Chegamos ao nosso lindo e maravilhoso Henrique. O que há no passado dele que o afastou de Renata?
Boa leitura!
Capítulo 1 – Chegada à Rubtsovsk
Umay
A história de Henrique será contada bem diferente de todos que fiz até o momento. Ela será narrada a partir do instante em que nossos caminhos se encontraram pela primeira vez; logo muitas vezes, ele mesmo narrará sua história; contudo, também existem muitos registros escritos por ele para que mesmo distante, eu pudesse acompanhá-lo.
Amanhã, chegará a nossa base um brasileiro de nome Henrique. Mesmo estando exausta, pois o dia foi muito puxado hoje, resolvi ler a ficha enviada por Murilo para que eu possa analisar o perfil do voluntário.
Nome: Henrique Silva Barcellos
Idade: 44
Estado Civil: Solteiro
Sexo: Masculino
Nacionalidade: Brasileira
Filhos: nenhum
Formação: Arquitetura e Técnico de Enfermagem
Área de atuação: ArquiteturaPai:
Reginaldo Barcellos, empresário.
Empresa: Gênesis Importação Express. Importa produtos eletrônicos da China.
Idade: 70 anos.
Casado com Maria de Fátima Silva BarcellosMãe:
Maria de Fátima Silva Barcellos
Socialite do Rio de Janeiro
Idade: 62 anosIrmãos: nenhum. É filho único.
Motivo da inscrição: ajudar os mais necessitados e se encontrar interiormente.
Obs.: Recebeu juntamente com os funcionários da empresa Harmonia Design & Interiores o prêmio “Melhor Arquitetura & Design Brasil 2016” com sua chefa sendo homenageada como a melhor arquiteta. Largou tudo e veio trabalhar como voluntário da ONG.Olho para a foto anexada à ficha e tento entender o que este homem quer obter ao se inscrever como filantropo em nossa instituição. Ele é um homem de quem devo permanecer distante, pois me atrai demais. Depois da leitura e reflexão sobre o novo voluntário, encaminho-me para minha cama a fim de dormir, pois estou muito cansada e amanhã o dia será bastante intenso.
Acordo ouvindo um barulho excessivo de vozes, o que não é normal em nosso acampamento, a não ser que mais refugiados estejam chegando. Levanto-me imediatamente, fazendo minha higiene pessoal e trocando de roupa rapidamente. Quando saio da minha barraca, vejo uma maior concentração onde nossas crianças ficam internadas e corro para lá.
– O que está acontecendo? - pergunto ao enfermeiro de plantão.
– A criança que chegou ontem não resistiu. Teve uma convulsão e conseguimos estabilizá-la, porém duas horas depois teve uma parada cardíaca súbita e faleceu.
– Por que não me chamaram?
– Não havia muito que fazer Dra. Umay. A senhora precisava descansar do dia de ontem.
– Obrigada, Dr. Dimitri! Vá descansar que assumo daqui. Já chamaram o pessoal da funerária?
– Sim. Eles já estão trabalhando nos trâmites.
Assim que tudo se resolveu, fui tomar meu café. Sempre escutei falar que com o tempo acostumamos com a morte dos pacientes, mas eu não conseguia me conformar principalmente pela causa da morte ser o egoísmo humano mascarado pela religião.
O veículo que trazia documentos e transportava os voluntários uma vez na semana, chegava por volta das dezesseis horas. Era muita gente machucada para atender, cadastros de cada uma delas para preencher, a fim de comparar com as fichas dos outros acampamentos para que pudéssemos encontrar suas famílias e parentes. Pois, grande era a quantidade de pessoas que se perdiam dos familiares. Com tanta coisa para fazer só percebi que já era hora do transporte chegar, quando ele estacionou.
Henrique era um moreno muito mais lindo visto pessoalmente; aquela foto enviada não fazia jus à sua beleza. As duas coisas que mais me chamaram atenção foram as suas mãos e sua boca carnuda. Eu teria mesmo que me controlar, pois apesar de sempre me portar com seriedade, sentia falta de alguém ao meu lado. Recuperei-me do choque ao vê-lo e fui fazer meu papel de anfitriã. Percebi ainda, que ele parecia carregar um enorme peso sobre seus ombros. Combinação perigosa: atração com compaixão.
– Boa tarde, Sr. Henrique Barcellos! Meu nome é Umay Ötztürk, mas pode me chamar apenas de Umay. Sou a enfermeira responsável por esse acampamento. Seja bem-vindo!
– Boa tarde, Dra. Umay! Obrigado! Se possível gostaria de me acomodar e conhecer as instalações do acampamento.
– Claro! - esse tempo me daria para recuperar de ter ouvido essa voz grave - Por favor, me acompanhe. O senhor irá dividir a barraca com o Dr. Dimitri, ele é cardiologista e nos presta um grande serviço. Acredito que se darão muito bem, apenas terá que se acostumar com suas saídas repentinas por conta das emergências.
– Certo. E por favor, pode me chamar apenas de Henrique.
Levei-o para sua barraca e depois de informar onde eu me encontraria, deixei-o para se trocar e lavar. Fazia muito tempo em que um homem não mexia tanto com minha imaginação feminina, mas eu já tinha aprendido ter domínio sobre meu corpo.
Quando nos encontramos novamente, ele estava vestido com uma calça jeans escura e uma camiseta de manga comprida verde delineando seu corpo escultural. Hora de focar na missão: mostrar o acampamento a ele. E assim fizemos durante quase duas horas. Ao final, pedi licença para me arrumar e trocar para o jantar. Avisei-o que viria lhe buscar, a fim de irmos juntos ao refeitório; Dimitri descansava, uma vez que precisou ser chamado mais uma vez durante o dia.
Já estávamos sentados comendo, quando resolvi indagar o motivo de sua vinda para a ONG:
– Henrique, eu recebi da nossa sede a sua ficha e estou intrigada com você.
Ele deu um lindo sorriso, mas que não alcançava seus olhos e fez a pergunta óbvia para aquela situação:
– Por que intrigada, Dra. Umay?
– Por favor, apenas Umay; pois não sou médica, apenas a enfermeira chefe, responsável pelo acampamento por voto de confiança.
– Tudo bem, Umay. Agora mate minha curiosidade.
– Você é um homem jovem, formado em Arquitetura e Enfermagem, mas apenas exerceu a função de arquiteto, filho de pais ricos e badalados, solteiro e sem filhos. Recebeu no ano passado um prêmio importantíssimo em seu país pelo seu excelente trabalho. Por que quis se voluntariar em nossa instituição?
– Questiona todos os voluntários que chegam ao acampamento?
– Sim. Tenho por hábito conhecer a cada um para que possamos trabalhar em perfeita harmonia. - percebi que ao terminar de falar, seu olhar entristeceu ainda mais.
– Minha vida não é tão perfeita quanto aparenta e gostaria de mudá-la totalmente. Quero poder ajudar as pessoas que nesse instante se encontram pior do que eu e entender algumas coisas que para mim ainda não fazem sentido.
– Certo. Espero poder conquistar sua confiança e poder ajudá-lo, Henrique. Por hora vamos nos recolher, pois amanhã ainda teremos muito trabalho pela frente.
E assim passamos todo o mês trabalhando, em nenhum momento ele permitiu que eu me aproximasse para ajudar com o que quer que tenha lhe trazido aqui.
Em Henrique temos a prova de que dinheiro e status nunca trouxe felicidade a ninguém. São pessoas que têm problemas e dificuldades tanto quanto nós ou talvez até mais...
Abraços,
Paula Mesquita
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Chances & Escolhas - DEGUSTAÇÃO
Romance"Você não pode cometer o mesmo erro duas vezes, porque a segunda vez não é um erro: é uma escolha". (Autor Desconhecido) Cinco pessoas... Cinco destinos... Cinco chances... Cinco escolhas... Cinco consequências... Pessoas vão entrar e sair das nossa...