Capítulo 3 - A Justa

14 4 0
                                    

Chegado o dia do passeio, que seria no final de sua classe, Lúcio não poderia estar mais nervoso. Nem sequer se lembrava de como era sentir coragem, e sentia que o mais leve vento poderia derrubá-lo como faz a uma palha. O tocar do sino marcava o final da lição, mas também o início de seu encontro. Seu coração parecia escalar o interior de seu corpo para escapar pela boca, talvez para não ver o desastre que Lúcio seria, e ele queria poder fazer o mesmo.

A princesa então chega e, apesar de mais baixa, se destaca na multidão, com toda a sua graça e delicadeza. Lúcio, tímido, não a olha diretamente, finge não a conhecer, mas sente que já a conhece há décadas. Ambos se cumprimentam, nervosos, e iniciam sua jornada. Passam por todas as tabernas e mercados que encontram na busca incessante por um antídoto milagroso. A única que conversa é a dama de companhia que, apesar de ansiosa para encontrar o tão desejado frasco, anseia ainda mais para que o casal tome a iniciativa e passe a interagir entre si. Ao passo que nenhum dos dois faz nada, parecendo dois meros camundongos tontos, a dama resolve começar a juntar a dupla, o que não funciona. No final, tudo fora um fracasso, nenhum antídoto foi encontrado e nenhum sinal trocado, mas bastou para que o coração de Lúcio se inflamasse ainda mais, e ele ainda não sabia se gostava daquilo.

Dias depois, o cavaleiro toma coragem e convida a princesa para ir assistir uma justa, da qual ele não participaria, é claro, mas era um dos únicos entretenimentos disponíveis na vila. Prontamente ela aceita, o que o faz ficar nervoso novamente, já que tinha um verdadeiro encontro marcado. Um fato interessante sobre Lúcio é que jamais sentira medo ao enfrentar o mais terrível dos dragões ou a mais traiçoeira das bruxas, mas bastava que a princesa se aproximasse e toda a sua coragem fluía dele como água de uma cachoeira.

Chegado o dia da justa, Lúcio se via na entrada da arena, com uma caixa de caramelos que comprara com o dinheiro que ganhara em uma ótima aposta contra um gnomo. A justa já estava prestes a começar, e a princesa não dava sinal de aparecer, deixando o cavaleiro cada vez mais preocupado, e já aceitando a ideia de que ela não viria mais. No entanto, ele mal concluíra seu pensamento e Estela chegava, deslumbrante, usando uma calça simples e uma blusa, ao contrário de todas as donzelas presentes, sufocadas em seus vestidos e amarras, o que a deixava ainda mais bela.

Durante a justa, parecia que o cavalheiro recebia cada golpe dado na arena, se culpando por não ter coragem de beijar a nobre dama. Mas, melhor que isso, ela agora se deitava em seu ombro, e nada poderia ser mais perfeito. No final do espetáculo, nada além daquilo havia acontecido, o que preocupava Lúcio. "Talvez ela tenha me achado feio como um troll", "ou talvez eu esteja com o bafo de uma salamandra". Nada parecia certo, mas então ele tomou coragem e pediu um beijo, que logo foi dado. Seu peito queimou como nunca queimara antes. Seu corpo todo sentiu algo que nunca sentira antes. E o beijo, estranho e errado, mas ainda assim parecia certo e perfeito.

Agora, a princesa esperava pela chegada da carruagem dos seus pais, e Lúcio, como bom cavalheiro, esperava com ela, disposto a protegê-la de qualquer perigo, e esperando ganhar mais um beijo, talvez. Chega a carruagem e, na despedida, o cavalheiro tenta dar outro beijo, para que terminassem a noite com um desfecho perfeito, mas ela não o correspondeu, e aquilo teve o mesmo efeito que uma espada banhada em veneno de uma cobra do deserto sendo enfiada lentamente em seu coração.

Agora mais do que nunca Lúcio sabia que havia sido flechado, e quem dera ter sido flechado por um elfo ou por uma besta, mas era pior, ele tinha sido alvo da mais cruel e manipuladora criatura de todas: o cupido.

A Ira do DragãoWhere stories live. Discover now