Você sabe se o dia na cidade está cinza só pelo clima, geralmente demora mais para clarear nesses dias. E hoje era um dia assim, triste e belo... eu não estava muito bem, então desci as escadas já pronta e lá estava mamãe e papai já na mesa. Peguei meu lanche e meu skate e sai sem dizer uma palavra. Não queria ir para a escola... tá tudo errado Jade, tudo. As pessoas param de falar comigo, a Koreia, a pessoa que eu mais confiava na sala me tratou com desdém ontem, algumas pessoas também estão me evitando. Mas o problema é comigo, eu to no meio furacão, não é a primeira vez que eu me sinto um lixo assim como se a vida fosse um mar de gente e só sobrevive que sabe nadar, e talvez eu não saiba.
Já faz alguns meses que eu me sinto assim, depois de ter perdido boas amizades por fofocas e mentiras, meu único amigo era o Vini, talvez por ele não ter ciclo de amizade na sala e ser tímido, muito tímido mas eu gostava dele, ele não precisa de ninguém pra se sentir bem, bem diferente de mim.
Eu não vou para a escola, pela primeira vez eu estava pensando nisso, eu ia me sentir péssima se eu fosse. Cheguei na praça, tomaria um café no Âncora, estava atravessando a rua...
- Jade!- alguém me chamou, olhei para trás.
- hmm, oi Vini.
- Eae?
- Eae?
- como você tá?
- eu to indo e você?
- indo também.
- Você vai para a escola?-perguntei.
- hmm,não e você?
- também não, não to me sentindo bem para ir hoje.
- eu também não muito, e hoje tá um ótimo dia pra aprovei a tristeza do dia- riu baixinho.
- é...eu to indo no Âncora, você quer vir junto tomar um café?- eu nunca tinha convidado alguém pra sair junto comigo, eu sempre ficava em casa ou sozinha com os meus cachorros, mas ele era meu amigo... e nós íamos tomar um café sendo amigos, né?!
- claro, porque não?
Então atravessamos a rua juntos, ela estava molhada o que me fez pular as faixar brancas de pedestre para não ter o perigo de escorregar... começou a rir do meu ato. Entramos... o melhor lugar para tomar café em dias chuvosos, ótimo pra ter paz ou tirar fotos "tumblr", fomos até o balcão, o espaço não é gigante, mas ainda lindo. Temos dois cafés na cidade, esse que é maior, mais bonito e da pra ver a chuva e a praça e o do centro que é mais agitado pois as pessoas depois do almoço gostam de ir lá pra tomar um café e voltar para o trabalho.
- Oi!- disse a moça do balcão
- Oi...hm... vamos ver o que pedir.
Peguei o cardápio e dei uma olhada, quente ou frio?
- Eu vou pedir um capuccino, com waffle acompanhado de Nutella, e você Vini?- perguntei virando para ele.
- Eu vou querer o mesmo...
- Ok! A conta é junta ou separada?- antes de pensar em responder aquela pergunta, me peguei pensando... será que a moça do balcão acha que nós somos um casal ?? Aí meu Deus !!!
- É tudo junto sim.
Me virei para ele provavelmente com a pior cara de espanto já visto na história, comecei a ficar vermelha, muito vermelha.
- Não precisa...
- Por você estar me acompanhando...não é nada, amiga...
Tá legal para tudooo eu achei super fofo o que ele falou pra mim, ainda mais com a carinha de cachorro fofo dele. Deus me ajuda!!
Sentamos dentro do estabelecimento mesmo, logo depois da porta principal a arquitetura bem planejada obriga a estrutura a se curvar fazendo um grande janela em arco. Sentamos um do lado do outro olhando a movimentação através do vidro, esperando um disco redondo apitar para nos avisar que nosso pedido está pronto.
- Eu amo dias chuvosos e cinzas- disse sem olhar para mim.
- Eu também, são os melhores dias - a tristeza veio e se transformou em lágrimas que tentei conter a todo custo.
- O que aconteceu? - perguntou finalmente olhando para mim.
Comecei a chorar baixinho, e pelo canto do olho percebo que ele me olha com espanto, dou de ombros e coloco as mãos no rosto. Não sabia qual era o problema, mas sentia que não pertencia mais a mim mesmo como se não houvesse mais motivos para continuar seguindo com as coisas. E na maioria das vezes eu ignorava essa sensação, fingia que estava tudo bem e empurrava tudo com a barriga.
Mas aquela simples pergunta, sincera e preocupada quebrou todas as barreiras que eu tinha criado para não expor o que estava sentindo. Eu não conseguia parar de chorar, meu rosto queimava com a vergonha de estar tão desequilibrada, ainda mais na frente de um garoto.