Episode: Alice - Avril Lavigne
Na manhã seguinte, Tomlinson sentiu-se estranho com a claridade. Acostumado a descansar esprimido dentro do armário, no breu, não pôde ignorar a diferença de estar esticado sobre uma superfície minimamente macia e quente, com o ambiente iluminado fazendo suas pálpebras tremelicarem.
Esta não foi a única mudança percebida, no entanto.
Havia uma matéria energética transmitindo um calor corporal na parte de trás da sua cabeça, que, quando mais consciente e situado de volta à vida, Louis desprendeu pertencer à mão de Harry que o fazia um carinho suave, transpassando seus longos e magros dedos entre os fios acastanhados do menor.Ele ainda era tão genuíno.
Tão benevolente e inocente.Esse era o grande medo materializado de Louis. Porque esta calmaria do mais novo era uma prévia da tempestade que se formava.
Sua doçura, sua suavidade, seriam avidamente arrancadas assim que o restante das drogas fossem perdendo o efeito no organismo, assim que os sete anos consumindo alucinógenos tivessem enfim uma interrupção.Interrupção.
Quão vadia não era essa palavra agora?O mundo deles era uma constante interrupção. De sonhos. De planos. De equilíbrio.
Tommo torcia com toda sua fé restante para que Harry não se voltasse contra ele quando a realidade começasse atingi-lo, quando a fantasia perdesse a cor e ele finalmente visualizasse quão cinza estava a versão real de sua existência.
Porque no fim das contas, ainda que na pior das considerações, o LSD era o melhor refúgio da dor. E Louis estava destruindo seu abrigo, destruindo as muralhas, pedindo - implorando - que Styles largasse o País das Maravilhas e aceitasse a tempestade.
Aceitasse os trovões.
Os vendavais.
A fúria dos relâmpagos.
A destruição deste tornado.Porque somente permitindo-se afundar na dor, sufocar-se por dentro... ele conseguiria sair dela.
Algumas feridas precisam ser reabertas para enfim se cicatrizarem.E a de Harry não era um pequeno corte, um rasgo vertical ou sequer uma fratura exposta.
A dele era uma amputação completa, após tirarem partes do seu corpo, removerem ossos e sonhos, e... não teria volta. Não cicatrizaria porque... os membros foram arrancados permanentemente.Ele teria que reaprender a ser.
Ele teria que - por escolha própria - andar para debaixo do temporal.
Incorporar a tempestade.
Afogar-se no dilúvio.Até que eventualmente isso se tornasse chuviscos.
Até que o vento se amenizasse para brisas.
E o barulho não o ensurdecesse, tampouco que o silêncio o fizesse solitário.Louis entendia que a chuva nunca iria parar.
Os gotejos - em forma de traumas, dores e arranhões - estariam ali para sempre, molhando suas epidermes e encharcando suas roupas quentes, conduzindo-os para um frio eterno.No entanto... no entanto.... mesmo com ela, com a garoa persistente e intermitente, Louis esperava que o sol viesse, que em algum instante o sol também aparecesse.
E ainda que suas vidas estivessem fadadas à chuva, também haveria o sol.
E com sorte, os arco-íris.Afinal, não é esse o padrão para todos nós?
***
A primeira marmita reservada para aquele dia era arroz com ervilhas e frango. Infelizmente gelado. E infelizmente uma porção única e modesta que o loiro sem hesitar compartilhou com o menor.
Eles comeram na mesa do chá.
Harry ofereceu garfadas para Zayn e Liam (que haviam sido postos delicadamente próximos dos pratos), enquanto Louis tentava não sentir aperto no peito para a noção de que aquilo estava prestes a acabar.
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Harry in Wonderland [❀ls fanfiction ❀]
FanfictionTudo estava bem. Louis e Harry eram vizinhos. E amigos. E - com o tempo - dois adolescentes secretamente apaixonados. Louis cogitou mil maneiras de confessar seus sentimentos para o garoto delicado e tímido dos olhos verdes assustados. Mas ele não...