Patrícia.
Saí daquela sala batendo a porta com toda força e raiva que havia em meu corpo.
Aonde já se viu "o" homem vir querer me ensinar como trabalhar, ele pode ser um homem inteligente e muito bem sucedido, mas eu sei muito bem o que fazer e como executar o meu trabalho sem a ajuda de ninguém.
Eu sei que aprendemos coisas novas todos os dias e tudo pode servir como aprendizagem, mas pude vê em seu olhar que ele estava duvidando da minha capacidade, é sempre assim, as pessoas vêm que sou mulher e me enchem de questionamentos como se uma mulher não pudesse ser uma agente, como se "isso" fosse feito apenas pra homens.
- está tudo bem?- Douglas perguntou quando parei ao seu lado.
Fechei os olhos dando um suspiro em busca de me acalmar, abri os olhos o encarando e acenei com a cabeça confirmando.
- O Caio é um homem muito cheio de regras e manias, ele deve estar receoso, ainda mais por ser uma mulher em frente ao caso...- ele falou com tranquilidade.
O encarei de relance, mas decidir manter minha calma e não rebater o seu comentário, eu fiquei em silêncio de pé ao seu lado encostada na parede olhando a "movimentação" da casa, na verdade não estava acontecendo nada, mas como o cara estava plantado ali eu decidi o imitar.
Ele está de pé ao meu lado fumando um cigarro, o olhar dele está sobre mim e ele me encara com um certo afinco, me virei em sua direção e levantei uma sobrancelha.
- você quer me fazer alguma pergunta?- o questionei sem entender seus olhares sobre mim.
Ele jogou seu cigarro no chão apagando o mesmo com pé, deu um sorriso de lado e deu um passo a frente.
- você é uma mulher muito bonita, não acho que essa é a profissão ideal pra você...- ele diz com a maior tranquilidade do mundo, com um sorriso nos lábios e tudo.
Inclinei a cabeça sem entender sua pergunta, cruzei os braços e cerrei os olhos.
Essa é a coisa que eu mais escuto todos os dias "mas você é mulher, não é muito perigoso", pra mim essa pergunta já faz parte do meu dia a dia e hoje eu nem esquento a cabeça, mas vamos vê até aonde essa conversa pode ir.
- por que?- perguntei mantendo minha postura.
Ele deu uma risadinha dando os ombros e balançou a cabeça.
- você sabe, é uma área aonde você corre riscos todos os dias, uma mulher não está pronta pra algo assim...- ele diz como se aquilo fosse normal.
- eu estou ciente de onde eu estou pisando e não tenho receio de nada, se eu tivesse medo da morte não levantaria da cama manhã atrás de manhã!- afirmei.
Ele deu os ombros ignorando minhas palavras.
- você não deve ter um homem, não é?! Até porque um homem jamais aceitaria se casar com uma mulher que quer bancar a poderosa.- ele diz em um tom sarcástico tentando me provocar.
Dei um sorriso irônico e me irei olhando no fundo dos seus olhos.
- realmente, homem nenhum aceita se relacionar com uma mulher mais "poderosa" que ele, geralmente "homens" como você gostam de mulheres alienadas que aceitam tudo que vocês dizem, realmente deve ser muito difícil pra você se relacionar com uma mulher que não lambe o chão que você pisa.- disse mantendo o meu sorriso nos lábios.
O sorriso irônico que estava no rosto dele sumiu em segundos, sua expressão mudou e uma feição carrancuda se formou em seu rosto, ele fez questão de se afastar de mim e ficou me encarando de longe com ódio nos olhos, já eu me mantive inerte, fiquei em meu lugar fazendo o meu trabalho normalmente.
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CAMINHOS CRUZADOS (DEGUSTAÇÃO)
RomansaPatrícia Villela era apenas uma criança quando descobriu o quão obscuro o mundo podia ser e essas lembranças ainda se mantém vivas e intactas em sua mente, apesar de toda sua raiva, tristeza e mágoa ela se tornou uma promissora agente federal, a mel...