III.

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Estive até à uma da manhã a preparar as minhas malas. Embora eu já as tivesse começado a preparar há alguns dias, ainda me faltavam levar muitas coisas, e ontem decidi fazê-lo.

-Sim não há problema querida. És bem-vinda a minha casa em qualquer altura.- a minha avó disse-me, ao telemóvel.

-Obrigado avó, daqui a umas horas já estamos juntas!- comecei a sorrir porque estava mesmo entusiasmada para sair de casa e ver a minha avó, que já não via há mais de 1 ano.

-Sim querida, tem cuidado!- ela começou a ralhar-me ao telemóvel. Ela era um bocado surda por isso às vezes gritava comigo a pensar que estava a falar com um tom normal, que era um pouco irritante mas ao mesmo tempo muito engraçado.

-Sim vó, não há problema. Beijos, vemo-nos mais logo.- disse-lhe, a rir.

-Amo-te muito querida.- ela começou a mandar-me beijos, sem parar.

-Também te amo, vó.- mandei-lhe um beijo e desliguei-lhe o telemóvel. A minha avó é daquelas pessoas que adora falar e tenho a certeza que se eu não lhe desligasse o telemóvel, continuaríamos a falar durante mais 3 horas.

Eram agora 11h30. Eu queria sair de casa ás 12h para poder chegar a São Francisco por volta das 14h, para dar tempo à minha avó de fazer o almoço sem pressas.

-Então, é assim? Vais agora?- a minha mãe apareceu atrás de mim e eu virei-me para ela. Sentia um bocado de pena por me ir embora e deixá-la com o meu pai, mas eu ir embora era o melhor para todos, assim as discussões deles iriam acabar.

-Sim...- respondi-lhe, dirijindo-me ao balcão da cozinha para preparar o meu pequeno almoço.

-Ok.- ela baixou a cabeça. Podia notar-se perfeitamente a tristeza dela, mas lá no fundo ela percebia a minha pressa e tenho a certeza que ela iria concordar comigo se eu lhe contasse a minha razão.

-Mãe, eu depois venho-te visitar, quando puder. Ou vais tu lá, são só 2 horas de viagem.- sorri-lhe, tentando animá-la. Embora ela às vezes fizesse coisas que me faziam odiá-la, ela continuava a ser a minha mãe e, ao contrário do meu pai, sempre me tentou ajudar naquilo que podia e nunca me fez sentir tão mal como ele me faz sentir todos os dias. Eu preocupo-me com ela, aliás, eu preocupo-me com toda a gente, mesmo quando as pessoas não merecem. E esse é um dos meus grandes defeitos.

-Sim eu sei, mas vou ter saudades tuas.- ela sorriu-me também.

-Eu também mãe.- estendi os meus braços e ela aproximou-se de mim, abraçando-me. Ela fazia-me perder a cabeça tantas vezes e não foram poucas as vezes que quis sair de casa por coisas que ela fez ou disse mas, no final do dia, ela é minha mãe e eu amo-a, como sempre amei.

...

Tinha acabado de tomar o pequeno-almoço, eram 12h20. Já sabia que ia chegar tarde para almoçar por isso decidi telefonar à minha avó a avisar.

*em chamada*

-Sim querida, não há problema.- a minha avó disse-me.

-Não te importas mesmo?- não queria fazê-la ter de esperar tanto para almoçar mas também não queria almoçar sozinha.

-Não, não. Põe-te mas é a andar que eu já estou cheia de saudades tuas!- ri-me juntamente com ela.

Despedimo-nos e eu desliguei então o telemóvel, pronta para sair e finalmente ir para longe de Sacramento.

Fui buscar as minhas malas ao meu quarto, que agora estava completamente vazio.

Só tinha uma cama, que já nem tinha os lençóis, uma mesica de cabeceira, uma mesa de madeira ao lado da cama e um armário à frente da mesa, também vazio.

A única coisa que dava para distinguir o meu quarto onde "vivi" durante mais de 18 e um quarto de uma casa nova são os papéis colados na parte de dentro do armário.

Comecei a colá-los aos 13 anos, numa das piores noites da minha vida, para além daquela noite quando tinha 12.

Lembro-me de nesse dia, um rapaz ter gozado comigo por ter as mamas pequenas. Eu sei que não devia ter ficado tão perturbada porque ele era só mais uma das pessoas que gostava de me chatear só porque não tinha mais nada que fazer, e eu tinha 13 anos, é óbvio que as minhas mamas eram pequenas nessa altura.

Mas eu nunca fui a pessoa mais confiante do mundo, aliás eu acho que nunca estive feliz comigo mesma. Nunca foi só o problema de não gostar do meu corpo que me atormentava, para mim tudo o que eu faço são asneiras, problemas. Tudo o que eu faço, faço mal, e não importa quantas vezes me digam que eu sou bonita ou inteligente, eu não vou acreditar porque sou mesmo assim.

E a única maneira que eu arranjei para lidar com isto tudo foi desenhar, desenhar a "perfeição". Chamavam-me feia, eu colava no armário o desenho de uma rapariga bonita. Chamavam-me gorda, desenhava uma rapariga magra.

Era uma forma de me poder inspirar, sei lá, uma motivação.

...

Peguei nas minhas chaves do carro, nas malas e sai de casa, onde a minha mãe já estava à minha espera,ao lado do meu carro, um carro antigo que costumava ser do meu tio, e que, quando ele teve de comprar outro, em vez de vender este, deu-mo.

Coloquei as malas na mala do carro e dirigi-me então à minha mãe, abraçando-a.

-Vou ter muitas saudades tuas.- ela disse-me, com a cabeça no meu pescoço.

-Sim, eu também mãe.- libertei-me do nosso abraço. Sorri-lhe e finalmente entrei no carro.

Abri a janela do carro quando vi a minha mãe a acenar para mim, para me dizer algo.

-Mãe ainda não saí.- disse-lhe, rindo.

-Eu digo ao pai que saís-te mais cedo e que não pudeste-

-Sim, não me interessa. Adeus mãe.- fechei a janela, sem sequer querer ouvir falar do meu pai. Ele para mim não está "morto", mas digamos que para mim ele é como um estranho.

Liguei, finalmente, o carro e comecei a conduzir.

-SÃO FRANCISCO ESPERA-ME!- gritei o mais alto que podia, com o rádio no máximo.

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eu nao tenho um nome para a avó dela, fica avó lolol

ok e foi isto lol espero que tenham gostado <3

I-G-G-BYE (eu penso q tenho piada lel)

Asleep || luke hemmings a.u. [PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora