- Baixa a espada!- Ordenei-lhe ao apontar a pistola.
- Com certeza, para onde é que a queres apontada?
Um arrepio percorreu-me a espinha. Péssimo sinal!
- Sai da frente!- D. João ordenou.
Aham! Como se o ladrão imbecil fosse obedecer.
- Não.- Riu.
- Sai!- Espetou-lhe a espada de repente, essa distração foi o suficiente para conseguirmos sair a galope o mais depressa possível.
- Falta muito para chegarmos a casa de vosso avô?
- Ainda estamos longe.- Obriguei o cavalo a ir mais depressa. Era difícil cavalgar entre as árvores a uma velocidade tão grande, podíamos bater numa a qualquer momento.
- Não eram três?- Olhei para trás dando por falta de um dos homens.
- O outro morreu.- Explicou como se fosse óbvio.
- Não me digas que achas que só por lhe meteres uma espada no braço, o bastardo morre?!- Gritei em descrença.
Ouvi relinchar alto e não fui a tempo de parar o meu cavalo. O terceiro homem atravessou-se à nossa frente.
Tanto o meu cavalo quanto o do rei, assustados, relincharam e apoiaram-se nas patas traseiras.
- Sou lindo demais para morrer!
- Pelo menos arranja uma desculpa credível.- Revirei os olhos. Que faria agora?
- Diz-me então bonequinha... quem és tu?- O criminoso agarrou no meu rosto com força.
- A pergunta é: Quem és tu?- Afastei-o com força.
- Não sou ninguém.
Claro.
Bastou um sinal com a cabeça e os outros dois apontaram-nos as espadas. Pistolas eram caras demais para eles.
- Passa para cá os brincos. Dêem-nos o ouro.
- Não temos ouro. É metal.- Ainda tentei mentir.
- Achas-me parvo?!- Puxou-me os cabelos e caí no chão.
- Helena?
- Eu estou bem.- Sentei-me no chão.- Eu estou bem.- Muito dorida mas bem.
- Helena Brotas Lencastre... filha do marquês Eduardo Brotas Lencastre, conselheiro e ministro oficial do rei. Eu faço o trabalho de casa, princesinha.
Quando não esperava, puxei-o até ao chão pela gola da camisa e sem lhe dar tempo para agir encostei-lhe a espada ao pescoço, aquela que apontava ao rei.
- Deixem o meu irmão ir e poupo a vida deste miserável!- Ameacei encarando os dois restantes. O rei puxou a minha pistola e apontou aos dois ao negar-me firmemente.
- Mata-o, não nos faz diferença.
Eu não teria coragem de matar um homem!
Encarei o rei desesperada. Eu não consigo matar alguém. Eu não consigo!
Um sorriso compreensivo tomou o seu rosto.
- Mulheres não matam.- Zombou de mim, com a lâmina fria encostada ao pescoço.
- Mulheres não vestem culotes.- Respondi friamente. Fechei os olhos com força e deslizei a espada pela garganta alheia, tão facilmente como uma faca quente pela manteiga mole.
Senti um liquido quente tocar-me a mão, barulhos engasgados de quem ainda morria. Completo horror! Em momento algum tive coragem de olhar.
Eu não acredito que fiz isto.
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A Amante do Rei
Historical FictionHelena é filha do Marquês de Montemor, membro do Conselho Pessoal de Sua Majestade, o Rei D. João, o V de seu nome. Helena Brotas Lencastre é também irmã do Governador da capitania brasileira de S. Paulo, Lucas. Com a coroação de D. João, Helena dec...