12° Capítulo

29.6K 2K 687
                                    


Contra todas as minhas vontades eu estava na casa do cretino, em uma cadeira de rodas, com três pequenas criaturas tentando me agradar. Eu virei uma boneca. Enquanto Charlie fazia sabe-se lá o que com meu cabelo, Lauren pintava as minhas unhas e Thomas mexia nas milhares de roupas que Jessica fez questão de trazer junto.

Por algum motivo, qual eu presumo ser por insistência dos gêmeos, o cretino botou na cabeça que eu teria uma recuperação melhor se eu estivesse aqui, cercada por empregados e com um quarto que, em menos de uma semana, foi adaptado para uma cadeirante. Seria fofo, se isso tudo não tivesse vindo em forma de ordens.

"Anabelle ficará na minha casa";
"Este será seu quarto Anabelle";
"Não faça nada sozinha";
"Eu não perguntei, eu vou te acompanhar na fisioterapia e ponto final".

Hoje faz exatamente duas semanas que eu fui liberada do hospital, e caso alguém se pergunte porquê fiquei tanto tempo presa naquele lugar, tudo se resumi a porcaria de uma farpa de madeira que ficou na minha caluna e uma infecção de todo o tamanho em resultado. Apesar de todos os dias que se passaram o cretino ter levado as crianças para passar a tarde comigo e Jessica, literalmente, ter roubado a cama do quarto ao lado para dormir comigo, eu tenho me sentido muito sozinha e desanimada. Apesar da minha mãe ter ido me visitar algumas vezes (levando bolo de chocolate para suborno de desculpas, o que funciona sempre desde meus cinco anos) meu pai não havia posto os pés no hospital, ele sequer atendia minhas ligações e aquilo estava me consumindo por dentro.

Nessas duas ultimas semanas o cretino não tem sido um completo... como posso dizer? um completo cretino; Acho que o tempo que ele passou preso em um quarto de dez metros quadrados com três crianças e uma aleijada iniciante mudou seu jeito idiota de ser. Quer dizer, ele continua sendo um completo idiota, porém ele ao menos está sendo um pai para seus filhos, o que na semana em que eu trabalhei em sua casa eu não vi ele fazendo tal papel nenhuma vez. Nesse tempo eu também tive o desprazer de conhecer a mãe dos gêmeos e eu pude entender porque o cretino não manteve o casamento.

- Crianças? - O cretino apareceu no quarto com seu usual terno milimetricamente bem passado.

- A gente não fez nada dessa vez! - Thomas gritou pulando do guarda-roupas e vindo ao meu lado.

Com o tempo as crianças perceberam que a bronca se torna bem mais aceitável quando eu estou por perto, acho que o cretino finalmente aceitou que eu não concordo com o jeito que ele fala com seus filhos e se contém quando eu junto.

- Dessa vez? - Ele arqueou a sobrancelha e Lauren pisou no pé do irmão claramente em um aviso de cale a boca.

- O que quer papai? - Lauren perguntou voltando a pintar minha unha. Talvez vermelho não tenha sido uma escolha muito sábia para uma criança pintar a unha de alguém.

- Já que Anabelle não está em condições de levá-los para seus compromissos eu contratei uma nova babá temporária.

Lauren pintou meu pulso, Charlie arrancou alguns fiosdo meu cabelo,Thomas bateu com o braço em meu ombro quando se virou bruscamente para encarar o pai e eu soltei um grito, tudo no mesmo segundo.

- NÓS NÃO QUEREMOS OUTRA BABÁ! - Os três gritaram ao mesmo tempo.

- Pelo amor de Deus, tenham cuidado! - Ele exclamou e os gêmeos pularam para a frente do pai dando a miníma para as três formas de agressão que eu tomei ao mesmo tempo.

- Não quero outra babá! - Lauren cruzou os braços.

- Me recuso a ter outra babá! - Thomas fez o mesmo que a irmã.

- Não precisamos de outra babá! - Foi a vez de Charlie cruzar os braços.

- Primeiro, você não tem que querer nada, segundo, você não tem como recusar nada e terceiro, vocês precisam sim de uma babá - O cretino falou e os gêmeos bufaram se virando para mim.

A BABÁ (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora