Capítulo 2

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Passamos o dia todo a treinar, cheguei a escolher todas as armas colocadas em cima da mesa mas não venci Conrad em nenhuma das vezes. Apetecia-me desistir, chorar mas não o fiz, continuei a tentar e a lutar tal como os meus passados fizeram, parecia que cada vez que me esforçava mais, cada vez Conrad me derrotava mais facilmente. Ambos tínhamos escolhido umas espadas lóricas, Conrad limitava-se a atacar eu a defender-me, a espada acertou algumas vezes mas os arranhões eram na sua maioria superficiais e apesar de me arderem bastante, a dor não era a minha maior preocupação no momento. Mais uma vez Conrad ganha-me ao fazer um único golpe que me faz largar a espada imediatamente, atirando-a para longe. Suspiro.

-Outra vez.- Diz ele.

-Podemos fazer uma pausa?-Pergunto esperançosa. Conrad assente e dá para entender que ele também está cansado. Entro na nossa pequena casa e dirijo-me à cozinha onde bebo uma garrafa de água praticamente toda, Conrad segue-me e faz a mesma coisa. Pego numa banana e começo a devora-la, estava cheia de fome para dizer a verdade, tínhamos passado a manhã e a tarde praticamente toda a lutar, parando apenas para desinfetar algumas das minhas feridas mas profundas. Já não tinha muito mais espaço no meu corpo onde não estive algum arranhão. Acabo de comer a banana e pego logo noutra e depois em uma maça. Acho que nunca comi tanta fruta num pequeno espaço de tempo.

-Já estou pronta.-Digo largando a peça de fruta que tinha na mão.

-Acho que por hoje já chega, precisamos ambos de descansar.- Diz Conrad enquanto se senta na mesa do computador e abre meia dúzia de sites ao mesmo tempo.

-Mas os mogadorianos não vão parar e esperar que eu descanse.- Digo repetindo o que Conrad dizia praticamente sempre que tínhamos um treino e eu pedia uma pausa.

-É verdade mas não consegues vence-los nesse estado.-Responde-me.

Não digo mais nada e sento-me ao lado dele enquanto ele faz várias pesquisas.

-Bem, nesse caso vais ter que me ensinar algumas técnicas informáticas.- Digo tentando fazer com que ele não fique tão desapontado comigo.

Conrad abre mais espaço para eu também conseguir ver o computador e começa-me a explicar alguns programas e códigos que nos permite codificar e descodificar alguns sities e também a procurar palavras chaves que podem referir-se a Lorien e aos outros Guard's. Passamos o que acho serem menos de duas horas sentados à frente daqueles grandes ecrãs até que ouço um barulho mesmo ao meu lado. Olho para o Conrad e ambos rimos instantaneamente, estavamos com alguma fome e por isso a barriga do meu Cêpan fez um barulho.

-Acho que devíamos parar um pouco e ir jantar.-Digo ainda a rir um pouco.

-Concordo Maggie, mas vamos jantar à cidade e comer algo mais que as minhas comidas sem sabor.-Diz Conrad também ainda a rir.

Fomos ambos tomar um banho pois ainda não tínhamos tomado depois do nosso treino intensivo, vesti uma roupa simples e fui ter ao carro onde Conrad me esperava. Fomos jantar a um pequeno restaurante no centro das cidade, nunca pedimos tanta comida como pedimos hoje.

-Mando vir as sobremesas?- Pergunto-lhe.

-Sim mas não abuses, não podes combater os mog's com uma pança de doses.- Responde-me ele.

-Claro que não.- Digo rindo-me e levantando a mão para chamar o funcionário que vem praticamente logo ao meu encontro.

-Queria um gelado de três bolas, uma de manga, outra de maracujá e outra de baunilha, por favor, pai queres pedir alguma coisa?- Pergunto a Conrad, visto que, publicamente ele era o meu pai e não o meu Cêpan, designado para me treinar e me proteger contra uma raça que nos caçava.

-O mesmo.- Responde-me ele sorrindo.

O empregado acena com a cabeça e dirige-se ao balcão onde fala com outro funcionário para ir preparar as nossas sobremesas. Comemos o resto do jantar calmamente e à medida que as pessoas iam saindo do restaurante, eu e Conrad sentíamos mais à vontade para falar-mos.

-Achas que ainda vai demorar muito até desenvolver a telecinese?-Pergunto-lhe.

-Não é nenhuma ciência exata, os legados, eles só aparecem quando estás pronta, mas normalmente a telecinese só aparece a partir dos quinze anos se não mais tarde.

-E se eu não desenvolver nenhum legado ou mesmo a telecinese?- Volto a perguntar-lhe.

-Acho pouco provável...

-Mas isso quer dizer que eu sou normal não é? E se não tenho legados não sou nenhuma ameaça certo?

Conrad para de comer e encara-me um pouco intrigado.

-Maggie, tu és uma Guard. Os teus legados podem demorar a desenvolver-se mas vão desenvolver-se enquanto Lorien estiver vivo e ele está vivo.

-E como é que sabes?- Insisto.

-Porque tem que estar, não viemos para este planeta para simplesmente deixar Lorien morrer, ele está apenas em hibernação mas a sua essencia vive em cada um de vocês nove...-Responde-me Conrad que começava a ficar um pouco impaciente com as minhas perguntas.

-...oito.- Emendo-o.

-Maggie, onde pretendes chegar com esta conversa?

-Eu quero ir à escola.-Digo tão rápido que até me surpreendo a mim própria. 

-Não.- Responde Conrad quase tão rápido à minha pergunta como eu ao perguntar-lhe.

-Mas eu nunca fui e não vemos nenhum mogadoriano há imenso tempo. Talvez eles tenham desistido e foram embora para o planeta deles!- Riposto.

-Isto não está aberto a discussão Maggie.

-Mas que quero ir, quero conviver com os outros, quero ser normal!- Imploro-lhe.

-Eu já disse que não Dois!- Responde-me Conrad num tom mais sério e mais alto, fazendo com que as poucas pessoas que restavam no restaurante olhassem para nós.

Fico estupefacta a olhar para ele. Ele raramente me chamava Dois, ele respeitava a minha vontade de ser chamada como todas as outras pessoas normais, por um nome e não por um número.

-Trata-se da sobrevivência de nossa raça, quase inteiramente destruída, e de mantê-la viva. Cada vez que um de nós morre... cada vez que um de vocês, um dos Gardes, morre... nossas hipóteses diminuem.-Fala Conrad agora num tom mais baixo e mais proximo de mim para ninguém ouvir. - Tu és a Numero Dois, és a próximo da fila. Há uma raça inteira de assassinos cruéis à tua caça. Talvez seja melhor começares a encarar as tuas responsabilidades e assumi-las.- Conrad fala com um tom de decepção o que me fazia sentir ainda pior comigo mesma.- Tens que lutar mais e estudar menos Dois.

-Sim..-Digo baixinho fitando o chão. 

Conrad levanta-se e dirige-se ao balcão para pagar. Saio do restaurante rapidamente e vou para junto do carro, está um pouco de frio cá fora mas de certa forma o frio não me preocupava. Encaro o céu e lá estava ele, Lorien, um pequeno ponto no céu tal e qual como os outros mas de certa forma diferente. Os meus olhos eram atraídos naturalmente para aquele pequeno ponto cintilante, mas eu não queria ser uma Guard, eu não queria ser um número, eu queria ser a Maggie, eu queria ser normal, só nunca me apercebi que o queria tanto até agora.



A Força Da Numero DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora