Eu tive uma boa infância. Uma ótima infância aliás.
Eu sou filha única, por isso sempre fui um pouco mimada mimada, é verdade.
A minha mãe teve-me quando tinha apenas 20 anos, durante o 2º ano da faculdade dela.
Ela adorava contar a história do meu nascimento, de como foi tudo planeado até ao último pormenor, e de como eu fui feita com muito amor, embora eu soubesse perfeitamente que os meus pais se conheceram numa festa da faculdade e nessa mesma noite "fizeram-me" na parte de trás de uma carrinha que era do meu avô, quão romântico.
O meu pai é mais velho que a minha mãe 2 anos e na altura em que eles se conheceram ele era o típico rapaz popular, que ia a todas as festas, conhecia toda a gente e todas as semanas namorava com uma rapariga diferente. Ele não era bom aluno mas era um ótimo jogador de futebol.
Foi sempre esse o sonho dele, ser jogador profissional de futebol.
E era mesmo isso que ele se preparava para ser, se ele não tivesse ficado bêbado naquela noite e levado a minha mãe para o banco de trás da carrinha do pai dele.
E foi assim que o meu nascimento destruiu a vida do meu pai. Desde aí ele tem andado sempre a lamentar-se e a perguntar-se a si mesmo porque é que ele não abandonou a minha mãe enquanto podia para continuar o sonho dele.
É claro que a culpa não é da minha mãe, e também não é necessariamente minha. Não fui eu que lhes pedi que fodessem e me tivessem.
Mas desde muito pequena, sempre que ouvia os meus pais a falarem no assunto, sentia aquele aperto no estomâgo. Aquele pequeno sentimento de culpa e nunca percebi bem porquê.
Só até há uns poucos anos é que os problemas em casa começaram.
Quando eu tinha 12 anos estava na minha sala a ver televisão, a ver o típico "Hotel Doce Hotel" e comecei a ouvir gritos.
Não me importei ao príncipio, apenas aumentei o volume da televisão. Os gritos costumavam acontecer com frequência e só duravam uns minutos, por isso é que eu nunca me preocupava em ver o que se passava.
Mas daquela vez foi diferente. Eu ouvia alguém a chorar também.
Decidi ir até à cozinha e vi aquilo que nunca esperei ver. Algo que até hoje nunca me saiu da memória.
A faca estava tão perto do pescoço dela. Uns milímetros e a faca que ele tinha na mão passaria a ficar cheia de sangue.
Comecei a chorar. Quem me dera poder ter ajudado a minha mãe, mas eu tinha 12 anos, estava assustada e não fazia a mínima ideia porque é que o meu pai estava a fazer aquilo.
Assim que eu comecei a chorar o meu pai largou a faca, e a minha mãe disse-me para eu ir para o meu quarto.
E foi naquele quarto que tudo começou.
Naquele noite, que parecia que nunca mais acabava, eu pensei em tudo. Pensei na história do meu nascimento, na verdadeira, não a mentira que a minha mãe contava. Pensei na forma como o meu pai sempre me tratou ao longo destes anos, das vezes que ele falava do sonho dele, em como ele daria tudo para voltar aos anos da faculdade, e de todas as vezes que ele e a minha mãe gritavam.
Naquela noite finalmente percebi: era tudo minha culpa.
A minha adolescência não foi tão boa como a minha infância, por razões óbvias.
Embora eu ainda soubesse que todas as discussões que ainda haviam entre os meus pais eram minha culpa, aprendi a viver com esse sentimento de culpa que parecia nunca desaparecer do meu corpo.
Ás vezes eu tinha aqueles momentos de depressão, que duravam mais ou menos uma semana. Essas semanas eram o inferno para mim. Durante essas semanas tudo o que eu queria fazer era desaparecer, queimar coisas e magoar-me a mim mesma.
Claro que nunca tentei o suicídio, nunca tive coragem para chegar a esse ponto.
Durante o secundário consegui fazer alguns amigos mas durante esses anos sempre fui aquela que nunca era convidada para festas, eu própria tinha de aparecer nelas.
Mas eu não me importava, eu só queria poder acabar o secundário em paz e conseguir ter boas notas para poder ir para uma boa universidade e começar um curso bom à minha escolha. Basicamente o que eu queria era deixar o capítulo do secundário para trás e começar um novo, longe dos meus problemas.
Mas uma coisa que eu tenho de aprender é que se fugirmos dos nossos problemas, eles irão-nos perseguir e tornar-se maiores.
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vou tentar adiantar mais as outras fanfics depois publico esta :-)
btw esta vai ser uma fanfic mais curta por isso n esperem tnt desta fanfic como das outras mas espero que gostem <3
comentem votem e mostrem aos vossos amigos sejam fofas <3<3<3
BTW ouçam a musica Asleep dos The Smiths, a musica em que eu me inspirei para esta historia , adoro essa musica <3<3<3
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Asleep || luke hemmings a.u. [PARADA]
Fanfiction"Sing me to sleep, and then leave me alone." [copyright © 2014 leonorwho]