Caio.
O dia de hoje é sempre o dia mais difícil e triste do ano pra mim, é o dia a qual todas minhas lembranças ruins voltam a tona e eu me fecho pra tudo é pra todos novamente.
Hoje faz exatamente vinte e sete anos que minha se foi, mas em minha mente tudo ainda está muito claro e vivo.
Eu me lembro claramente de cada detalhe dela, ainda me lembro do seu cheiro do seus cabelos, da sua voz doce e mansa e do calor receptivo do seu abraço.
É muito difícil pra mim lidar todos os dias com a ausência da minha mãe e vê o meu pai livre vivendo uma boa vida tendo feito tudo que ele fez, isso me mata aos poucos.
Eu tenho me controlado todos os dias pra não fazer uma loucura, não sei quantas vezes eu me segurei pra não matar aquele velho desgraçado.
Hoje em dia é engraçado ouvir diariamente as pessoas me pedindo pra perdoa-lo, mas pra mim não existe perdão para o que ele fez, ele acabou com minha vida e tirou o que eu tinha de mais valioso.
O mais difícil tudo é saber que mesmo depois de anos crimes como esses acontecem todos os dias e os criminosos não são punidos, quantos filhos perderam a mãe por causa de um homem agressivo e possessivo? Ou melhor quantos ainda precisarão perder pra existir uma lei que funcione?
O que me resta é aprender a conviver com a saudade que eu sinto e fazer a lei valer a pena enquanto eu estiver aqui.
Batidas na porta dispersaram meus pensamentos, desviei meu olhar do teto e encarei a enorme porta de madeira maciça que á a minha frente.
- seja quem for pode ir embora.- disse sem exitar, mas a pessoa voltou a bater na porta.
Me levantei da cama e caminhei em direção a mesma, é sempre a mesma merda, ninguém ouve minhas ordens na porra dessa casa.
Abri a porta com toda minha força e Maria mudou sua postura assim que a mesma foi aberta, ela ficou completamente ereta, deu um sorriso amarelo e jogou a cabeça de lado.
- mas que porra Maria, você é surda por acaso?!- digo sem a mínima paciência.
Ela balançou a cabeça negando rapidamente e abaixou o seu olhar o desviando de mim.
- então diz logo o que você quer?! Não vê que quero ficar sozinho...- digo perdendo o resto de paciência que me restava.
Ela me encarou, mas não sustentou o olhar por muitos segundos, ela juntou suas mãos de uma forma tímida e deu um suspiro fraco.
- é que o senhor está preso nesse quarto o dia todo, queria saber se está com fome ou se quer que faça algo pro senhor.- ela logo respondeu.
Dei um suspiro tentando me mantér calmo.
- Maria, se eu quisesse algo eu mesmo iria até você é pediria, a única coisa que quero nesse momento é ficar a sós, será que você entende?!- eu disse olhando diretamente nos seus olhos.
Ela acenou com a cabeça confirmando, deu as costas e saiu andando pelo corredor em direção a escada.
Eu fechei a porta e até pensei em voltar pra cama, mas algo me mandou ir até a sacada, caminhei até a mesma e olhei para baixo, Patrícia está ali ou melhor Pit Bull...ela está diferente desde o dia do treinamento, ela ficou ainda mais distante e fria.
Eu nunca conheci mulher nenhuma como ela, ela parece não ter sentimentos, empatia ou amor pelo próximo, vive sempre com a mesma cara amarrada pra cima e pra baixo e parecer não ter vínculo com ninguém, parece não ter amigos, colegas de trabalho e até família.
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CAMINHOS CRUZADOS (DEGUSTAÇÃO)
RomancePatrícia Villela era apenas uma criança quando descobriu o quão obscuro o mundo podia ser e essas lembranças ainda se mantém vivas e intactas em sua mente, apesar de toda sua raiva, tristeza e mágoa ela se tornou uma promissora agente federal, a mel...