir embora. Haverá soldados para o proteger e atacar você com a intensão de te matar! – indiretamente Rose concordava com as palavras de Andrew. – Vamos fazer assim: você luta comigo, se eu perder, você pode ir, mas se você perder, terá que ficar comigo para treinar o suficiente para que sua força seja bem aproveitada. – Rose aceitou a proposta de Andrew certa de que o venceria no duelo.
O duelo entre os dois se inicia, e Rose começa com movimentos brutos, enquanto Andrew apenas desviava-se.
- De nada adianta tamanha força física se você não sabe como usá-la! – disse o camponês enquanto acertava Rose com um golpe sensível, porém fatal derrubando-a no chão e a deixando furiosa, porém trato é trato e Rose concordou em permanecer com Andrew que a abrigou carinhosamente em sua casa.
Com o passar do tempo, Rose foi apegando-se aos moradores da região, e se tronando querida para todos. Os cidadãos também prometeram total sigilo sobre sua existência, já que Rose preferia que Filipe não soubesse que estava viva. Conforme o decorrer dos dias meses, um sentimento começou a surgir entre Rose e Andrew, um sentimento puro de pai para filha, algo que Rose nunca havia recebido antes. E numa bela noite, estavam eles conversando sob a luz das estrelas enquanto as admiravam.
- Pai, eu já te contei tudo sobre mim, mas não sei nada sobre você. Onde aprendeu a lutar tão bem? Você cresceu aqui mesmo nesta cidade? – Rose perguntou curiosa e Andrew respirou fundo preparando-se para lhe falar sobre seu passado.
- Eu morava na capital de Helsken, assim como você, junto com meus pais. Meu pai vivia devendo dinheiro aos mais ricos, e nunca tinha como pagar, por isso recebia sempre uma “lição” para aprender a cumprir com suas obrigações.
Certa vez, estávamos em casa em nossa mesma rotina do dia-a-dia, quando os homens do sargento Miguel apareceram em nossa porta, e deram uma surra no meu pai. Eu observei tudo enquanto minha mãe me tinha entre seus braços e chorava em meu ombro; ao terminarem a pancadaria, os soldados disseram ao meu pai que se ele não pagasse tudo o que devia ao sargento até o dia seguinte, matariam a mim e a minha mãe. Meus velhos entraram em desesperam, e naquele momento só viram uma solução: vender-me como escravo para o rei Elias. Eu não fiquei com ódio deles, eu os entendia, afinal era melhor um filho escravo do que um filho morto. Bom, foi isso que pensei até descobrir que com o dinheiro da minha venda, eles fugiram para longe do reino.
Eu fui humilhado durante todo o tempo em que estive lá dentro, mal era alimentado, e quando me davam de comer, eram apenas ossos com um pouco de carne entre eles, e outros restos de comida, nada tão diferente do que eu já comia em minha casa.
Eu trabalhava diretamente para o rei, servindo-lhe de todas as formas. E num certo dia, estava eu limpando as pratarias, quando avistei o que parecia ser um suculento bolo de cenoura. Não me consegui me conter, precisei roubar um pedaço, mas fui apanhado por um dos guardas que por ali passava e recebi um doloroso castigo. Fiquei por bastante tempo apanhando apenas para satisfazer o soldado de seu tédio, até que chegou o sargento Max ordenando que seu inferior parasse imediatamente com aquele ato e foi imediatamente obedecido. Aquele bom homem reergueu-me do chão, e presenteou-me com uma fatia daquele bolo e assim pude saciar minha fome. Dali em diante, nos tornamos amigos, ele era como um irmão para mim, eu compartilhava todos meus sentimentos com ele e até mesmo contei-lhe sobre meu maior e impossível sonho, coisa que não havia contado nem para meu pai. Falei para ele sobre minha ambição de ser o primeiro rei negro de toda a história do mundo, e por um segundo tive a certeza de que ele iria rir de mim, mas o que fez foi ao contrário: ele me encorajou! Lembro-me de suas palavras ditas para mim, “um rei não pode ser fraco magro desse jeito, por isso lhe tornarei um homem forte!”. Desde então, todos os dias treinávamos às escondidas e eu me sentia realizado, até que enfim os dias bons acabaram. Fomos pegos em flagrante pelo próprio rei que enfureceu-se com a atitude de Max que foi condenado à pena de morte e eu fui obrigado a assistir tudo. Meu irmão foi enforcado diante dos meus olhos e eu não pude fazer absolutamente nada, a não ser encarar tudo de cabeça erguida, recordando de uma lição que recebi de meu mentor: “reis nunca choram”. Com isso fui capaz de seguir em frente, e meses depois fugi do palácio e vim para nessa cidade onde fui acolhido pelo povo. – Andrew terminara de contar sua história com o rosto banhado em lágrimas, e Rose com seus dedos, enxugou-as.
-nPai, reis não podem chorar! – disse Rose afim de confortá-lo emocionalmente.
Permaneceram ali jogando conversa fora por mais alguns minutos, até que enfim, Rose adormeceu, Andrew a carregou pelos braços conduzindo-a à sua cama, logo após resolveu visitar a vidente Samantha que morava em uma tenda aos derredores da cidade.
- Andrew, que honra recebê-lo aqui! – disse a vidente dando-lhe boas-vindas.
- Samantha, como vai?
- Vou bem, mas diga logo o que você quer. Com certeza não vieste aqui apenas para perguntar como estou. – indagou Samantha curiosa.
- Pois bem, desejo saber do futuro de minha filha adotiva, Rose. – Andrew fez o pedido, porém estava aflito pela resposta.
Samantha inicia seu trabalho, porém não há êxito, algo a impedia de prever o futuro da jovem Rose.
- Há algo errado, Andrew, não consigo ver nada, está tudo escuro e sombrio. – disse Samantha.
- Tudo bem, desculpe incomodá-la. – disse Andrew seguindo em direção à porta.
- Rose? É a garota da profecia, não é? – perguntou a vidente. – Você não devia apegar-se à essa garota, Andrew, você só irá sofrer mais!
- Samantha, já fizeste teu trabalho, agora deixe-me ir. – disse Andrew já irado.
- Eu sei que ela é muito parecida com sua falecida filha, mas cultivar esse sentimento só vai te machucar!
- Cuide de seus problemas, mulher! Se não há nada que você possa fazer então estou indo embora. – enfurecido, Andrew saiu da tenda, e mais à frente parou e encarou as estrelas, lembrando de sua família. Não conseguiu contar para Rose que dois anos depois de ter fugido da capital, casou-se e teve uma filha, que infelizmente foi assassinada juntamente a sua esposa por soldados que o culpavam pela morte do sargento Max. Agora mais do que nunca Andrew temia pelo destino de Rose.
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Rose A Matadora De Reis
Science FictionSinopse do livro: O livro retrata a vida da jovem Rose, uma garota negra que sonha em se tornar uma guerreira do exército real, porém isso é impossível na época em que vive graças aos preconceitos e leis de seu reino. Mais tarde, após se envolver em...