Ana

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Alguns dias entre limpar as mesas, lavar os banheiros, jogar o lixo fora me fizeram pensar menos. Já conseguia viver numa espécie de piloto automático, durante o dia. Complicadas eram as noites, longas, inquietas, tensas.
Sonhava com a minha mãe, com a época em que éramos só nós duas, ou às vezes ainda com a vovó. Mas nem sempre esses sonhos terminavam bem. Em alguns deles, o Murilo, o cara que minha mãe casou há 1 ano, aparecia gritando comigo, me mandando embora da vida dela, como se eu fizesse algum mal a minha própria mãe.

"Eu nunca consegui ser uma Mãe tradicional. Quantas vezes me perguntei "agora estou sendo amiga ou mãe?", e boa parte das vezes era a primeira opção.
No entanto a minha filha sempre cumpriu o seu papel maravilhosamente bem.

Nunca me esquecerei dos seus olhinhos brilhantes prestando atenção a tudo o que eu falava ou dizia e das muitas vezes que tentava me copiar."

No restaurante, quando não tinha algo pra fazer, eu inventava. Foi num momento como esse em que eu limpava o banheiro masculino, quando de repente um cara entrou e acabou se assustando com o meu grito histérico.

"ESTAMOS FECHAAAAADOS!",

"Hey, calma, garota! Eu sei!"

Escutei a risada de dona Julieta me mostrando que era alguém que ela conhecia.

"Mas você mal chegou e já está sendo o centro das atenções? Nem veio falar com a sua avó?!"

Hummm...

"Desculpe." - Ele sorriu com uma cara de constrangido, envergonhado e deliciosamente lindo. Aff!

Tentei terminar minha limpeza o mais rápido possível, porque já estava quase na hora de abrirmos para o jantar e tão logo um mijão me pegaria no flagra novamente de bunda pro alto limpando tudo.

Enquanto eu recolhia os utensílios de limpeza e me aproximava da porta, senti uma pancada muito forte na cabeça, na testa, que fez minha vista escurecer, eu perder o controle do meu corpo e só escutar bem baixinho umas vozes de pessoas me socorrendo.

Minha outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora