Capítulo 5 - O Feitiço

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Tudo corria bem para Lúcio e Estela. Agora as justas pareciam bem mais fáceis de ganhar, os testes bem mais simples e a vida mais bela. No entanto, não se pode dizer o mesmo da pobre dama de honra. Seu amado - pelo qual os três foram em busca de um antídoto -, sucumbira à peste e morrera, não conseguindo mais resistir à maldição que lhe punham. A dama, desamparada, resolve recorrer a uma bruxa, conhecida tanto por sua magia branca tanto quanto pela negra. Buscou a velha anciã e suplicou por um meio de salvar seu amado das frias garras da morte. A feiticeira sorriu e mostrou os poucos dentes que lhe restavam na boca, e disse que para que o amado dela voltasse, ela precisaria matar um amor que ainda nascia.

A dama de honra passou então a agir contra o jovem casal, envenenando suas mentes com ideias podres e maléficas, com o único intuito de destruir seu amor. Mas cada vez a mulher enlouquecia mais, e se tornava mais insana e agressiva. Um dia, quando o cavaleiro fora encontrar a princesa e a dama lhes acompanhava (como tivera feito em todos os últimos encontros) e carregava consigo um punhal e, no primeiro momento em que teve a oportunidade, apunhalou Lúcio pelas costas, desprotegido, e enfiou a lâmina o mais fundo que pôde, já sentindo o quente e metálico cheiro do sangue jorrando. Logo que o fez, a dama acordou como de um sonho. Mal sabia ela, mas no momento em que entrou nos domínios da bruxa foi enfeitiçada pela mesma, que a induziu a matar o cavaleiro, por pura vingança. A dama não sabia o que fazer, muito menos a princesa, que sentia raiva da dama e dor pelo amado, mas logo entendeu a situação, e uniram forças para levá-lo ao curandeiro da vila. Ele fez o uso de ervas e dos espíritos ancestrais, e disse que o cavaleiro se recuperaria sem danos permanentes. O alívio caiu sobre as duas.

Mais tarde, quando acordava, Lúcio vê Estela sentada ao seu lado, segurando sua mão, ansiosa para vê-lo finalmente abrir os olhos. Quando finalmente o faz, ela não consegue conter-se e o abraça, o que o faz gemer de dor, mas não o impede de retribuir o abraço. Logo que o reencontro termina, ela o questiona sobre o motivo da bruxa querer vingar-se dele, pois ela não conseguia pensar em nenhum.

Lúcio ficara em silêncio no mesmo momento, pois sabia o motivo, mas tinha receio em contá-lo. Temia que ela fugiria com medo, ou talvez repulsa, mas que fugiria. Ele fica inquieto, e insiste que prefere não falar sobre isso, mas ela persiste até fazê-lo ceder, e então ele conta que muitas gerações atrás, um parente seu muito distante aprisionou a bruxa nas terras em que vive hoje, trancando-a com um feitiço para que de lá ela nunca mais saísse, entretanto, antes do homem sair, a bruxa o amaldiçoou, com o fardo de que até que o último dos seus descendentes morresse ela não morreria tão pouco, e que cada um deles teria um peso diferente para carregar, uma maldição que teria que lutar contra. Mas, agora, os descendentes já eram muitos, por isso a bruxa ficava tentada a matar alguns.  Ele explica também que a sua maldição pessoal é que, todos os dias, até o último dia da sua vida, terá que lutar contra o maior, mais feroz e cruel dos dragões, e está fadado ao fracasso, pois nunca conseguiria ganhar. E o inimigo está trancafiado dentro do próprio cavaleiro, logo, ele nem ao menos pode escapar.

A única reação da princesa é encontrá-lo em um beijo ardente que diz tudo que as palavras não poderiam dizer: que ela ficará com ele não importa quantas maldições terão que enfrentar.

A Ira do DragãoWhere stories live. Discover now