Capítulo 13- Aldo

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Recebo alta do médico, com uma receita com recomendações e datas das próximas consultas, agora precisava iniciar o pré-natal.

Volto para casa, agradeço tanto Samuel, quanto Paloma pelos cuidados. Peço para que avise todos no restaurante, que estava bem e que poderiam espalhar a boa nova sobre minha gravidez.

Resolvo tirar alguns dias de folga para descansar e reorganizar as ideias. Ainda estava surpresa com tudo que tinha acontecido.

Deito em minha cama, me ajeitando no travesseiro, pensativa com toda aquela situação, era um giro em tanto em minha vida, em um curto espaço de tempo. Acaricio minha barriga por cima da blusa e comento:

-Independente de qualquer coisa, mesmo que você não seja planejado, eu já te amo profundamente, por favor, quero tanto te conhecer. Estou radiante de saber que você esta em meu ventre. Será que você pode me ouvir? (Digo ternamente).

Fecho os olhos sorrindo, ate que o cansaço toma conta de mim e adormeço.

Vou caminhando devagar, percebendo que meus pés tocam a areia. Estava na praia com o mar de água cristalina ao longe e o céu azul, sem nenhuma nuvem anunciando chuva.

Vou caminhando ate que vejo um homem com fios loiros curtos de costas, mexendo em algo que parece uma rede, recostado próximo de um barco que me parece familiar. Quanto mais me aproximo, menos podia acreditar: era Aldo.

-Aldo! (Digo surpresa).

Ele se vira com seu habitual sorriso largo e branco, vestindo uma camisa branca aberta e uma calça de tecido mole, dobrada como um pescador descalço.

-Letícia! Enfim você veio! (Diz sorridente).

O abraço apertado não acreditando naquilo, sentia tanto a falta de seus abraços. Mas Aldo estava morto, eu vi quando tomou o tiro. Estava no hospital quando o médico declarou o óbito.

-Mas como assim: "enfim você veio"... Mas como você pode estar aqui? Você morreu! Eu vi... Eu... (E sou interrompida).

-Calma Letícia. Você sempre quer compreender tudo de uma vez não é mesmo? Disse que enfim você veio, porque estou aqui te esperando, ate que estivesse pronta. Quando toda dor que você carrega te deixasse ver as coisas com clareza... (Diz ternamente).

Aquilo era absurdo e surreal.

Começo a chorar. Vê-lo e sentir toda sua paz, me deixa emocionada:

-Eu senti tanto, mas tanto sua falta... Eu preciso tanto da sua sabedoria, tanto de você... Eu nunca esqueci de você... Nunca. Inclusive continue com o restaurante e nunca me desfiz de nada seu! (Digo emocionada).

Acaricia meu rosto com seu mesmo sorriso sincero de sempre e comenta:

-Eu sei que sentiu minha falta, eu sei quantas vezes chorou inconformada com minha partida, eu sei de tudo... E fico feliz que o "sabor da vida" esta de pé graças a você, e que se lembre de mim todos os dias... Mas quero que venha comigo próximo da beira da praia (Diz estendendo a mão).

Tinha tempos que não me aproximava do mar, eu era fascinada e apaixonada também, mas desenvolvi um bloqueio enorme, talvez porque Aldo amasse o mar, e isso me entristecia. Porque não podia mais compartilhar nada daquilo com ele.

Hesito e ele comenta:

-Você não confia em mim?! (Diz sorridente).

Confirmo com a cabeça que sim, seguro sua mão. Vou andando ate sentir a água bater, molhando meus pés, e ele comenta olhando ao longe:

-Percebe as ondas que se formam ali? Elas desaguam aqui perto da areia. Ela vem cheia de força, mas se rende serena, é um encontro lindo... Mas a água tem um curso Lety para seguir, assim como você. Esta na hora de seguir adiante, e falar com Fernando... (Diz serenamente).

Olho com espanto em sua direção. Ele sabia do Seu Fernando, mas como?

-Mas como você sabe sobre o Seu Fernando? Eu juro Aldo que não te trai nenhuma vez, eu tentei me afastar dele... E eu não posso seguir adiante por que... (E sou interrompida).

-Como poderia me trair? Eu sei que nunca me traiu... Você me amou, me deu uma vida, me devolveu a fantasia e a esperança de uma vida feliz ao seu lado... Mas agora precisa seguir adiante por você, e principalmente pelo bebê que esta crescendo ai dentro. Você ama Fernando, sempre o amou e eu sempre soube. Fico feliz que ele cuide de você, e te ame profundamente Letícia. Você merece ser feliz! (Diz sorridente).

-Mas eu não quero me desfazer de você e te esquecer... Eu quero manter sua memoria viva e honrar tudo que fez por mim (Digo chorosa).

Ele ri e acaricia meu rosto:

-Se desfazer das coisas não é me esquecer, é se libertar da dor, é se render a felicidade. Ninguém pode progredir estando no mesmo lugar. Se liberte da dor Lety para ser feliz. A vida é um presente, e não desfazer o laço do embrulho que é vive-lo, é a maior bobagem que você pode fazer... Minha memoria vive em você, em cada pensamento, em casa sorriso, em cada conquista, através do bebê que poderíamos ter tido (Diz sorridente).

Continuo chorando, aquela última frase acaba comigo. Ele coloca sua mão em meu coração comentando:

-... Através do seu amor, das coisas que vivemos, através do restaurante... Eu sempre vou te amar incondicionalmente, você esta marcada para sempre em mim. Eu tive que partir, porque a vida tem dessas coisas, minha hora era aquela e não se sinta culpada. Você não tem responsabilidade nenhuma... Tem minha benção e meu apoio (Diz sorridente).

Aldo beija minha testa ternamente, sinto uma vibração estranha no corpo, e principalmente no coração. Ele irradiava uma luz quase sagrada e divina

Abraça-me apertado e depois me solta. Começa a andar em direção ao mar e pergunto:

-Aldo! Irei te ver? Digo novamente? (Pergunto limpando as lágrimas).

Ele se vira, sorri e diz gritando ao longe:

-Talvez sim, eu não sei... Mas o que importa que estou sempre com você, para sempre... Ah Letícia, por favor, me devolva ao mar... (E acena sorridente).

Depois o vejo mergulhar sumindo na água, se misturando nela. Sendo parte dela.

-Marina! (Digo sentando na cama).

Coloco a mão na cabeça atordoada. Tinha dormido, mas não podia ser um sonho ou era? Parecia muito real...

Levanto abruptamente, me dirijo ate o guarda roupa. Pego algumas roupas, coloco em uma mala. Em seguida troco de roupa, lavo meu rosto, prendo os cabelos.

Desço pronta e agitada, com a bolsa em mãos e a mala na outra, tinha que ir ate a capital. Eu precisava falar com Seu Fernando.

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