Mal chego ao quarto atiro-me para cima da cama e relaxo. Tenho vontade de chorar, contenho-me. Não que esteja triste por deixar Inglaterra, mas estou cansada de fugir. Cansada de inventar um nome a cada dois meses. Cansada das novas casas, das novas escolas. Fico me perguntando se algum dia vamos poder parar. Talvez esse dia tenha chegado. Talvez eu e Maya possamos nos fixar em algum lugar e esperar. Esperar pelos outros. Estava demasiado cansada para sequer pensar nas ultimas horas e quando dou por mim já é de manhã.
Levanto-me da cama e vou até a quase de banho que estava incluída no quarto. Arranjo-me e volto a vestir a mesma roupa dos últimos dias. Tinha um cheiro nada agradável mas era a única coisa que tinha visto que não tive propriamente tempo para fazer as malas em Londres antes de virmos. Sento-me em cima da cama e pego num dos livros que estava em cima da comoda do quarto e começo a le-lo. Não era propriamente um clássico mas na falta de melhor.
Ouço alguém a bater à porta. Devia ser a Maya.
-Sim?- Respondo.
A porta abra-se e vejo Maya e Damion a entrar no quarto. Sorrio para eles, no entanto Maya não me parecia feliz.
-E provavelmente agora estarias morta.- Diz ela de mau-humor.
Não percebo o que ela quer dizer isso e olho para ela com um olhar confuso. Ela não me ia matar porque haveria de puder de estar morta agora.
-O teu Cêpan nunca te explicou que deves sempre ver quem é antes de responderes?- Pergunta-me ela.
Damion também fez a mesma cara que eu para a Maya. Pelos vistos não era a unica a não perceber o porque de toda esta situação.
-Não sei o que dizer.- Respondo-lhe calmamente para não a deixar mais irrita do que ela já parecia.
-Para a próxima vez, vê quem é antes de responderes e de preferência tranca sempre a porta.
-Sim...- Digo ao levantar-me para ir poisar o livro novamente em cima da cómoda.
Maya senta-se onde eu estava antes sentada e faz um gesto para eu se sentar ao meu lado. Fico um pouco reciosa mas lá me sento.
-Não é por mal, sabes não sabes? Mas é que nunca na vida uma Garde pode fazer isso, ser tão descuidada. Isso pode levar à tua morte Maggie.
-Pareces Conrad a falar.
-O teu Cêpan?- Pergunta-me ela.
-Sim...
Maya fazia me lembrar o Conrad, apesar dele por vezes pegar de le comigo outras vezes ele era como um amigo, o mais parecido com um amigo que alguem poderia ter. Tinha saudades deles. Maya sorri um pouco para mim.
-Eu e Damion vamos tomar agora o pequeno-almoço e depois vamos treinar e queremos que te juntes a nós.- Diz-me ela. Parecia que o mau humor já lhe tinha passado. Talvez tenha tido pena de mim.
-Eu só tenho esta muda de roupa. -Digo.
-Podemos passar numa loja que seja aqui perto e comprar-te alguma roupa antes.- Diz Damion que finalmente se tinha prenunciado desde o momento que eles entraram no quarto.
Eu assinto e levanto-me, assim como Maya que se dirige para a porta. Saímos os três do meu quarto e também da pensão. Passamos por algumas lojas e entrámos em quase todas, por minha culpa. Eu era um pouco esquisita em relação à roupa que iria vestir mas ao fim de algum tempo lá consegui encontrar algumas peças que realmente gostasse e não me fizessem sentir um saco de batatas nem uma super modelo. Ter roupa prática e confortável era essencial. Era o que Conrad me dizia, nada de gangas nem de muitas peças volumosas que dificultava a movimentação. Caso de um momento para o outro termos de fugir. Espero que isso não aconteça aqui com Maya e Damion mas nunca se sabe. Quando voltamos à pensão eu fui rapidamente mudar de roupa para irmos treinar. Maya e Damion também foram poisar as roupas que tinham comprado e por isso esperei por eles à porta do meu quarto.
Finalmente passamos por um café e toma-mos o pequeno-almoço muito rapidamente para termos tempo de treinar ainda de manhã. Sinceramente com tanta coisa que já fizemos a ultima coisa que me apetecia fazer agora e depois deste belo pequeno almoço era ir treinar mas precisava de estabelecer laços com os meus novos amigos.
Saímos do café e fomos correr para um dos parques da cidade e para minha surpresa Maya estava em excelente forma, quer dizer, não que ela não parecesse em boa forma mas sinceramente eu parecia um bebe em relação a ela. Não estava nada em forma. Damion era capaz de correr ao mesmo nível que eu sem o menor esforço. Maya era quem liderava a corrida. Damion estava a uns metros de distancia dela e eu quase que os estava a perder. Corremos até à hora de almoço, quase um hora. Eu estava a pingar. Nunca tinha tido um treino tão longo ou uma corrida tão intensa como estas. Os meus músculos doíam.
-Já acabamos?- Pergunto ofegante quando finalmente os alcanço.
-Sim, agora já mas ainda temos que treinar um pouco à tarde.- Diz-me ela aborrecida. As mudanças de humor dela eram incríveis.
-Boa! Vamos almoçar agora então.- Digo mais contente enquanto me começo a afastar deles em direção à saída do parque. Eles seguem-me.
Entramos num pequeno restaurante e fomos rapidamente atendidos visto que eram praticamente os unicos clientes. Eu pedi uma pequena salada, não completamente sem carne ou peixe por não havia mas também não ia comer o que estava no meu prato. Era vegetariana, por isso só de pensar na quantidade de animais que morrem por nossa causa devastava-me.
Depois do almoço regressamos à pensão e fomos os três para o meu quarto conversar um pouco antes de voltarmos a treinar outra vez. Sinceramente não sei se iria conseguir voltar a treinar. Estava mesmo exausta.
-Como vamos viver aqui?- Pergunto.- Quer dizer, como é que vamos pagar a comida e outras coisas se nenhum de nós trabalha. Eventualmente o dinheiro vai acabar, não?
Damion deu uma pequena risada.
-Como é que achas que o teu Cêpan pagava as coisas?- Pergunta-me Maya.
-Eu não sei, nós nunca fomos para uma pensão nem nada do género, ficávamos sempre em pequenas cabanas isoladas que normalmente não tinham dono, logo não precisávamos de pagar.
-Bem Maggie, não te precisas de preocupar. Nós somos ricos, quer dizer, a Maya é rica.- Diz Damion.
-Quando nós nove chegamos à Terra, cada Cêpan trazia de Lorien um saco cheia de pedras valiosas e mal nos dividimos Hilde vendeu todas essas pedras e criou várias contas cheias desse dinheiro para assegurar a nossa sobrevivência. Dinheiro não é o nosso maior problema mas sim a parte da sobrevivência Maggie. Conrad nunca te explicou isto?- Pergunta-me ela.
-Não, ele não me falou de contas nenhumas.- Respondo surpreendida.
-Não faz mal, eu tenho as minhas e não te preocupes que não iremos precisar de trabalhar nunca. No entanto o que me preocupa és tu.- Diz me ela mudando de assunto.
Fiz um olhar interrogativo. Novamente. Não percebia a maioria das coisas que Maya dizia.
-Este treino não correu como eu esperava. Literalmente. Estava à espera que tu como Garde tivesses uma melhor resistência e velocidade.
-Para ser sincera foi a primeira vez que corri assim, Conrad nunca me mandou correr, focava-se mais em luta dois a dois, mas nem nisso eu sou boa.-Digo lamentando-se um pouco.- Eu não pedi nada disto Maya, eu não pedi para ser uma Garde quanto mais ser perseguida por uma raça que me quer morta apenas porque eu existo. Eu não devia ter que treinar desta maneira. O treino de hoje foi impossível.
-Maggie! Eu também não pedi nada disto, mas é o nosso destino! Tu achas mesmo que eu gosto da vida que temos? Nós simplesmente não temos escolha.- Diz ela exaltando-se.
Damion poe a sua mão nas costas dela.
-No que depender de mim nenhuma de nós vai morrer. Lorien depende da nossa sobrevivência.-Diz me ela dirigindo-se para a porta do quarto.- Temos treino ás 19, vamos ver o que o teu Cêpan te ensinou a lutar, duas a duas. - Acrescenta antes de sair do quarto e batendo a porta de seguida.
Engelho o nariz. Não ia ser nada fácil lidar com ela mas ela é a minha única esperança.
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A Força Da Numero Dois
Ciencia FicciónCriado apartir de Legados de Lorien e a continuação do livro "Eu sou a numero Um" da minha autoria. A história fala da vida da número Dois antes de morrer ( alterei alguns factos, nomes e lugares). "Já passaram 10 anos desde que deixei o meu planeta...