Capítulo 1

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Passos apressados descendo pelo túnel de ônibus. Eu estava atrasada, muito mais do que atrasada para ser mais precisa, por qualquer motivo inútil que nem eu própria sabia. Era o meu dia de folga, havia passado horas sentada no chão do corredor buscando o sinal do WI-FI. Sites de dicas de mochileiros, grupos no Facebook de mulheres que viajam sozinhas, promoções de passagens de avião. Estava juntando dinheiro para viajar. O lugar ainda não era certo, esperava decidir de último minuto em ir a qualquer lugar que o vento norte me chamasse. Vejo o ônibus que me leva a faculdade e corro ainda mais depressa, o tecido da minha saia midi voando e se embrenhando entre as minhas pernas. Ainda há espaço para sentar, suspiro aliviada enquanto coloco os fones de ouvidos.

Estudo longe do centro, na fronteira de minha cidade com outra. O Campus do Vale é enorme, cheio de árvores e lugares que eu nunca tive a paciência de explorar. Às vezes me sinto mal por isso, mas a preguiça sempre me ganha. Mas mesmo assim, eu amo o ambiente e na maioria do tempo até as pessoas. Gosto de ver os diferentes tipos de pessoas frequentando o mesmo lugar e o fato de eu ter feito amigos lá. Quando eu finalmente chego, 20 minutos após o começo das aulas, o meu lugar já está guardado ao lado da Lara. Mas é a Isa que primeiro toma a fala.

- Tu não devia ter perdido o Inferninho da Letras ontem. Bah, de todas as noites que tu não foi aqui, essa com certeza foi a pior. Até a Lara ficou muito louca.

As festas no Vale acontecem direto e por diversas vezes minhas amigas vão até nas que não são do curso de História, e a da Letras é uma das mais famosas. Acho que em um ano e pouquinho de graduação, devo ter ido no máximo cinco vezes em algumas das festas. Eu faço em média três disciplinas por semestre e trabalho seis vezes por semana em um Shopping. Além disso, tenho aulas de inglês e de pilates. Não tenho energia para ir a festas. E na verdade, nem o interesse.

-Enfiiiiiiiim, a Larinha aqui conheceu um boy do direito. E como ela tinha bebido e tava mais solta, conseguiu falar com ele como uma pessoal normal e ele convidou ela para uma noite que a irmã dele vai fazer sexta. A Natalia já confirmou que ela e o Mateus vão. Tu tem que ir também, sério. Faz décadas que tu não sai com a gente e nem vai a festa alguma.

Olhei para a Lara e a vi corar, enquanto a Isa quase pulava de tão animada. Lara era muita tímida, muito fechada e aos 20 anos, quase não havia se envolvido com garotos ou garotas. Se ela estava corando e aceitou ir na casa de um cara, quer dizer que o assunto era sério.

- Sério, Eliza. Tu tem que ir, pooor favor. A Isa vai ficar o tempo todo bebendo e conversando com os amigos dela e é obvio que a Nati não vai cumprir a promessa de não ficar grudada no Mateus. Tu é a única que é solteira também e eu sei que tu vai gostar do Gabriel. Ele é muito simpático e tem até um amigo que parece que tá sempre com ele. Talvez vocês se deem bem.

- Tudo bem. Se vocês fazem tanta questão assim, eu vou para te fazer companhia. Mas olha só, sábado eu tenho que chegar no trabalho ás 11h e eu não vou poder ficar até o fim e encher o cu de bebida que nem vocês fazem.

A Isa quase cuspiu Coca Cola para fora enquanto ria e Lara corou ainda mais. Ela não gostava de perder muito o controle e falar que ela estava bebendo muito era vergonhoso pra ela. A Natalia também chegou atrasada, por estar em uma reunião no DCE, e a encontramos apenas na hora do intervalo. E foi só nesse momento, um pouco mais de 1h30 após ouvir pela primeira vez o nome do Gabriel, que se tornou conhecido para mim o quão forte iria me influenciar esse encontro. Mas eu não sabia disso ainda. Naquele momento, o fato só era estranho ou uma simples coincidência.

- Eliiiiiza, meu amor. Que saudade. As gurias te contaram? A Lara conheceu o amor da vida dela ontem e ainda veio teu par romântico de brinde.

- Como assim?

Isso não é Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora