Ultimamente, não consigo parar de pensar que talvez eu possa estar vivendo em uma realidade paralela, como se tudo o que eu costumava conhecer, passasse a acontecer de uma forma meio que contrária. Não há explicação plausível para justificar a merda que estou vendo nesse exato momento. Meu melhor amigo, Adam, está com um olho inchado e com a boca sangrando bem na minha frente.
Por anos pensei que isso fosse uma das coisas impossíveis de se acontecer, mas aqui está ele: com um sorriso débil no rosto enquanto apoia seu corpo de mais de um e oitenta na estatura pequena de Louise, que me olha como se pedisse socorro.
— Que porra está acontecendo aqui? — Pergunto, me apressando em tirar o peso de Adam dos ombros de Louise.
— Eu não posso leva-lo pra minha casa, Bradford, meus pais estão acordados e vão querer que ele vá pra casa dele, o que será um problema, pois você sabe exatamente como os Kane são, e...
— Relaxa, vamos dar um jeito — interrompo seu monólogo desesperado tentando tranquiliza-la, mas o olhar arregalado continua ressaltando o quão tensa está por ver o namorado nessa situação. — Você sabe o que aconteceu?
Louise balança a cabeça, negando.
— Ele chegou aqui repetindo que Gabe o socou, mas não diz o motivo.
— Gabe? — Franzo o cenho, lembrando da última festa que fomos, há pouco mais de um mês. — Eles não eram amigos?
— Eles são. — Ela assente. — Não faço ideia do que possa ter acontecido.
É um pouco surreal pensar que Adam possa ter se metido numa briga. Esse cara chapado que no momento não passa de um pedaço de bosta gigante jogado bem nas minhas costas, era a pessoa mais racional que eu já havia conhecido. Alguma coisa muito séria está acontecendo bem debaixo do meu nariz e eu não faço ideia do que pode ser.
— Me ajude a leva-lo pela porta dos fundos, meus pais estão na sala e vão querer saber o que aconteceu se chegarmos com ele nessas condições. Amanhã ele que se vire pra explicar o motivo dessa cara zoada.
Louise assente e atravessa o gramado rapidamente enquanto a sigo arrastando um Adam semi-inconsciente com certa dificuldade. Sinto meus músculos queimarem, implorando por clemência, mas como desistir e largar o cara para dormir no gramado não é uma opção, foco apenas em juntar todas as minhas forças para me livrar desse fardo o mais rápido possível.
Louise abre a porta que dá para a cozinha, paro um pouco, tentando fazer meus braços pararem de latejar em incômodo, não adianta muito. Ainda consigo ouvir o barulho meio baixo da televisão e nos preocupamos em fazer o mínimo de barulho possível ao subir as escadas, Louise vai na frente para abrir a porta do meu quarto e ajeitar as coisas por lá enquanto eu quase desmonto inteiro por estar carregando um dos maiores jogadores de futebol americano de toda a Westdale High. Acho que mereço um prêmio só por isso.
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UNFRIENDED
Teen FictionEthan Bradford é o típico modelo clichê americano. Amado e odiado nas mesmas proporções, o filho do prefeito de Hanover tem tudo o que muitos almejam: popularidade, dinheiro, um talento nato para o futebol e para lidar com as garotas que cruzam o se...