Ana

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Que dor de cabeça desgraçada que fiquei. Tomei um Tylenol dado pelo cara que me socorreu, dizendo a todos que estava tudo tranquilo, mas a verdade era que eu só queria deitar na minha cama, fechar os olhos e ficar quietinha.

Eu precisava do emprego, se eu queria continuar com essa minha nova vida, tinha que ter como me sustentar. E onde mais eu iria trabalhar? Embora eu achasse estranho a Julieta nunca mais ter tocado no assunto sobre meus documentos.

Um dia desses, eu estava limpando sua sala, e ela me disse que gostaria de assinar minha carteira, que gostava de mim e tal. Bateu um pânico quando percebi que por todo esse tempo eu era uma mentira pra aquela mulher. Entrei no seu restaurante, pedi um emprego, dei um nome falso e nunca dei satisfação de nada. Na hora, só pude dizer outra mentira, que havia sido roubada e precisava tirar a segunda via dos meus documentos. Ela me olhou dentro dos meus olhos, parecia que lia a minha alma, disse que gostava muito de mim, que me queria por perto, que ela esperaria o meu tempo. Engoli a saliva quase engasgando, "esperar o meu tempo", isso me pareceu muito além do que a burocracia de uma segunda via.

Aos poucos, os clientes foram chegando, tudo voltando à normalidade, e logo a família da Julieta foi chegando. Ficaram numa área mais reservada, numa mesa grande, bonita, como a que tinha na casa da minha avó Letícia, mãe da minha mãe.

Ver aquelas pessoas sorrindo, se abraçando, falando alto, gesticulando, inevitavelmente fez me lembrar da minha vida como Ana.

Minha querida, você carrega em seu nome parte de mim e da sua avó que tanto te amou. Houve uma vez que eu ouvi você explicando seu nome para um grupo de meninas que acabara de conhecer no parquinho: "Ana, porque minha mãe se chama Ana Carolina, e Letícia, do nome da minha avó". Havia pouco tempo que ela partira, e vi o quanto seus olhos brilharam emocionados pela saudade que já sentia. "Ana Letícia", nome lindo que eu amo tanto.

Precisei ir à mesa deles para levar umas bebidas e fui surpreendida pelo olhar do neto da Julieta. Descobri que ele também era o meu patrão, e pelo seu olhar curioso, logo logo eu teria que arrumar um outro lugar pra ficar, se não quisesse me passar por mentirosa, como sou.

"Como está esse corte? Desculpe, nem me apresentei, sou Ruan." - falou o cara do sorriso simpático e um astral bem divertido.

"Não se encante pelas aparências, Sara. Esse cara costuma sair de coelhinho por aí" - e se aproximou de mim o agora meu chefe que me chamava pelo nome já cheio de intimidade. Ok. Ele era gato. Ok., eu daria mole pra ele SE não fosse todo o caos em que me encontrava.

"Porra, Gus, guarda essa merda!" - e todos caíram na gargalhada. Até eu tive que rir.

"Mas e aí, tá melhor? Minha avó tá querendo ainda te levar ao hospital. Fazer algum exame, sei lá." - até que eu poderia dar mole pra ele mesmo estando vivendo um caos... Meus Deus, estou ficando doida. Culpa da porrada na porta que dei. Maldita porta!

"Hã... estou bem. Não estou sentindo nada demais. O corte, como ele me disse, foi superficial, nem precisou de pontos. Tô bem." - e aí o Gus (bancando a íntima também, pelo menos só pra mim) mandou aquele sorrisão de molhar qualquer calcinha, e eu fiquei com aquela cara de retardada que não sabe o que fazer.

Percebi que logo seu sorriso se transformou numa cara emburrada seguida por um palavrão entre os dentes. Segui seu olhar e vi uma garota  toda trabalhada na maquiagem, saltão e o pior: gata.

"O que você está fazendo aqui, Celina? Esse jantar é de família!",

"Primeiro que o Ruan não é da família. Logo sou tão da família quanto ele. Segundo, quem é essa garota? É por isso, Gustavo, que você não tem me atendido e ainda me deixou falando sozinha no telefone hoje mais cedo?"

"Vem cá."

E ele saiu arrastando a super modelo para fora do restaurante. Julieta me pediu desculpas pela grosseria da que eu soube ser a EX-noiva do
agora Gustavo.

Voltei ao meu serviço porque estou longe de me dar ao luxo de sentar, beber alguma coisa e contemplar a vida alheia. Mas confesso que fiquei de olho em algumas coisas que aconteceram em seguida. A tal da Celina voltou e se sentou ao lado da ex-sogra que me pareceu bem interessada no papo. Ruan e Gus (já me rendi a esse apelido lindo que combina com ele) ficaram no bar bebendo e conversando longe dos ouvidos da mala sem alça.

Foi uma noite bem animada, de muitas emoções e dor de cabeça também.  Quando cheguei à pensão, que estava morando temporariamente, tomei um banho e me joguei na cama. Precisava de uma noite tranquila. Mas foi tudo o que eu não tive.

Você deveria ter vergonha de dizer que é filha da Ana. Foi por sua causa que ela não está mais aqui, garota!...

Mãe, me desculpe...
Mãe...
Mãe...

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Oi, gente. Gostaria de saber se estão gostando da história. Minha cabeça não para de pensar nos próximos capítulos!!! Vou fazer as postagens regularmente, porque estou ansiosa para ver o desenrolar das coisas! Hahaha
Beijosss

Minha outra vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora