Guardiões do Amanhã

V

Desculpem qualquer erro.

Um grande quadro enfeitava uma das paredes da sala privada do Lorde Gavriel. É tão grande que, assim que entrei na sala e meus olhos pousaram sobre ele eu não consegui desviá-los durante muito tempo, tentando absorver cada detalhe dele.

As pinceladas delicadas e ao mesmo tempo fortes e precisas compõem uma cena um tanto quanto caótica, ta ai um dos motivos para que eu ficasse muito tempo observando-a, há muitos detalhes que poderiam passar despercebidos para uma pessoa pouco observadora. De cara, uma grande figura branca prendeu minha atenção, um grande dragão branco com suas enormes asas bem abertas rugia em desafio a qualquer um que se atrevesse desafiá-lo, enquanto embaixo dele uma guerra acontecia. Monstros, humanos, elfos, witianos... todos lutando entre si furiosamente, enquanto centenas já estavam caídos aos seus pés, mortos. E ali, bem no canto da tela uma pequena figura branca se sobressai.

Mesmo sendo relativamente pequena, principalmente se compararmos ao grande dragão e todo o resto, o artista parece ter se dedicado muito para pintá-la e dá-la o máximo de detalhes possível, como se a qualquer momento sua musa fosse embora, e ele não tivesse mais oportunidade de retratá-la. Uma mulher de longos cabelos brancos trajando uma armadura prata brilhante, com uma capa vermelha voando suavemente junto com seu cabelo e uma espada em sua mão esquerda, parecia estar... triste enquanto olhava para toda a matança que acontecia abaixo dela. E se olhasse mais de perto, havia outra figura bem atrás dela, um homem aparentemente, mas não posso distinguir, pois o artista parece tê-lo pintado somente porque ele estava ali, e não porque ele realmente quisesse ou achasse importante para a obra.

_Dizem que foi pintado durante a guerra, no meio de todo aquele caos, esse artista arriscou sua vida para pintar a maior obra da sua vida – de repente a voz de Gavriel me tirou do transe que eu estava, sua voz parecia... saudosa ao falar da pintura e para ao meu lado para observá-la – Ela nos conta tanto da história, talvez até mais do que os livros.

_Você acha que há algo a mais por trás da pintura?

Gavriel abriu um pequeno sorriso enigmático antes de voltar a encarar a pintura – Difícil dizer. Já me vi aqui, parado durante horas tentando absorver cada detalhe dela que me pergunto se as coisas que percebi são realmente verdadeiras, se o artista quis passar determinadas mensagens, ou se é tudo fruto da minha imaginação, querendo ver onde não há nada pra se ver.

_Acho que podemos aprender muito com esses pequenos retalhos do passado deixado pra nós. – comentei depois de um tempo em silencio.

_De fato... Dizem que a ultima Rainha, Evangeline enlouqueceu antes de tudo. Que ela só falava em outros mundos, guerra, destruição, outros seres inteligentes e coisas assim.

_Mas nós já não sabíamos disso?

_Muitos pensam que sim, mas a verdade é que nem todos sabiam, e os que sabiam não queriam admitir que ela estava certa porque poderia causar caos em todo o planeta. E era ainda mais difícil de acreditar, pois ela falava que eram os dragões que estavam contando isso e outras coisas pra ela.

_E então fizeram todos acreditarem que sua Rainha estava louca? – levantei uma sobrancelha – Definitivamente um bom plano – ironia transbordava na minha voz.

Gavriel riu levemente – Concordo, não sei o que estavam pensando na época, mas não durou muito tempo, pois logo os humanos chegaram naquela espaçonave e todos viram que ela estava certa. E por ter estado certa antes, confiaram em seu julgamento de deixá-los ficar.

_Você acha que não foi à decisão certa – não era uma pergunta.

Gavriel andou até a mesa onde o chá tinha sido servido e calmamente encheu duas xícaras, parecendo digerir tudo.