26. Longa vida ao Rei!

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- Deve de estar no gabinete do João.- O António correu até lá.

Procuramos nas prateleira que nunca usava, aquelas fechadas atrás de uma vitrina de vidro e pó.

- Acho que é este.- Fui o primeiro a alcança-lo e a procurar o pretendido às pressas.

- Temos de chamar o capitão da guarda e o Francisco para organizar as buscas.- Decidiu revistando a secretária do nosso irmão mais velho.

- Que procuras?

- Um bilhete, um recado... uma pista qualquer.

- Nós vamos achá-lo, António. Prometo.- Apertei o seu ombro e o livro com força.

⭐👑⭐

- Ratos!

- Vai dormir Helena, vai.

- Nunca vos contaram como se espalhou a peste negra?!

- Estás numa cela. Seria apenas o caminho mais próximo para a liberdade que apenas o Criador nos proporciona.- Deu uma volta na tábua.- Eu nunca dormi num leito tão duro e desconfortável.

- Acho que não tiveram tempo de encomendar um colchão de penas à França.

- Deviam. Afinal de contas o Francisco começou a armar contra mim desde que ganhou consciência.

Eu devia de continuar zangada com ele, mas o pobre coitado acabou de descobrir que andava a ser traído pelo próprio irmão...

- Para que conste, eu acho-te um ótimo rei.

- Obrigada, Helena.

- Não lhe mintas boneca. Esse aí é pior ralé que nós.

- Isso é mentira.- Defendi João.

- Matamo-nos a trabalhar, mal temos dinheiro para ter pão à mesa enquanto esse miúdo anda por aí a brincar aos castelos.- O homem da cela à nossa frente parecia nutrir um enorme rancor.

- A questão é que eu sei brincar sem perder. O único que o sabe fazer. Nenhum outro o faz porque falharia miseravelmente.

- Escusas de usar palavras estranhas comigo, miúdo. Afinal de contas, sou só um prisioneiro.

- Por roubo?- João sorriu na sua habitual postura arrogante.

- Homicídio.- A sua voz transbordava ódio. Um ódio sentido pelas masmorras geladas e frias.

- Que aconteceu?- Indaguei.

- Eu não tenho de contar a minha vida para uns fidalgos de merda, afinal de contas... ela acaba ainda esta semana.

- Bom, se foi essa a pena, é porque fizeste por merecê-la. Boa noite.- João voltou-se para a parede e tentou dormir.

- Foi para te defenderes ou pagaram-te?

- Foi pela minha menina.- Levou as mãos ao rosto e voltou-me as costas.

Esperei que desenvolvesse.

- Ela só tinha 10 anos, era um anjinho. Uma alma pura demais para este mundo.

Engoli em seco, pelas suas palavras... a criança deve ter morrido.

A Amante do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora