Capítulo 1- Lembranças

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Subo as escadas, sigo lentamente pelo corredor até chegar ao quarto. Nunca tinha ido tão longe.

Giro lentamente a maçaneta e entro. O quarto parecia o mesmo da última vez que visitei, há alguns meses atrás.

Vou ate a cortina, afasto deixando a luz de o sol litorâneo entrar no quarto. Afasto as portas de correr da varanda, da onde pode se ver a praia ao longe, com um mar de água clara e revolta.

Fecho os olhos, respiro fundo, sentindo o cheiro característico da praia, se tinha algo que Aldo tinha ensinado, era aproveitar todos os dias no litoral, e principalmente apreciar o mar. Mesmo quando às vezes, sua sabedoria parecia um mistério.

Volto para dentro do quarto, vou ate o closet, onde pego uma caixa enorme na parte de cima, e levo ate a cama. Abro com certa relutância, mas era necessário.

Retiro algumas lembranças de dentro. Uma concha do mar que Aldo me deu, o véu que usei no dia de nosso casamento, um exemplar dos muitos livros de gastronomia que ele escreveu e um álbum de fotografias.

Abro o álbum passando os dedos sobre as fotos, e uma lágrima escorre de meu rosto, parecia que tinha menos tempo que tudo aquilo tinha acontecido.

Vou folheando, vejo as meninas do quartel no dia do meu casamento, minha família, o pai de Aldo... Ate que paro em uma foto da qual ambos estamos sorrindo ao cortar o bolo, vejo seu sorriso largo e branco, tão convidativo e amigável. E abruptamente fecho o álbum, jogo todas as coisas dentro da caixa, e volto a guardar em seu respectivo lugar.

Fecho as portas da varanda e as cortinas. Fecho a porta rapidamente, e desço as escadas correndo e chorando.

Fecho a porta principal, como se trancasse aquelas lembranças agridoces. Não estava preparada para me desfazer de nada daquilo.

Tinha quase um ano que tentava, semana após semana, me forçar a me desfazer do passado, mas não conseguia. Não estava preparada para superar a morte prematura de Aldo.

Coloco a última roupa, puxo o zíper fechando a mala.

Confiro o horário do voo na passagem. Respiro fundo.

Pela manhã estaria outra vez na Cidade do México, para reaver minha parte na Conceitos.

A última vez que estive por lá, foi a mais ou menos quatro anos, quando Márcia e eu nós divorciamos.

Deito em minha cama, fecho os olhos tentando, quem sabe dormir, mas a única coisa que consigo pensar é em tudo que vivi ali, e não queria me deparar, porém ir ou não a Conceitos era indiferente. Afinal as lembranças de Letícia estavam muito vívidas em mim, mesmo depois de quatro anos.

O ar condicionado do carro estava na potência máxima. Acapulco normalmente era quente, mas hoje parecia pior.

Estaciono o carro próximo do restaurante e desço com minha bolsa em mãos.

Contemplo a fachada com a placa com o nome "O sabor da vida". Desde que me casei, cuidava das finanças do Aldo e desde o inicio nossa parceria dava bons frutos.

Enquanto ele cozinhava os melhores pratos e conhecia os clientes mais curiosos, eu ficava no piso superior em uma pequena sala totalmente decorada por mim, com uma vista incrível e bem iluminada, administrando os números e as burocracias. E ao final do dia tomávamos uma taça de vinho branco gelado em casa vendo o mar da nossa varanda.

Mas depois do ultimo ano tudo tinha mudado drasticamente...

Entro no restaurante e cumprimento os funcionários que encontro no caminho.

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