Patrícia.
Eu fui criada pra ser uma pessoa forte, tudo que eu passei na vida me jogou em uma situação aonde eu não podia mais fraquejar, dar pra trás ou até mesmo chorar, mas quando Caio me contou sobre sua situação eu não consegui me segurar, suas palavras me levaram até um passado não tão distante que me fez refletir sobre tudo que já me feriu e o que me foi tirado e quando as lembranças se fizeram presentes em minha memória eu não consegui não chorar.
Eu me lembrei de absolutamente tudo que já aconteceu em minha vida e eu cheguei a conclusão que eu não tenho se quer uma boa memória, tudo que houve em minha vida foram coisas que me machucaram ou que me fizeram chorar, foram situações ruins atrás de situações ruins.
Eu vivi anos de martírio nas mãos do meu próprio pai, depois veio uma adolescência complicada aonde os meus traumas da infância me prendiam pra qualquer tipo de relacionamento afetivo, anos depois chegou meu padrasto com mais abusos, minha mãe me renegando como filha e por fim e mais doloroso a morte da minha avó, a única pessoa a qual me mostrou o que era amor, a única pessoa que me ofereceu um lar, uma família.
Eu tento ao máximo não ser fraca, mas olhando de onde eu estou é impossível não ter vontade de chorar.
Sai do carro assim que ele o estacionou na garagem, as lágrimas ainda escorrem por meu rosto e eu não consigo me controlar, corri para o banheiro dos funcionários e fechei a porta atrás de mim, eu me sentei no chão e chorei como eu não fazia a anos, chorei como eu fazia quando era uma criança e estava machucada, chorei por um tempo na esperança de lavar minha alma.
Me levantei me olhando no espelho assim que o choro cessou, lavei meu rosto na pia e dei um suspiro longo e pesado.
- está tudo bem!- disse pra mim mesmo.
Fechei os olhos e tentei mentalizar em algo bom, a única coisa que veio em minha mente foi a imagem da minha querida avó, o sorriso que ela dava a cada manhã, o seu abraço caloroso e na maneira que ela acreditava em mim.
Eu bem que queria ter boas recordações da minha mãe, bem que queria ter uma amizade com ela, mas eu não consigo perdoa-la depois de tudo que ela me faz me fez passar.
Abri a porta do banheiro e sai do mesmo dando de cara com Maria, a governanta da casa.
- Menina Patrícia...- ela disse abrindo um enorme sorriso assim que me viu.
Sorri de lado colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- bom dia, como vai a senhora?!- a comprimentei.
Ela manteve o sorriso nos lábios e acenou com a cabeça, essa senhora me lembra muito a minha falecida avó, ela é uma senhora por volta de sessenta anos, baixinha, suponho que tenha no máximo um e sessenta de altura, negra da pele escura e cabelos lisos e grisalhos.
- você está com fome?! Eu posso preparar um sanduíche bem gostoso pra você...- ela se ofereceu.
Balancei a cabeça negando no mesmo instante.
- não precisa, eu estou bem.- falei.
Ela me pegou pela mão me arrastando mesmo com a minha resposta.
- imagina, eu faço questão, adoro vê todos dessa casa muito bem alimentados...- ela falou enquanto me puxava em direção a cozinha.
Quando chegamos no cômodo ela me pediu pra sentar em uma das cadeiras em frente a bancada pra aguada-la enquanto ela preparava o sanduíche.
- posso te fazer uma pergunta?- ela já perguntou enquanto me prepara o sanduíche, ela me encara de rabo de olho e com um sorriso pequeno nos lábios.
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CAMINHOS CRUZADOS (DEGUSTAÇÃO)
RomancePatrícia Villela era apenas uma criança quando descobriu o quão obscuro o mundo podia ser e essas lembranças ainda se mantém vivas e intactas em sua mente, apesar de toda sua raiva, tristeza e mágoa ela se tornou uma promissora agente federal, a mel...