20. A promessa quebrada

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- Ficareis para o jogo, Helena?

- Alteza?- Estranhei a pergunta do infante Manuel mal saí do quarto de Francisca. Até me assustei um pouco, não o esperava ali.

- Depois das 3 da manhã o rei inicia o jogo, soltando um leitão com o prémio pelo palácio. Quem primeiro o achar, vence.

- Parece divertido.- Comentei. Chegava mesmo a ser ridículo.- Tenho de perguntar ao papá, de qualquer maneira não creio que me deixe ficar.

- Ah... subestimeis vossa capacidade de persuasão.- Sorriu matreiro seguindo para o lado do irmão mais velho sentado no trono.- Até depois, Helena.

Com imensa vontade de ficar, vislumbrei o papá do outro lado do salão de baile. Gostaria tanto que me deixasse jogar.

- Por favor, papá. Eu porto-me bem.- Repliquei pela milésima vez. Alguns casais ao redor até já olhavam de lado.

- Comporta-te Helena.- Rosnou baixinho.

- Mas papá...

- Arght! Tudo bem. Eu não me importo de ficar um pouco mais.- Pegou no relógio de bolso e fez uma careta ao reparei bem nas horas que eram.- Umas 4 horas a mais.

Reparei que o embaixador me encarava e desviei o olhar muito depressa, olhando para a frente e endireitando as costas como se tivesse engolido uma vassoura. Estava tensa, envergonhada... que pensará da minha atitude censurável?

Era pouco mais de meia-noite, por isso sentei-me a rir e conversar com Carolina e Maria, na companhia de boas taças de champanhe fresco. Aproveitei para descalçar os sapatos desconfortáveis e pôr-me um pouco mais à vontade, sempre muito subtilmente.

Carolina abanava o leque, entretida com um rapaz do outro lado do salão, e Maria fingia que não via.

De repente, a música parou e as danças também. 

- Atenção, o jogo do leitão começará em breve!- O mordomo anunciou e todos bateram palmas excitados.

Os mais velhos já tinham ido embora há horas. Diria mesmo que o papá era o único que se mantinha hirto e firme aqui, de resto eram só rapazes e raparigas da minha idade.

Fomos comandados para o jardim, onde o porco seria solto.

O rei apareceu pouco depois e pôs-se em cima de um banco para se fazer notar:

- O leitão!- Apontou para o bicho cor de rosa na alçada de um guarda.- E o prémio desta noite!- Exibiu alto um pequeno e delicado colar de diamantes e pouco depois pendurou-o de maneira segura ao porco. 

Antes, eu só estava aqui para me divertir, agora estou aqui para ganhar. Ninguém se mete entre mim e um colar de diamantes!

O rei caminhou até mais longe e soltou o animalzinho:

- Estão à espera de quê?- Riu e todos desataram a correr alvoraçados atrás do leitão sem nem saber em que direção foi.

Fui praticamente abalroada no meio daquela confusão.

- Conseguirei aquele colar para vós.- Henry prometeu antes de correr também.

Descalcei os sapatos e senti a relva molhada e fofa debaixo dos pés. Chegava a ser ridículo: fidalgos a correr atrás dum porco.

Eu mesma conseguiria aquele colar e mostraria a Henry que não preciso que homem algum se interponha no meu caminho.

- Não ireis?- O rei riu, enquanto um empregado lhe enchia o copo com mais champanhe.

- Estou a aquecer. Na verdade não me apetece correr atrás de um leitão, nem mesmo por diamantes.

- Ora ora ora...- Bebeu.- Vinde. Sentemo-nos então. Hoje a noite é de festa.

A Amante do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora