Portão Aparelhado

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Sete e Pablo corriam em sua manada de pessoas perdidas. Conforme a imagem do brilho tomava a forma da Árvore enlouquecida, os primeiros em suas fileiras paravam, ou tentavam. O engavetamento de aventureiros foi inevitável. Alguns cajados acabaram, na desordem, parando onde não deviam. Mesmo tamanha indignação não durou muito, sendo transposta pelo desespero da visão da criatura.

Imagine uma linha reta. Agora imagine que esta linha está se movendo muito rápido para frente, e, súbito, ela freia e dobra para a esquerda, formando um "u" horizontal. Foi mais ou menos isso que ocorreu.

— Que era aquilo? — Disse Sete, cansada da corrida.

— Não sei, mas parecia um monstro. Dos grandes.

— Tinha gente atacando ele, né? A gente podia ajudar.

— Ajudar como? Nós não matamos nem aqueles esqueletos lá.

— Sei lá. — disse Sete, levantando os braços — A gente devia pelo menos tentar. Na boa.

— Meu deus. — Pablo colocou uma das mãos no rosto e fechou os olhos. — Que bosta mesmo.

— Que foi?

— Sujei os óculos.

— Ah

Na intensa batalha que perdurava, Zoni admirava um pedaço de grama iluminado pelas chamas da criatura, enquanto diversos ataques eram desferidos. A ponta de seu cajado brilhava num laranja esquisito, como uma abóbora pálida.

— Acho que deu. — Levantou-se e proferiu algumas palavras estranhas.

O cajado mudou de cor, passando para um laranja brilhante e muito vivo.

— Por gentileza. — ele tomou à frente dos magos com ar de prevalência e apontou seu cajado para o Boss,  cercado de guerreiros com escudos enormes.

"Vejamos o poder de sete acúmulos" pensou, enquanto proferias as palavras mágicas para conjurar Faísca, que não precisava, na realidade, de nenhum tipo de conjuração. Após terminar outra sequência de palavras impronunciáveis, o cajado explodiu.

...

  — Oou Pablo. — Sete tocou no ombro de Pablo, que limpava seu óculos com uma parte mais macia da armadura, de forma tão eficiente quanto lavar roupas com pedaços de carvão.

—   Eu ouvi. Bora lá então. Melhor que ficar correndo por aí. — Ele olhou para o chão por alguns instantes — Na verdade eu não tô nem um pouco cansado — Então olhou para Sete, que parecia uma boneca de cera sentada na parte interna de um vulcão ativo.

— Você está louco? — Sete arqueou as sobrancelhas — Devemos ter corrido pelo menos uns dois quilômetros.

— Ah... Bom... Eu fazia Crossfit.

Uma das pessoas deitadas disse:

— The tree! 

— Sim, é muito tri! — disse Pablo, empolgado — Cada dia o treino é diferente e você nunca sai sem estar m...

Um escudo enorme bateu nas costas de Pablo, que foi empurrado por mais de dois metros pelo chão. E ele teve absoluta certeza de que a grama alta que estava ali havia desviado dele. 

— Pablo! — Sete se aproximou — Tu tá bem cara? 

— Que merda foi essa?? — disse, enquanto se levantava — Ahh minha cabeça... —  Ele levou a mão à testa — MERDA! 

— Tá doendo muito? — Perguntou ela.

— SUJEI A BOSTA DO ÓCULOS MAIS AINDA! 

...

Zoni acordou com as mãos amarradas. Ele estava encostado numa pedra. Seus olhos ainda não haviam se acostumado com a luz quando uma mão foi colocada em seu ombro?

— Are you ok?

— Cara... 

— Oh, sorry — a pessoa fez alguns movimentos de mão com o dedo. — Português né? 

A visão melhorou e ele conseguiu ver a aparência da pessoa: uma espécie de guarda, com um capacete redondo de muito mal gosto.

— Onde a gente tá? Cadê a árvore?

— Ah, nós já a derrotamos. Você está no Portão Aparelhado. 

—  Portão? — Zoni olhou um pouco para o lado e viu o imenso portão, que parecia todo feito em metal amarelado, com partes em preto e vermelho. Ele parecia ter vários mecanismos esquisitos, com engrenagens por toda parte, ampulhetas e uma porta muito menor do que se esperaria.

— Sim, ele vai te guiar. — O soldado sorriu.

— Como assim "guiar"? — Zoni se levantou, caindo logo em seguida devido à corrente que o prendia na pedra.

— Ah, deixa eu tirar isso de você. Acabamos te prendendo depois que você explodiu algumas pessoas. Faísca né? 

— Ah... Não sabia que ia ser tão forte — Internamente Zoni esperava uma confirmação de sua força.

— Na verdade, o problema foi que você fez muita poeira e atrapalhou a visão de todos ali, principalmente do nosso ataque de longo alcance. Então achamos melhor te amarrar aqui enquanto derrotávamos a árvore. Nada pessoal tá? — com um golpe de espada o guarda cortou a corrente que o prendia.

— Ah. Entendi. Vou pra lá então? — ele apontou para o portão.

— Sim, e não esqueça disso. — Ele pegou o cajado de Zoni do chão e o alcançou, sorrindo.

— Obrigado. — Zoni se levantou devagar, com certo receio e ainda meio zonzo.

Ele caminhou até o gigantesco portão, onde havia centenas de pessoas, em filas bem organizadas por vários guardas. Olhando com mais atenção, viu que não havia apenas uma, mas diversas portas pequenas, com filas para cada uma delas. Ele escolheu a mais próxima e olhou para o céu azul. A música cessara. Por mais de uma hora, Zoni esperou sua vez. 

— Próximo! — gritou uma mulher, que estava sentada ao lado da porta. 

Zoni caminhou, confiante e sério, sem a menor ideia do que estava acontecendo.




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