Capítulo 2

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Eu estava apoiada no murinho do terraço, em uma área mais afastada da multidão. A festa já tinha atingido o meu limite de quantas pessoas bêbadas e cheiro de maconha eu posso aguentar. Tudo que eu queria era ficar sozinha e sentir o cheiro da noite, olhar os pontinhos coloridos formados pelas janelas dos apartamentos distantes. Aconteceu o que eu tinha previsto, minhas amigas acharam os seus pares referentes à suas personalidades e eu terminei a noite sozinha. Elas faziam exatamente a mesma coisa de uma hora atrás e da outra também. Eu sei que eu poderia ter ficado com alguém e oportunidade não me faltou. Na verdade, eu própria estranhava que a minha inquietude não estava sendo mascarada flertando com desconhecidos. Agindo mais sensual e ousada do que eu realmente sou. Geralmente eu não ia a festas por esse motivo. A minha principal tendência era de sentir insegurança e como consequência, fazia questão de manter alguém ao meu lado. Por uma noite. Só para não ficar sozinha. E isso era algo que eu queria tanto mudar em mim, que a minha solução era de me isolar completamente no sentido amoroso. Sinto uma presença ao meu lado enquanto pensava. Ainda me lembro de que eu fiquei genuinamente surpresa ao constatar que a pessoa ao meu lado era Fitzwilliam.

-Então, o Gabriel me disse que a Lara tinha uma amiga Elizabeth. Como em Orgulho e Preconceito. É você, não é?

- Tu me viu com Lara e eu sou a única pessoa fora do teu circulo de conhecidos aqui. Então essa pergunta é meio obvia.

Eu sabia que tinha sido grossa, eu sabia que essa não era a melhor forma de responder á uma saudação. E ele tinha sido legal, ainda mais que mesmo parecendo um cara meio fechado, ele foi puxar assunto comigo. E pelas palavras, pelo jeito que me olhava, ele estava nervoso. Não foi algo fácil de tomar atitude. Mas ele cheirava tão bem, tinha os olhos tão azuis. Que eu só consegui pensar em céus de invernos e como ele ficaria bonito com uma roupa do século 19. E eu não estava preparada, sabe? Em minha defesa, eu tinha me preparado para ser apresentada á um esquisito com nome esquisito. Não com a minha amiga me deixando sozinha e tal Fitzwilliam, que é realmente bonito. Argh.

Eu vi que ele ficou meio quieto, meio sem saber o que falar. Então eu fiz a pergunta que eu realmente queria saber desde começo. Para entender direitinho essa loucura de coincidências e bla bla bla.

- Pois então, Darcy é nome ou sobrenome?

Ele pareceu se acalmar um pouco, a respiração até parece até que soltou ao saber que não teria que responder a minha frase anterior.

- É sobrenome, mas se escreve de forma diferente. Como o do ator James D'Arcy. Foi total coincidência minha mãe se apaixonar por alguém com o sobrenome do livro favorito dela. Mas também achou isso um aviso dos céus de que algo estava predestinado, sabe? Foi tudo igual, sabe? Um casal de filhos, primeiro um menino e só depois de anos uma menina. E ela ainda morreu quando a Georgiana tinha quatro anos. De um tipo de câncer de mama bem severo. Mas meu pai não morreu como no livro e não há nenhum Wickham nas nossas vidas. De qualquer jeito, sou eu que cuido da Georgiana na maioria das vezes, ainda mais depois que ela decidiu fazer faculdade no Brasil como eu.

Eu fiz uma pergunta simples, só queria saber se era sobrenome mesmo. Ele deu uma resposta desnecessária e pelo jeito devia estar tagarelando de nervoso. Achei-o meio covarde e fraco por isso. O que é algo que eu dificilmente respeito em alguém. Porém mesmo assim o incentivei a falar. Não entendo o por que. Talvez seja pela voz dele que era bonita. Talvez por eu já souber, como aquele sinal dos céus que a mãe dele diz ter sentido, algo que é apenas instintivo. Seria que teria mudado alguma coisa eu não ter dado papo para ele? As pessoas estão mesmo destinadas a se encontrar, sempre presas por uma linha vermelha no dedo? Akai ito.

Isso não é Orgulho e PreconceitoOnde histórias criam vida. Descubra agora