Capítulo 2 - Surgindo uma Grande Amizade

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O que irá rolar ente Umay e Henrique?

Henrique

Tudo que eu queria era paz para poder me encontrar e entender o motivo da minha missão em vida, mas quando me deparei com aquela linda mulher, eu travei na base. De pele branca, cabelos longos castanho-escuros e olhos da mesma cor, sobrancelhas grossas e bem feitas, nariz afilado, dentes perfeitos e lábios finos; assim era Umay. Seu sorriso era lindo demais! Eu precisava focar no meu objetivo ou colocaria tudo a perder.

Quando ela quis conversar sobre minha vida, eu não tive a intenção de ser indelicado, mas me abrir com a mulher que tinha mexido com meu desejo era no mínimo imprudente. Por isso, optei por dar uma definição sem me aprofundar; porém com o passar do tempo, fui criando um sentimento de amizade em relação a ela.

Estava acostumado a ter mulheres em minha vida sem nenhuma conotação sexual e Umay estava entrando para esse time. Ela lembrava minha irmã mais nova, Manuela, sempre focada em ajudar o próximo, amorosa, carinhosa, meiga e muito inteligente.

Eu já estava na base há três meses quando resolvi me abrir com ela. Já tinha decidido a minha vida e ali eu precisava ter uma amizade. Sentia falta das minhas irmãs e por mais que falasse com elas semanalmente, não era a mesma coisa que olhar para elas e abraçá-las. Fora que sentia também saudades das conversas e brincadeiras com meus irmãos.  Escolhi um dia que estava calmo e tranquilo para contar à Umay o verdadeiro motivo da minha ida para a Ángeles Sin Límites.

– Tem um tempo para mim, Umay?

– Claro Henrique, entra. Em que posso lhe ajudar?

– Lembra-se da sua primeira pergunta para mim assim que cheguei à base?

– Sim.  O que tem?

– Quero conversar sobre ela. Está muito ocupada?

– Não. Apenas fazendo alguns relatórios, mas nada que não possa esperar um pouco. Conte-me tudo e sem me esconder nada! - falou sorrindo.

Dei um suspiro longo e profundo. Encarar fantasmas nem sempre é fácil, mas o melhor que fazemos.

– Percebi no dia em que lhe pedi para ligar para meus irmãos, você não entendeu, uma vez que leu na minha ficha que sou filho único. Vou começar a história pelo começo.

– Estarei te ouvindo, Henrique. Sem te julgar. Fique tranquilo.

– Então... Sou filho único e fui criado com muito amor e disciplina rigorosa. Éramos uma família feliz e eu amava meus pais. Os melhores dias para mim eram os finais de semana, pois saíamos para passear mesmo que não tivéssemos dinheiro. Meu pai sempre falava que dinheiro não trazia felicidade e por isso, quando ele não podia nos levar a algum lugar que teria que gastar mais do que podíamos, minha mãe fazia um lanche em casa para levarmos e fazíamos piquenique em parques locais.

Colocar para fora todo meu passado me fazia saudosista, pois essa foi a melhor época da minha vida.

– Tudo mudou quando eu estava com doze anos. O dono da empresa que meu pai trabalhava, Gênesis Importação Express, faleceu e como não tinha nenhum filho ou parente vivo deixou a empresa, toda sua fortuna e seus bens para ele. Durante o tempo que foi seu funcionário nasceu uma grande amizade entre os dois. Um confiava a sua vida ao outro. Por tudo que aprendi com meu pai, não achava que haveria grandes mudanças em nossa vida.

– O dinheiro às vezes não vem bem acompanhado, não é?

– Não mesmo! Como eu gostaria que meu pai não tivesse herdado aquela empresa e tudo que veio com ela. Tudo que ele sempre condenou, passou a fazer. Ele e minha mãe viraram fúteis e viviam saindo em jantares, festas e viagens. Eu fui ficando cada vez mais de lado; para compensar, eles viviam trazendo presentes dos estados e países que visitavam. Nessa época, minha mãe convidou a melhor amiga da época em que éramos uma família assalariada, dona Terezinha, a fim de trabalhar em nossa casa para que eu não ficasse sozinho. Porém, essa amizade se desfez também, virando apenas um relacionamento de patroa e empregada.

– Estou abismada, Henrique! Ela maltratava a melhor amiga?

– Não! Mas não conversavam mais como antigamente, pois os salões de beleza, compras e outras futilidades tomaram o meu lugar e o da dona Terezinha. Foi ela que acabou de me ensinar sobre a vida, pois meus pais não estavam mais lá. Quando eu fiz dezoito anos ganhei de presente um carro e um apartamento como premiação por ter passado na faculdade de arquitetura.

– Filhos não deviam receber presentes por algo que é sua obrigação.

– Tentavam me compensar pela ausência deles. Dona Terezinha tinha uma sobrinha chamada Sinara, que era cinco anos mais velha do que eu e vivia mais lá em casa do que na dela. Quando eu estava com dezesseis anos, ela dormiu lá em casa e fez uma visita ao meu quarto. Naquele dia, eu perdi a virgindade e passamos a ficar juntos sempre, sem qualquer compromisso. Nessa época, eu já não queria me ligar afetivamente com ninguém para que não perdesse depois.

– Vocês homens sempre machistas não é, senhor Henrique?

Dei uma risada com seu tom irônico. Umay me deixou desconcertado, pois era um assunto bem constrangedor, mas continuei a narração.

– Sinara vire e mexe dormia no meu quarto uma vez que meus pais nunca estavam, apesar da dona Terezinha brigar todas às vezes dizendo que não era correto. Dois anos depois, eles resolveram voltar antes do tempo e minha mãe descobriu exatamente num desses dias que ela dormia comigo. Justamente naquela noite, minha mãe decidiu ver seu filho dormindo. Resultado: pegou Sinara na minha cama e foi aquela confusão, acabando de vez com sua amizade com dona Terezinha e dando as costas para ela demitindo-a.

– Apesar de errado, não era motivo para sua mãe despedi-la. - falo indignada, pois detesto injustiça.

– Essa era minha nova mãe, Umay. Meu pai pagava a faculdade, eu arrumei um emprego, mudei de vez para meu apartamento e contratei dona Terezinha para me ajudar, pois não sabia cuidar direito de uma casa. Fui crescendo na empresa onde entrei como estagiário, chegando a Arquiteto Sênior. Dona Terezinha se feriu em um acidente, e determinei que eu faria um curso de Técnico em Enfermagem para poder cuidar de quem precisasse, mas nunca contei para ninguém até o momento que preenchi a ficha de inscrição da ONG.

– Foi um lindo gesto, Henrique. Mostra o quanto você se preocupa com o ser humano.

– Apenas retribuí o mesmo carinho que recebi dela e de sua família. Ajudei-a com a faculdade de seus filhos e foi neles que encontrei o amor de uma família; por isso sempre os apresentei como pais e irmãos. Nunca quis me relacionar mais afetivamente com ninguém. Eu não queria aquela vida que via em meus pais.

– Você sabe que nem todos são iguais, não sabe?

– Sei Umay. Mas eles não eram daquele jeito e mudaram da água para o vinho.

– As pessoas não mudam radicalmente dessa maneira Henrique, apenas nunca tiveram espaço para mostrar quem eram verdadeiramente.

– Mas ele falava tanto sobre os problemas que o dinheiro trazia para muitas pessoas...

– Às vezes Henrique, falamos exatamente do que mais tememos. Se você quer alguém para compartilhar sua vida, vai precisar entender que nem todos são iguais e existem ainda muitas pessoas boas por aí.

– Sobre isso será em outro dia.

– Tudo bem! Sempre ao seu tempo. Que tal jantarmos e irmos dormir?

E naquele clima descontraído que ela sempre trazia, meu dia terminou leve e pela primeira vez em anos, sem precisar estar com uma mulher no âmbito sexual.

Quantas vezes passamos por essa situação?
Pessoas que tínhamos uma opinião e, de repente, mudam da água para o vinho?
Ninguém consegue viver de máscaras por muito tempo, e às vezes, o que elas precisam é de um motivo.
No caso dos pais de Henrique foi a herança recebida.

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Que nossa semana seja abençoada!

Abraços,

Paula Mesquita

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