Capitulo seis
Caçadores
Nada. Nessa noite nada. Nenhum sonho. Nenhum pesadelo. Nenhum grito ou gota de suor. Apenas, uma noite tranquila com a qual muito tempo não tenho. Estou enrolada entre as cobertas e me demoro a levantar. O sol ilumina o quarto e olho o relógio na parede. São oito e meia.
- bom dia! - Diz Lize me olhando de cima. Ela sorria animada. Me sento com a visão embaçada. Franzo a testa e sorrio para ela.
- Bom dia. Qual o motivo de tanta animação? - Pergunto confusa. Espreguiço-me bocejando.
- O café da manhã será ao ar livre novamente e...
A porta de entrada faz barulho. Ambas viramos para ver quem está entrando no quarto. Não acredito no que vejo. Uma calça preta justa, botas estranhas e nada bonitas e um casaco fechado preto justo. Seus cabelos pretos puxados para trás e presos. Rose.
- Mas o que é isso Rose? Se for mais uma de suas crises de estilo...
- Não Lize. A diretora está chamando todos os alunos na ala norte. Disseram que é urgente. - Declara Rose em tom sério e a face rígida.
Lize a encara e ela está perdida igual a mim. Quanto tempo se passou enquanto eu dormia? Por que Rose estava com um tipo de uniforme e sabia de tudo antes que nós mesmas? Está tudo muito diferente. Rose está diferente e os pensamentos dela também. Me recuso a lê-los para não me arrepender depois.
- Rose, o que está havendo? - Pergunto jogando as cobertas de lado e me levantando. Ela não responde a minha pergunta e desvia os olhos dos meus.
- Eu não sei. A diretora mandou que avisasse todas as cabanas para vestirem-se e irem para a ala norte. Eu não faço ideia do que está acontecendo. - Diz ela parecendo angustiada. Ela está angustiada, ansiosa e nervosa. As emoções dela são um ninho em guerra.
Lize abre o guarda-roupa e pega peças de roupas pretas iguais a de Rose. Parece que todos esperavam por isso menos eu. Mas, acho que não esperavam por "isso" hoje. Sela lá o que for "isso". Seguimos Rose até a ala norte. Ela está andando em passos largos e rápidos.
Há campistas para todos os lados vestidos iguais a nós. Tudo está uma confusão, um caos. Há um palco montado improvisado a frente de todos e não só como Maitê, mas como também o homem dos contadores de lendas está conversando com ela. A mulher dele não está presente, somente a senhora e o garoto que eu conversara.
A senhora está sentada em uma cadeira e chora. Brad parece estar confortando-a. Não sei do motivo, mas parece que todos vamos descobrir. A diretora se posiciona na frente e bate com a mão no microfone.
- Por favor silencio! - pede ela. Ninguém lhe dá ouvidos e todos continuam andando feito loucos de um lado para o outro. - Quietos! - Grita ela.
Todos param. Um silencio horrível permanece por alguns segundos enquanto Maitê tenta recuperar a voz. A tensão se espalha atingindo todos nós como uma onde preocupação e medo. Ela pigarreia.
- Escutem! Noite passada, aconteceu uma coisa que não deveria ter acontecido e acreditem, quando digo não, quero dizer nunca. - Ela para por alguns instantes e depois continua: - Uma bruxa foi morta na cidade. Uma Evoluta.
Um tumulto de murmúrios percorre a fileira de campistas. Nem percebi que tínhamos feito uma fila em frente ao palco; eu estou concentrada demais em Brad, tentando ouvir o que ele fala para a senhora. Não consigo ler os pensamentos dele. Há uma parede me barrando e está trancada a sete chaves.
- Silencio! - Pede ela novamente. - O sangue da vítima, foi drenado. Deixaram um aviso para quem encontrasse o corpo. Eles não vão parar, até matar todas as Evolutas.
Vários protestos e algumas pessoas gritam sobre ser injustiça. Não vejo por que. Não é injustiça, só se for com a minha "raça", mas a menina que gritou, não é como eu. Ela é uma fada.
O homem sussurra algo no ouvido de Maitê e sua expressão fica preocupada e tensa. Todos estão do mesmo jeito, menos eu. Para quem me olha, pareço que sou fria e não ligo para isso. Mas, ligo sim. Meus sentimentos estão armados e preparados para qualquer tipo de coisa depois do que passei. Tudo está uma bagunça dentro de mim. A diretora volta ao microfone.
