Subo as escadas, sigo lentamente pelo corredor até chegar ao quarto. Nunca tinha ido tão longe.
Giro lentamente a maçaneta e entro. O quarto parecia o mesmo da última vez que visitei, há alguns meses atrás.
Vou ate a cortina, afasto deixando a luz de o sol litorâneo entrar no quarto. Afasto as portas de correr da varanda, da onde pode se ver a praia ao longe, com um mar de água clara e revolta.
Fecho os olhos, respiro fundo, sentindo o cheiro característico da praia, se tinha algo que Aldo tinha ensinado, era aproveitar todos os dias no litoral, e principalmente apreciar o mar. Mesmo quando às vezes, sua sabedoria parecia um mistério.
Volto para dentro do quarto, vou ate o closet, onde pego uma caixa enorme na parte de cima, e levo ate a cama. Abro com certa relutância, mas era necessário.
Retiro algumas lembranças de dentro. Uma concha do mar que Aldo me deu, o véu que usei no dia de nosso casamento, um exemplar dos muitos livros de gastronomia que ele escreveu e um álbum de fotografias.
Abro o álbum passando os dedos sobre as fotos, e uma lágrima escorre de meu rosto, parecia que tinha menos tempo que tudo aquilo tinha acontecido.
Vou folheando, vejo as meninas do quartel no dia do meu casamento, minha família, o pai de Aldo... Ate que paro em uma foto da qual ambos estamos sorrindo ao cortar o bolo, vejo seu sorriso largo e branco, tão convidativo e amigável. E abruptamente fecho o álbum, jogo todas as coisas dentro da caixa, e volto a guardar em seu respectivo lugar.
Fecho as portas da varanda e as cortinas. Fecho a porta rapidamente, e desço as escadas correndo e chorando.
Fecho a porta principal, como se trancasse aquelas lembranças agridoces. Não estava preparada para me desfazer de nada daquilo.
Tinha quase um ano que tentava, semana após semana, me forçar a me desfazer do passado, mas não conseguia. Não estava preparada para superar a morte prematura de Aldo.
Coloco a última roupa, puxo o zíper fechando a mala.
Confiro o horário do voo na passagem. Respiro fundo.
Pela manhã estaria outra vez na Cidade do México, para reaver minha parte na Conceitos.
A última vez que estive por lá, foi a mais ou menos quatro anos, quando Márcia e eu nós divorciamos.
Deito em minha cama, fecho os olhos tentando, quem sabe dormir, mas a única coisa que consigo pensar é em tudo que vivi ali, e não queria me deparar, porém ir ou não a Conceitos era indiferente. Afinal as lembranças de Letícia estavam muito vívidas em mim, mesmo depois de quatro anos.
O ar condicionado do carro estava na potência máxima. Acapulco normalmente era quente, mas hoje parecia pior.
Estaciono o carro próximo do restaurante e desço com minha bolsa em mãos.
Contemplo a fachada com a placa com o nome "O sabor da vida". Desde que me casei, cuidava das finanças do Aldo e desde o inicio nossa parceria dava bons frutos.
Enquanto ele cozinhava os melhores pratos e conhecia os clientes mais curiosos, eu ficava no piso superior em uma pequena sala totalmente decorada por mim, com uma vista incrível e bem iluminada, administrando os números e as burocracias. E ao final do dia tomávamos uma taça de vinho branco gelado em casa vendo o mar da nossa varanda.
Mas depois do ultimo ano tudo tinha mudado drasticamente...
Entro no restaurante e cumprimento os funcionários que encontro no caminho.
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Segunda Chance
Fiksi PenggemarPassaram-se 4 anos desde que Letícia Padilla Solís, se tornou Letícia Padilla Domenzaín. E não apenas isso: depois do casamento, ela se mudou para o litoral, onde trabalha cuidando das finanças do restaurante "O sabor da vida", de seu marido Aldo. ...