- Ficareis para o jogo, Helena?
- Alteza?- Estranhei a pergunta do infante Manuel mal saí do quarto de Francisca. Até me assustei um pouco, não o esperava ali.
- Depois das 3 da manhã o rei inicia o jogo, soltando um leitão com o prémio pelo palácio. Quem primeiro o achar, vence.
- Parece divertido.- Comentei. Chegava mesmo a ser ridículo.- Tenho de perguntar ao papá, de qualquer maneira não creio que me deixe ficar.
- Ah... subestimeis vossa capacidade de persuasão.- Sorriu matreiro seguindo para o lado do irmão mais velho sentado no trono.- Até depois, Helena.
Com imensa vontade de ficar, vislumbrei o papá do outro lado do salão de baile. Gostaria tanto que me deixasse jogar.
- Por favor, papá. Eu porto-me bem.- Repliquei pela milésima vez. Alguns casais ao redor até já olhavam de lado.
- Comporta-te Helena.- Rosnou baixinho.
- Mas papá...
- Arght! Tudo bem. Eu não me importo de ficar um pouco mais.- Pegou no relógio de bolso e fez uma careta ao reparei bem nas horas que eram.- Umas 4 horas a mais.
Reparei que o embaixador me encarava e desviei o olhar muito depressa, olhando para a frente e endireitando as costas como se tivesse engolido uma vassoura. Estava tensa, envergonhada... que pensará da minha atitude censurável?
Era pouco mais de meia-noite, por isso sentei-me a rir e conversar com Carolina e Maria, na companhia de boas taças de champanhe fresco. Aproveitei para descalçar os sapatos desconfortáveis e pôr-me um pouco mais à vontade, sempre muito subtilmente.
Carolina abanava o leque, entretida com um rapaz do outro lado do salão, e Maria fingia que não via.
De repente, a música parou e as danças também.
- Atenção, o jogo do leitão começará em breve!- O mordomo anunciou e todos bateram palmas excitados.
Os mais velhos já tinham ido embora há horas. Diria mesmo que o papá era o único que se mantinha hirto e firme aqui, de resto eram só rapazes e raparigas da minha idade.
Fomos comandados para o jardim, onde o porco seria solto.
O rei apareceu pouco depois e pôs-se em cima de um banco para se fazer notar:
- O leitão!- Apontou para o bicho cor de rosa na alçada de um guarda.- E o prémio desta noite!- Exibiu alto um pequeno e delicado colar de diamantes e pouco depois pendurou-o de maneira segura ao porco.
Antes, eu só estava aqui para me divertir, agora estou aqui para ganhar. Ninguém se mete entre mim e um colar de diamantes!
O rei caminhou até mais longe e soltou o animalzinho:
- Estão à espera de quê?- Riu e todos desataram a correr alvoraçados atrás do leitão sem nem saber em que direção foi.
Fui praticamente abalroada no meio daquela confusão.
- Conseguirei aquele colar para vós.- Henry prometeu antes de correr também.
Descalcei os sapatos e senti a relva molhada e fofa debaixo dos pés. Chegava a ser ridículo: fidalgos a correr atrás dum porco.
Eu mesma conseguiria aquele colar e mostraria a Henry que não preciso que homem algum se interponha no meu caminho.
- Não ireis?- O rei riu, enquanto um empregado lhe enchia o copo com mais champanhe.
- Estou a aquecer. Na verdade não me apetece correr atrás de um leitão, nem mesmo por diamantes.
- Ora ora ora...- Bebeu.- Vinde. Sentemo-nos então. Hoje a noite é de festa.
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A Amante do Rei
Historische RomaneHelena é filha do Marquês de Montemor, membro do Conselho Pessoal de Sua Majestade, o Rei D. João, o V de seu nome. Helena Brotas Lencastre é também irmã do Governador da capitania brasileira de S. Paulo, Lucas. Com a coroação de D. João, Helena dec...