- Hum...
- Shh...
- Henry?- Murmurei sem força suficiente para abrir os olhos.
- Sim, milady.- Segredou baixinho.
- Que estás a fazer?- Estranhei a toalha fria e húmida na minha testa.
- A cuidar de ti. Fica caladinha que não quero acordar ninguém.
Sorri com o seu cuidado e deixei-me ficar ali, deitada a apreciar os seus cuidados. O nosso quarto tinha um beliche, na cama debaixo estava Hetty e na de cima fiquei eu.
- Conseguiste tirar as correntes?
- Sim, já estou livre para abraçar o quanto puder a mulher que amo.- Retirou o pano molhado que tinha aquecido e voltou a pôr outro.- No meu camarote os rapazes também já estão todos a dormir.
- O teu pai disse-te alguma coisa?
- Não.- Parecia magoado.- A minha mãe ficou no camarote dele, não a contradisse porque já era tarde, mas fico mais descansado se vier dormir aqui convosco. Sei lá do que capaz o meu pai com os nervos à flor da pele...
- A tua mãe é muito bonita.- Interrompi a conversa que claramente o perturbava.
Aproveitei para abrir um pouco os olhos e reparar que mal o via, apesar de perto. Não havia uma única vela acesa. Procurei a sua mão, e quando sentiu o que procurava, Henry enlaçou os nossos dedos.
- É sim. Vocês vão dar-se muito bem.
- Eu não tenho tanta certeza.
- Ela está só... chateada pela minha atenção não ser toda para ela. Acho que achava que seria a única mulher por toda a minha vida.
- Não é isso que as mães todas pensam?- Supus. Se a mamã conhecesse Henry, como reagiria?
- Devíamos ter assinado o contrato de casamento.- Suspirou no escuro e voltou a trocar-me o pano húmido.- Só temos a palavra do Edward e da minha irmã, e nem foram testemunhas. O meu pai acha que me és... amigada.
Isso era horrível e nojento.
- Amanhã falaremos todos com calma, e explicaremos a situação.
- Sim.- Concordou, porém parecia não ter muitas expectativas.- Agora tens de descansar, meu amor. Vamos passar algum tempo aqui.
- Vai dormir, Henry.- Insisti com ele também.- Ei, chegaram a atribuir-te a pena?
- Hum... não, nem por isso.
- Henry?- Sorri no escuro. Senti a sua voz vacilar com a mentira.
- Eu acho que não queres realmente saber.
- Se pergunto é porque quero.
Permaneceu em silêncio e então confessou:
- Castração e depois morte à porta fechada.
- Castração?- Indignei-me apesar de também me revoltar com a pena de morte.- Aquele balofo acha que pode mandar cortar as bolinhas do meu marido?
- Foi o que eu pensei! Como se eu me tivesse deitado com uma das mulheres dele! A sorte é que haviam imensas espadas na nossa direção, ou eu mesmo o tombava do cavalo para cortar as dele.
Definitivamente vir embora foi o melhor que fizemos.
- Vais adorar a minha tia... se chegarmos num dia sim.
Eu adoraria conhecer uma rainha que conduz um império sozinha.
- Ela é um pouco rabugenta às vezes... é de família.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Amante do Rei
Historical FictionHelena é filha do Marquês de Montemor, membro do Conselho Pessoal de Sua Majestade, o Rei D. João, o V de seu nome. Helena Brotas Lencastre é também irmã do Governador da capitania brasileira de S. Paulo, Lucas. Com a coroação de D. João, Helena dec...