- Robert sugeriu, que treinemos. Todos! Se o pior acontecer, temos que estar prontos, não podemos ser alvo fácil e ficar despreparados! Por isso, as Evolutas serão treinadas todos os dias e cada um será encarregado de protege-las.
- Não! E quem irá nos proteger? Morreremos por elas? Não é justo! - Grita a mesma menina que protestou antes. Maitê a encara com um olhar crítico. Suas bochechas ganham cor.
- Se alguém aqui, não está disposto para protegê-las por ter medo e quiser se retirar, eu autorizo. Mas, quem sair; estrará sendo covarde e sairá do acampamento. - Diz a diretora fuzilando a menina com o olhar. - Mais alguma coisa senhorita?
A garota se encolhe e fica em silencio. Encaro ela e sinto o medo correndo em suas veias. O medo de ser morta. O medo de ser morta protegendo alguém que não importa para ela e oferecendo como isca a própria vida. Ela começa a andar e se afasta de nós. Ela volta para sua cabana. Ela desistiu. Ela vai embora. Assim como outras pessoas que se retiram também.
- Eu ajudo. - a voz sai da multidão e reconheço na mesma hora. É Dylan. Ele dá um passo à frente e permanece firme no local. Todos olham para onde ele está e Rose anda para frente.
- Eu ajudo. - Diz ela com a voz firme e encarando a diretora. Algumas pessoas começam a ir para frente e logo todos estão em uma fileira novamente, só que a frente de onde estavam. As Evolutas ficam paradas no lugar.
Uma, duas, três, quatro... dezesseis e dezessete comigo.
- Quero que saibam, que todas correm perigo. Não somente as do acampamento, mas todas as que existem. - Fala ela olhando para cada um de nós. - Os campistas que estão aqui a mais tempo serão os treinadores, assim como os guardiões. Comecem, e tenham cuidado.
A diretora estrala os dedos e vários instrumentos e construções de metal aparecem ao ar livre. O palco some e os campistas começam a se preparar. Vejo o homem seguindo Maitê para a sala dela levando a senhora. Brad fica e resolvo falar com ele.
- Oi. - Digo. Ele sorri. Um sorriso triste e os olhos cansados. - O que foi? - Ele não responde, apenas abaixa a cabeça para esconder o sofrimento obvio em seu rosto.
- Nada.
- Foi sua mãe, não foi? - Pergunto cautelosamente. Brad balança a cabeça indicando que sim. Nesse momento, sinto como se fosse a minha mãe. Deve ser uma dor insuportável perder uma mãe. Por mais que ela te mande para um acampamento contra sua vontade com gente querendo te matar por ai. - Sinto muito.
- Chole! - Grita Lize me chamando para se juntar a ela. Passo um gesto para ela esperar. Volto os olhos para Brad. Ele força um sorriso e entendo como um sim; de que posso ir. Sorrio de volta e aceno. Caminho até Lize e Rose.
- Qual é o plano? - Pergunto como se houvesse um.
- Rose vai nos treinar. Ela é uma das primeiras campistas. - Responde Lize. Acho estranho, por que pelo que li, esse acampamento foi criado a mais de trezentos anos. Como Rose poderia estar viva?
- Chole, tenho um dom a mais com que qualquer outra. Imortalidade, por causa de uma poção que fiz a anos. Agora vem, consegue escalar? - Fala Rose. Olho para ela arqueando a sobrancelha.
- Escalar? - Pergunto com a vacilando a voz.
- Acho que não Rose. - Diz Dylan se aproximando. Rose revira os olhos e o encara. - Falta gente no meu grupo de treinamento e o seu tem um a mais. Você vem comigo Chloe. - completa ele colocando as mãos em minhas costas e levando-me. Paro e viro-me.
- Não vou. Quero ficar com a Rose. - Protesto de cara feia. Como ele ousa? Ele sorri amargamente e depois fecha a cara. Olho para as minhas amigas e elas estão trocando explicações do treinamento. Dylan mantem as mãos em minha cintura me puxando. Paro de resistir e me solto.
- Ah você vai vem sim.
- Consigo andar sozinha.
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Acampamento: Darkshadow
Teen FictionEu corria. Não sabia para onde estava indo. Ele me perseguia e queria alguma coisa que eu não podia lhe dar. A floresta estava escura e a luz da lua não penetrava os galhos das arvores enormes. Tropeço em uma raiz espessa e meu corpo se choca contra...