II.

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Logo a seguir à minha miserável conversa com a minha prima tive de ir jantar.

Como sempre cada um dos meus pais se sentava numa das pontas da mesa e eu num dos lados da mesa, mesmo no meio, para não ter que os aturar tanto.

-A tua prima ligou-te?- a minha mãe perguntou, enquanto tentava cortar a carne.

-Sim, infelizmente.- respondi, bebendo um gole de água.

-Beatrice, não fales assim dela. Ela só está a tentar ser simpática.- a minha mãe disse, começando já a levantar a voz, mas assim que ela reparou que já estava a começar a gritar comigo parou porque ela sabia que se ela gritasse eu saía da mesa para não ter de a ouvir. Não seria a primeira vez que eu fazia isso.

-Calem-se, estou a tentar ouvir- o meu pai ordenou, apontando para a televisão à frente da mesa que estava a passar em direto um jogo de futebol, mas ninguém lhe prestou atenção.

-Eu nem sei porque é que tenho de ir, tu é que lhe disseste que eu queria ir quando sabias perfeitamente que eu não quero nem meter lá os pés!- não lhe gritei porque não queria que ela fizesse o mesmo mas tinha uma opinião a manter e tinha de o demonstrar.

-Calem-se!- o meu pai disse ainda mais alto mas mesmo assim ninguém olhou para ele sequer.

-Tenho a certeza que te vais divertir Beatrice. Também é só um dia, faz esse favor à tua prima. Gostando de ti ou não ela nem te vai prestar atenção nesse dia por isso podes andar por lá, conhecer pessoas novas, divertires-te com o resto da família, ...

-CALEM-SE PORRA !- o meu pai bateu com a mão na mesa e desta vez a minha mãe e eu olhámos para ele. Olhei para a minha mãe e vi que ela já estava aterrorizada e ainda nem lhe tinha respondido.

-Estamos a falar do casamento da Victoria.- ela respondeu-lhe, baixando a cabeça.

-E O QUE É QUE ISSO INTERESSA ?! EU ESTOU A VER O JOGO FODA-SE!- ele gritou, batendo com o copo na mesa.

-Eu sei mas...

-MAS O QUÊ?! 

-Pai, por fav-

-Não, Beatrice.- a minha mãe disse, tocando-me no braço.

Olhei para os olhos dela e tudo o que vi foi medo. Puro medo e cobardia. Eu sabia o que ia acontecer, estando ali ou não, porque naquela casa era como se eu fosse invisível.

-Vai para o quarto.- embora eu não quisesse assitir ao que se iria passar, não pude evitar senão ter pena dela. Ela era minha mãe afinal de contas, e mesmo que eu a achasse o ser humano mais irritante do mundo às vezes, isso não significava que eu não tivesse coração.

-Não.- fi-la largar o meu braço e virei-me para o meu pai, pronta a defendê-la.

-Ouviste a tua mãe, vai para o quarto Beatrice.- ele disse-me.

Olhei para a minha mãe e ela só acenou com a cabeça, por isso não falei mais nada e lá fui, direta ao meu quarto.

Subi as escadas mas assim que ia para subir o último degrau parei. Sentei-me nas escadas com as mãos na cabeça apenas a ouvi-los, não sei porquê.

Eu odiava ter de os ouvir a discutir, desde criança que detesto e que sempre tive muito medo de que algum dia a discussão voltasse a tornar-se física, como quando eu tinha 12 anos.

Começaram então os gritos e podia também ouvir o bater violento da porta. Comecei a chorar.

Não sou daquelas pessoas que chora por tudo e por nada mas desta vez não havia maneira de o parar.

Passei as mãos pelo cabelo e levantei-me. Desci as escadas até à porta e coloquei a mão na maçaneta, interrogando-me se devia rodá-la ou fugir para o meu quarto e chorar a noite toda, como há 6 anos atrás.

Suspirei, limpei as minhas lágrimas e abri a porta, e assim que o fiz ouvi um grito vindo de apenas uns centímetros de mim.

-P-P-ai?- estava aterrorizada. A minha mãe estava encostada à parede mesmo à minha frente com as duas mãos num lado da cara.

-NÃO ME CHAMES ISSO!- o meu pai virou-se para mim e aproximou-se.

-Ela não tem culpa!- eu sabia do que é que eles iam falar e percebi que a minha mãe queria defender-me ao máximo, tentando gritar também com ele, mas estava com medo. Como eu.

-Ai não? Se não fosse por causa de ti !- ele apontou-me o dedo indicador, e à medida que ele se ia aproximando, eu ia-me afastando cada vez mais dele.

-Se não fosse por causa de ti era eu que aparecia ali !- ele gritou-me, apontando para a televisão.

Não sabia o que lhe responder, porque ele tinha razão. É claro que não fui eu que tive escolha no facto de ter nascido, mas a culpa não deixava de ser minha.

E eu sentia-me terrível por causa disso todos os dias. Especialmente porque todos os dias ele falava-me sobre isso, fazendo-me sentir pior a cada dia que passava.

-Ela não tem culpa, larga-a!- a minha mãe tentou empurrar o meu pai, mas foi ele que a acabou por empurrar, fazendo-a cair no chão.

-Não voltes a fazer isso, ou para a próxima vai ser pior.- ele disse-lhe e saiu da cozinha, levando uma garrafa de uísque e um copo com ele.

Assim que ele fechou a porta, fui direta à minha mãe, que estava estendida no chão.

Tentei levantá-la, mas ela negou a minha ajuda.

-Não filha deixa est-

-Não te vou deixar aqui mãe.

-Eu só quero descansar.- ela disse-me, suspirando.

-Mãe o que ele fez...

-Não te importes com isso, ele está só bêbado, e vai ficar assim até quando for dormir. Amanhã ele já está normal.

A minha mãe levantou-se lentamente, sem querer a minha ajuda, e saiu da cozinha em direção ao quarto dela, que também é o do meu pai, mas ela sabia que ele ia ficar trancado no escritório a beber a noite toda até adormecer com a cabeça na secretária.

Dirigi-me então ao meu quarto apenas com uma intenção: fazer as minhas malas para de manhã ir para São Francisco ter com a minha avó.

Só era suposto eu me mudar para São Francisco daqui a uns dias, quando fosse para me encontrar com a minha prima Victoria, mas já estou farta de aturar estas discussões diárias cá em casa. E aliás, eu só estou cá a estorvar. Tenho a certeza que quanto mais cedo me for embora, mais cedo as discussões acabam.

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YEY 2º CAPÍTULO lol estão a gostar crianças? :---)

a fanfic nao vai ser sempre DRAMA WOW e cenas oK

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Asleep || luke hemmings a.u. [PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora