3. A princesa infanta

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- Bom dia, Helena.- Bianca entrou no quarto e abriu as cortinas totalmente para trás.

- Hum!- Cobri a cabeça com a almofada.- Quero dormir.- Resmunguei.

- Acredito que sim, menina, no entanto o Sr. Lencastre, seu pai não quer atrasos. Sua majestade aprecia a pontualidade.

Sua majestade não sabe o quão bom é dormir!

- Seja.- Abri os cobertores, mas voltei a tapar-me. Estava um gelo!

- O seu pai mandou-me entregar-vos isto.

Voltou a entrar com uma grande caixa com um laço vermelho por cima.

Que seria?

- Oh...- Sorri ao ver o presente.- É lindo!- Um vestido azul-céu, muito claro, com rendas brancas no decote e no término da manga, quatro dedos abaixo do cotovelo. Tinha uma fita cor de rosa na frente, que dava um laço atrás. O tecido tinha padrões de flores azuis mais escuras.- Simplesmente perfeito.

Apesar de estar longe o papá não se esqueceu dos meus gostos, que foram mudando e que falámos através de cartas.

Vesti-o o mais rápido possível, com a ajuda de Bianca, que apertou muito bem o corpete... sem necessidade; calçou-me os sapatos e fez um penteado muito bonito.

- Pronto.- Colocou-me um agasalho pelos ombros e virou-me para o espelho.

- Está perfeito, obrigada Bianca.- Referi-me à generosa camada de pó de arroz.

Damas mais antigas usavam um pó derivado do chumbo, porém ficavam com uma pele horrível. Eu prefiro o de arroz. É mais natural.

Peguei no livro, no leque e na sombrinha e desci para o desjejum.

- Bom dia papá.- Sorri.- Obrigada!- Abracei-o e beijei a sua testa, sentando-me ao seu lado.

- Gostaste? É o teu tamanho? Mandei fazê-lo um pouco mais largo, não sabia se o ultimo vestido que te tinha enviado tinha ficado ao tamanho. É preciso talento para dizer à costureira as tuas medidas certas.- Brincou.

- Verdade.- Ri.- Estava um pouco largo, mas Bianca apertou e nem se nota.- Sorri e servi-me de chá.- Quereis?- Reparei na sua chávena quase vazia.

- Não, obrigada.- Sorriu.

- Entusiasmada?

- Nem um pouco.- Sorri com sarcasmo.

- É só um dia.

- Uma manhã.- Deixei claro.

- O tempo necessário.- Encerrou o assunto.

Eu tinha ódio da corte, ódio que nasceu desde Versalhes. Eu não esqueci o que vi. Eram só cobras e lagartos envenenados, prontos a soltar o seu veneno doentio em quem primeiro aparecesse. Levavam uma vida boémia, não apenas festas e ócio, mas um autêntico prostíbulo de luxo.

Entrámos na carruagem e fizémo-nos ao caminho. Pareceu ainda mais longínquo e aborrecido que ontem.

Vi então, após demasiado tempo, o palácio de sua majestade.

Era agora. Inspirei fundo, tomando coragem e abri a sombrinha.

- Senhor, sua majestade espera-vos no real gabinete.

- Estou a caminho.- O papá saiu e esboçou um pedido de desculpas.

E... encarnar a personagem!

- A corte, por onde é?- Desenhei o meu melhor sorriso amarelo.

- Por aqui, senhora.- Um dos empregados respondeu-me.

As salas, corredores e salões por onde passámos eram lindas. Delicadas e modernas, em tons dourados, vermelhos e prateados, sem nunca esquecer o mármore como adorno.

A Amante do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora