57. Pelo mar fora

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- Hum...

- Shh...

- Henry?- Murmurei sem força suficiente para abrir os olhos.

- Sim, milady.- Segredou baixinho.

- Que estás a fazer?- Estranhei a toalha fria e húmida na minha testa.

- A cuidar de ti. Fica caladinha que não quero acordar ninguém.

Sorri com o seu cuidado e deixei-me ficar ali, deitada a apreciar os seus cuidados. O nosso quarto tinha um beliche, na cama debaixo estava Hetty e na de cima fiquei eu.

- Conseguiste tirar as correntes?

- Sim, já estou livre para abraçar o quanto puder a mulher que amo.- Retirou o pano molhado que tinha aquecido e voltou a pôr outro.- No meu camarote os rapazes também já estão todos a dormir.

- O teu pai disse-te alguma coisa?

- Não.- Parecia magoado.- A minha mãe ficou no camarote dele, não a contradisse porque já era tarde, mas fico mais descansado se vier dormir aqui convosco. Sei lá do que capaz o meu pai com os nervos à flor da pele...

- A tua mãe é muito bonita.- Interrompi a conversa que claramente o perturbava.

Aproveitei para abrir um pouco os olhos e reparar que mal o via, apesar de perto. Não havia uma única vela acesa. Procurei a sua mão, e quando sentiu o que procurava, Henry enlaçou os nossos dedos.

- É sim. Vocês vão dar-se muito bem.

- Eu não tenho tanta certeza.

- Ela está só... chateada pela minha atenção não ser toda para ela. Acho que achava que seria a única mulher por toda a minha vida.

- Não é isso que as mães todas pensam?- Supus. Se a mamã conhecesse Henry, como reagiria?

- Devíamos ter assinado o contrato de casamento.- Suspirou no escuro e voltou a trocar-me o pano húmido.- Só temos a palavra do Edward e da minha irmã, e nem foram testemunhas. O meu pai acha que me és... amigada.

Isso era horrível e nojento.

- Amanhã falaremos todos com calma, e explicaremos a situação.

- Sim.- Concordou, porém parecia não ter muitas expectativas.- Agora tens de descansar, meu amor. Vamos passar algum tempo aqui.

- Vai dormir, Henry.- Insisti com ele também.- Ei, chegaram a atribuir-te a pena?

- Hum... não, nem por isso.

- Henry?- Sorri no escuro. Senti a sua voz vacilar com a mentira.

- Eu acho que não queres realmente saber.

- Se pergunto é porque quero.

Permaneceu em silêncio e então confessou:

- Castração e depois morte à porta fechada.

- Castração?- Indignei-me apesar de também me revoltar com a pena de morte.- Aquele balofo acha que pode mandar cortar as bolinhas do meu marido?

- Foi o que eu pensei! Como se eu me tivesse deitado com uma das mulheres dele! A sorte é que haviam imensas espadas na nossa direção, ou eu mesmo o tombava do cavalo para cortar as dele.

Definitivamente vir embora foi o melhor que fizemos.

- Vais adorar a minha tia... se chegarmos num dia sim.

Eu adoraria conhecer uma rainha que conduz um império sozinha.

- Ela é um pouco rabugenta às vezes... é de família.

A Amante do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora