- Bom dia, Helena.- Bianca entrou no quarto e abriu as cortinas totalmente para trás.
- Hum!- Cobri a cabeça com a almofada.- Quero dormir.- Resmunguei.
- Acredito que sim, menina, no entanto o Sr. Lencastre, seu pai não quer atrasos. Sua majestade aprecia a pontualidade.
Sua majestade não sabe o quão bom é dormir!
- Seja.- Abri os cobertores, mas voltei a tapar-me. Estava um gelo!
- O seu pai mandou-me entregar-vos isto.
Voltou a entrar com uma grande caixa com um laço vermelho por cima.
Que seria?
- Oh...- Sorri ao ver o presente.- É lindo!- Um vestido azul-céu, muito claro, com rendas brancas no decote e no término da manga, quatro dedos abaixo do cotovelo. Tinha uma fita cor de rosa na frente, que dava um laço atrás. O tecido tinha padrões de flores azuis mais escuras.- Simplesmente perfeito.
Apesar de estar longe o papá não se esqueceu dos meus gostos, que foram mudando e que falámos através de cartas.
Vesti-o o mais rápido possível, com a ajuda de Bianca, que apertou muito bem o corpete... sem necessidade; calçou-me os sapatos e fez um penteado muito bonito.
- Pronto.- Colocou-me um agasalho pelos ombros e virou-me para o espelho.
- Está perfeito, obrigada Bianca.- Referi-me à generosa camada de pó de arroz.
Damas mais antigas usavam um pó derivado do chumbo, porém ficavam com uma pele horrível. Eu prefiro o de arroz. É mais natural.
Peguei no livro, no leque e na sombrinha e desci para o desjejum.
- Bom dia papá.- Sorri.- Obrigada!- Abracei-o e beijei a sua testa, sentando-me ao seu lado.
- Gostaste? É o teu tamanho? Mandei fazê-lo um pouco mais largo, não sabia se o ultimo vestido que te tinha enviado tinha ficado ao tamanho. É preciso talento para dizer à costureira as tuas medidas certas.- Brincou.
- Verdade.- Ri.- Estava um pouco largo, mas Bianca apertou e nem se nota.- Sorri e servi-me de chá.- Quereis?- Reparei na sua chávena quase vazia.
- Não, obrigada.- Sorriu.
- Entusiasmada?
- Nem um pouco.- Sorri com sarcasmo.
- É só um dia.
- Uma manhã.- Deixei claro.
- O tempo necessário.- Encerrou o assunto.
Eu tinha ódio da corte, ódio que nasceu desde Versalhes. Eu não esqueci o que vi. Eram só cobras e lagartos envenenados, prontos a soltar o seu veneno doentio em quem primeiro aparecesse. Levavam uma vida boémia, não apenas festas e ócio, mas um autêntico prostíbulo de luxo.
Entrámos na carruagem e fizémo-nos ao caminho. Pareceu ainda mais longínquo e aborrecido que ontem.
Vi então, após demasiado tempo, o palácio de sua majestade.
Era agora. Inspirei fundo, tomando coragem e abri a sombrinha.
- Senhor, sua majestade espera-vos no real gabinete.
- Estou a caminho.- O papá saiu e esboçou um pedido de desculpas.
E... encarnar a personagem!
- A corte, por onde é?- Desenhei o meu melhor sorriso amarelo.
- Por aqui, senhora.- Um dos empregados respondeu-me.
As salas, corredores e salões por onde passámos eram lindas. Delicadas e modernas, em tons dourados, vermelhos e prateados, sem nunca esquecer o mármore como adorno.
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A Amante do Rei
HistoryczneHelena é filha do Marquês de Montemor, membro do Conselho Pessoal de Sua Majestade, o Rei D. João, o V de seu nome. Helena Brotas Lencastre é também irmã do Governador da capitania brasileira de S. Paulo, Lucas. Com a coroação de D. João, Helena dec...